- Rede retira do ar texto de Patrick Cockburn, que aponta responsabilidade dos EUA na origem da onda de refugiados que chega à Europa.
- Acionado, Facebook silencia
por Antonio Martins - Sociedade e Censura nas Redes Sociais
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Estampado em 18/set como manchete, em nosso site, o texto teve seu título, subtítulo e imagens publicados no Facebook à tarde. Foi compartilhado e curtido por algumas centenas de pessoas, e alcançou algumas dezenas de milhares. Porém, pela madrugada, foi excluído sumariamente e sem aviso prévio - todas as pessoas que compartilharam também tiveram o texto excluído. Como “aviso”, a rede registrou, de modo lacônico: “Esta mensagem contém conteúdo que foi bloqueado pelos nossos sistemas de segurança”. Nossa contestação à censura, enviada por volta das 10h, não recebeu resposta até o momento. Diversas tentativas de repostar o conteúdo foram igualmente bloqueadas, com idêntico aviso.
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O declínio da democracia nas nações ocidentais que por séculos juraram defendê-la é uma ameaça crescente e assustador. Outras Palavras tem tratado do tema com insistência. Procuramos demonstrar que a ameaça já não se expressa apenas no sequestro da política por uma elite (a “casta”, diriam os espanhóis) que evita a qualquer custo o debate dos temas cruciais para a definição do futuro coletivo. Manifesta-se também em ataques mais diretos às próprias liberdades civis: perseguição de dissidentes, vigilância, violação constante da privacidade na brutalidade das polícias contra os que divergem. A censura praticada costumeiramente pelo Facebook é parte deste retrocesso. Mas ela parecia ter, até o momento, um caráter mais sutil.
Por um lado, era “justificada” pelo suposta opção de não ferir sensibilidades dos leitores. Corpos nus, por exemplo, são banidos – mesmo quando retratam povos que optam por não se vestir ou estão presentes em obras de arte com as quais a própria Inquisição era mais tolerante... Por outro lado, o Facebook parece optar, na maior parte do tempo, por um controle mais difuso e pervasivo. Ao invés de excluir, escolhe os conteúdos que chegarão a seus leitores. Afirma fazê-lo por meio de algoritmos “neutros”, mas se recusa a revelar que critérios orientam tais instruções – evidentemente construídas por seres humanos. Outras Palavras tem publicado, aliás, textos (1 e 2) que apontam os gravíssimos riscos de manipulação política presentes nesta prática.
Se a esta forma mais dissimulada de manipulação veio somar-se, agora, a censura política primária, é porque podemos estar diante de algo grave. Como diz John Pilger - um autor que nos orgulhamos de traduzir e publicar –; e como mostram, por exemplo, o encarceramento de Chelsea Manning e a perseguição a Julian Assange e Edward Snowden, podemos estar à beira de algo como “um 1984 high-tech”.
Outras Palavras continuará usando o Facebook. Vê as redes sociais como bens comum da humanidade, por reunirem conhecimento, diálogo e experiência imensamente superiores às pretensões de seus “proprietários”. Mas atitudes como a censura de hoje levam a lançar ao menos duas perguntas. Não é hora de incluir em nossas agendas políticas a democratização das redes sociais? Enquanto este objetivo permanecer distante, não será preciso multiplicar esforços para a criação de alternativas aos gigantes que ameaçam controlar a internet?
1.
Patrick Cockburn foi considerado melhor jornalista no Oriente Médio
pela British Journalism Awards e melhor repórter do ano pela The Press
Awards em 2015.
http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/censura-politica-no-facebook-554.html
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