"Estamos
entregando áreas estratégicas para investidores estrangeiros e, muitas vezes,
estatais em seus países. Quando se privatiza, fala que o Estado é ruim, não
funciona, ai vende a Petrobras para estatais chinesas e europeias. São estatais
assim como a Petrobras."
por redação
Rede Brasil Atual – Sociedade e Prejuízos Causados pelo Golpe 2016
arquivo/ebc
Alta nos combustíveis provocou
revolta e mobilização de caminhoneiros
Existe o
interesse dos acionistas que querem maximizar os lucros para que fiquem mais
ricos e existe o interesse nacional. Para o economista Guilherme
Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a política
adotada pela gestão de Pedro Parente, presidente da Petrobras, sob comando de
Michel Temer (MDB) trilha pela primeira opção, com enorme prejuízo a nação.
O aumento expressivo dos
combustíveis em curto espaço de tempo desencadeou protestos de
caminhoneiros, que começa a desencadear uma crise no abastecimento do
país. O protesto entra no quarto dia nesta quinta-feira (24/maio)
e, segundo avalia o economista, com a solução negociada o país aos poucos irá
restabelecendo a normalidade.
Para o
economista é essencial que o governo mude a política de precificação dos
combustíveis para acabar com a crise. "É importante dar estabilidade para
esse insumo que é fundamental. No Brasil, os combustíveis abastecem toda a
frota que leva cargas, já que temos basicamente caminhões (...) Essa política
só beneficia acionistas e o mercado financeiro", disse à Rádio
Brasil Atual em São Paulo.
O
processo de privatização da Petrobras é um dos fatores, de acordo com Mello,
para essa política adotada pelo governo. "Em
um processo de privatização – essa é a verdade, a Petrobras está sendo vendida
e o governo não tem coragem de fazer isso de uma vez, porque as pessoas sabem
que ela é um ativo valioso – essa política atual de valorização é maravilhosa.
Você sobe as ações da empresa porque aumentam os lucros e então você vende
ela."
"Do ponto de vista do
interesse nacional, é preciso reverter essa lógica privatista. Tanto na
política de preços quanto na venda. Estão vendendo poços do pré-sal em um
momento em que o petróleo está valorizando Estamos entregando riquezas para o
interesse estrangeiro", continuou o economista.
Uma
solução é difícil a curto prazo se a condução da estatal seguir dessa maneira,
mas existem mecanismos. "Temos a
empresa que produz petróleo. Não digo para segurar o preço para sempre, mas
temos a condição de manter a estabilidade em momentos de forte volatilidade.
Assim como o dólar sobe, ele cai. Assim como o preço do barril de petróleo
sobe, depois ele cai. É possível, por algum período, ajustar muito mais
lentamente para dar estabilidade e acomodar os setores."
A redução
do imposto da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), como foi
proposto pelo governo Temer, possui pouca eficácia, de acordo com Mello.
"Outras medidas de cunho tributário podem ser pensadas, mas elas são
limitadas. Um dos maiores pesos tributários sobre combustíveis é o ICMS, que é
de nível estadual. É muito mais difícil reduzir ele do que a Cide que é pouco
relevante. Tirar a Cide impacta pouco na bomba e discutir o ICMS impacta no
pacto federativo e no caixa dos estados, já abalado", explica.
Futuro sombrio para o país
Para o
economista, o próximo pesadelo que o país pode enfrentar tem relação com a
Eletrobras, que está em vias de ser privatizada. "Se privatizar, a
volatilidade de preços vai aumentar. A lógica de precificação do agente privado
não calcula o que é melhor para o país, mas o que é melhor para eles mesmo. No
caso da Eletrobras, você vai privatizar o fluxo dos nossos fios. Se for
privatizado, abriremos mão do controle de diversas áreas."
"Boa
parte da nossa energia é feita através de hidrelétricas. A gestão do regime de águas
tem que ficar na mão do poder público. Podemos ter secas mais prolongadas e
isso não pode seguir uma lógica puramente privada. Podem falar de agências
reguladoras, mas é clássico elas serem capturadas pelo regime privado. Estamos
abrindo mão do petróleo e da água, dois insumos essenciais", disse.
Outro
detalhe assombroso é o fato de os defensores da lógica privatista afirmarem que
o mercado se regula de forma mais eficiente. "Estamos entregando áreas
estratégicas para investidores estrangeiros e, muitas vezes, estatais em seus
países. Quando você privatiza, fala que o Estado é ruim, não funciona, ai você
vende a Petrobras para estatais chinesas e europeias. São estatais assim como a
Petrobras."
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/05/para-reduzir-preco-dos-combustiveis-petrobras-precisa-abandonar-logica-privatista