Não vale
a pena aderir acriticamente ao movimento, apoiando antecipadamente candidatos
que falsamente se apresentam como “de centro” para um futuro longínquo, isto é
2022
publicado
por Gilberto Maringoni – Sociedade e Luta Popular Contra Golpe 2016
Após receber a faixa, o presidente Bolsonaro nomeou sua equipe de
ministros
Foto: Reprodução/RecordTV
Foto: Reprodução/RecordTV
AO
CONTRÁRIO DO QUE PREGAM alarmistas irresponsáveis, não há sinais de que
estejamos na iminência de uma ditadura fardada. Temos mais militares no
Planalto, mas até agora inexistem indicações objetivas de que este seja um
governo militar, o que ensejaria uma doutrina unificada por parte de seus
patrocinadores e um poder garantido pelas baionetas, com amordaçamento do
Congresso e do Judiciário.
Temos um
“novo normal”, com “as instituições funcionando normalmente”. Há um evidente
avanço autoritário forçando os limites da institucionalidade, mas atuando
dentro dela. A diferença é grande.
ACONTECEU
UMA REFORMA MINISTERIAL que não ousa dizer o nome. Ricardo Salles perdeu sua
principal área de atuação – a Amazônia – para Mourão, o general Braga Netto foi
para a Casa Civil e tornou Onyx Lorenzoni pouco menos que figura decorativa.
Quem exerce no ministério do Desenvolvimento Regional a nobre função “é dando
que se recebe” – anteriormente na Casa Civil – com governadores, prefeitos e
deputados é o competente Rogério Marinho. De quebra, Felipe Martins, o aloprado
assessor de Relações Internacionais da presidência foi rebaixado a abajur do
palácio. Na prática, representam demissões brancas de porcas e parafusos
espanados.
PAULO
GUEDES ESTÁ DESACREDITADO. Imolou-se na própria língua e não apresenta
resultados significativos na gestão econômica. Investimentos recuam e a
indústria perde espaço. Pode não acontecer nada de prático – como sua queda -,
mas o governo começa a mostrar sinais defensivos.
Todas as
mudanças têm um objetivo: manter o desmonte do Estado, operado em duas vias: 1.
Pelo alto, através das privatizações e do sucateamento de ativos e serviços e
2. Pela quebra do monopólio da violência, através da expansão das milícias, que
representam a privatização da segurança e da concessão de direitos de
cidadania. A balbúrdia gerada pelo obscuro justiçamento de Adriano Nóbrega é
sinal disso.
AO MESMO
TEMPO, há uma notável melhora nas condições de luta política na sociedade,
perceptível nos últimos dias.
As
grosserias de Bolsonaro contra a jornalista Patrícia Campos Mello tocaram fundo
uma camada da população até aqui indiferente ao seu governo. Trata-se do andar
de cima, dos liberais confortados, de setores empresariais e da mídia
corporativa. Pouco importa, para a disputa política, se Folha de S. Paulo,
Globo ou Estadão são hipócritas em sua amnésia seletiva. Claro que apoiaram
direta ou indiretamente o avanço do fascismo, desde que salvaguardados os
sacrossantos interesses do mercado. Devem ser cobrados por isso. Mas neste
momento – e apenas neste – somam-se à crescente onda antifascista que ganha
espaços no país.
Não se
sabe ainda como tais eventos tocam a base da sociedade. No entanto as filas do
INSS e do bolsa família podem fazer estragos no apoio popular ao governo, se a
oposição conseguir pautar ações de denúncia e solidariedade ativa a tais
setores.
POR FIM E
NÃO MENOS IMPORTANTE, os petroleiros tiveram duas vitórias momentâneas na
segunda (17): a readmissão dos demitidos e a reabertura de negociações com Ives
Gandra, no TST. A greve está em sua terceira semana e mantém força. Foi
quebrado o dique de silêncio midiático, embora a cobertura esteja longe de ser
decente. São avanços expressivos!
Mais do
que nunca estão dadas as condições para a formação de uma grande frente contra
o fascismo. Não se trata de movimento unitário. Os de cima aumentam a oposição
a Bolsonaro, mas buscam garantir a continuidade do desmonte do Estado e das
privatizações, como já falado. Frente, como se sabe, não é partido. Frente é
uma coleção de forças em movimentos “desiguais e combinados”, numa balbúrdia
com alguns objetivos comuns. Frentes não costumam ter atas, contratos lavrados
em cartório ou estatutos muito definidos. Vide nossa grande frente democrática
nos anos finais da ditadura.
Não vale
a pena aderir acriticamente ao movimento, apoiando antecipadamente candidatos
que falsamente se apresentam como “de centro” para um futuro longínquo, isto é
2022.
Apoiar
uma grande frente, do ponto de vista da esquerda, significa somar-se a ela e
disputar seu caráter antineoliberal e sua direção principal.
Pessimismo
da razão e muito otimismo da vontade nessa hora. O governo Bolsonaro segue
forte, mas trincas aparecem por todos os lados. Eles podem muito, mas não podem
tudo.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-condicoes-de-luta-surpresa-melhoraram-por-gilberto-maringoni/