"É difícil acreditar que o Brasil vai recriar as circunstâncias necessárias para exercer um papel proeminente na arena internacional antes de ter um novo presidente em 2019"
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Artigo diz que Rio de Janeiro é onde está
nascendo à tragédia brasileira
por Ramon Blanco para
Jornal
do Brasil
- Sociedade e Influências do Brasil na Globalização
Artigo do professor e pesquisador
Ramon Blanco publicado pela Al
Jazeera nesta terça-feira (21/fev/2017) analisa cenário político e
econômico do Brasil no mundo.
Blanco aponta que em mundo inevitavelmente
multilateral como, as potências regionais devem ter a sua quota de
responsabilidades para construir caminhos mais plurais a fim de construir um
ambiente político internacional mais justo e mais pacífico.
Portanto, diz ele, espera-se que o
Brasil tenha um papel significativo na política internacional. No entanto, a
crise que o país atravessa estruturalmente a impede de cumprir essa
expectativa.
"O Brasil está derretendo,
tentando ser suave".
Uma imagem eufemística é a de que o
país está acordando depois de uma festa enorme, com uma ressaca terrível, e
agora tem que enfrentar uma realidade muito difícil, descreve Ramon em seu
texto para Al Jazeera.
De fato, olhando para o Rio de
Janeiro, que foi o anfitrião dos Jogos Olímpicos, a metáfora é de fato
realidade. Sem surpresas, o Rio é o epítome da tragédia brasileira. Até
recentemente, tanto o Brasil como o Rio estavam no centro das atenções da cena
internacional, recebendo investimentos e elogios.
"É difícil acreditar que o Brasil
vai recriar as circunstâncias necessárias para exercer um papel proeminente na
arena internacional antes de ter um novo presidente em 2019", diz Ramon Blanco
para Al Jazeera
No entanto, transformar esta situação
promissora em uma realidade sustentável foi simplesmente impossível quando a
verdadeiro festa que o país estava desfrutando terminou. O Brasil estava
desfrutando de um boom em suas exportações de commodities, graças à alta
demanda na China. Assim que a demanda chinesa diminuiu, o impacto foi
rapidamente sentido.
'Estado de calamidade'
A situação no Rio é trágica. Uma vez
que a economia do estado é altamente dependente das vendas de petróleo, a diminuição
dos preços do barril caíram no mundo e o escândalo de corrupção na Petrobras
piorou a situação.
A crise do petróleo mundial e
especialmente a do Brasil acabaram por afetar várias áreas - que vão desde a
luta do Estado para pagar os salários e as pensões de seus funcionários
públicos, até seus setores de saúde e segurança, que está em ruínas.
Não é por acaso que o governador em
exercício do Rio, declarou estado de calamidade em junho de 2016. Na esfera
política, a situação não é melhor. Em novembro passado, por exemplo, Rio
observou dois de seus principais políticos, Sergio Cabral e Anthony Garotinho,
ambos ex-governadores, sendo presos.
Esse é definitivamente um microcosmo
da crise no Brasil. O país está em uma extrema recessão econômica. Durante o boom
das commodities, o Brasil perdeu a oportunidade de fazer modificações
estruturais em sua economia e tornar-se menos dependente da flutuação de preços
das commodities mas não o fez, afirma Ramon Blanco.
Inversamente, o país experimentou,
por exemplo, a deterioração de seu setor manufatureiro. Agora, luta para
produzir um crescimento econômico sustentável e gerar empregos suficientes, o
que, conseqüentemente, enfatiza seu déficit público. Nesta situação, após
o Rio de Janeiro, dois outros estados da federação também declararam um estado
de calamidade financeira pública - Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Portanto, três das quatro maiores
economias do Brasil estão inequivocamente quebradas. Mesmo o Espirito Santo, um
estado muitas vezes elogiado como um exemplo financeiro, está sob uma crise de
segurança significativa, devido a uma greve dos policiais exigindo melhores
salários. As consequências da greve reivindicaram pelo menos 144 vidas.
Turbulência política
No entanto, uma dimensão fundamental
da crise brasileira é a esfera política, que está em grave turbulência.
Nos últimos meses, por exemplo, o
país testemunhou o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a prisão do
ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Além disso, a maior investigação de
corrupção do Brasil, conhecida como Operação Lava Jato, está o maior partido do
país e abalando profundamente todo o establishment político.
No topo de tudo isso, mais uma vez o
Brasil está sob uma reestruturação neoliberal para superar a crise, que é o
equivalente a avançar quando chegar à borda de um penhasco.
Um país que já foi capaz de
prosseguir uma política externa muito pró-ativa agora é incapaz de lidar
eficazmente com crises urgentes, como a da Venezuela ou do
Haiti. Conseqüentemente, com seus principais pilares colapsados, é
ilusório esperar que o Brasil tenha uma grande influência na cena internacional,
avalia Ramon para Al Jazerra.
De fato, há bastante tempo pode-se
observar exatamente o oposto, ou seja, o recuo das ambições globais do
Brasil. Isso é claramente perceptível simplesmente observando a estrutura
financeira de sua diplomacia. Por exemplo, o país vem diminuído o orçamento
atribuído ao seu Ministério dos Negócios Estrangeiros. Assim, o Brasil não
está apenas recrutando menos diplomatas, mas também discutindo o fechamento de
várias embaixadas e consulados em todo o mundo, principalmente na África e no
Caribe, informa Ramon.
A recente emenda constitucional, que
limita o teto dos gastos públicos por duas décadas, sem dúvida garante que essa
tendência não é efêmera, destaca professor. Mais importante ainda, deve-se
notar que um dos pilares fundamentais da diplomacia brasileira é o seu
presidente. Portanto, qualquer turbulência no gabinete do presidente - ou
simplesmente de alguém que simplesmente não tem nenhuma inclinação para buscar
uma política internacional proativa, como a ex-presidente Rousseff - afeta
diretamente o posicionamento do Brasil no mundo.
Portanto, não é difícil entender que
um presidente que toma posse através de um processo de impeachment - como o
Presidente Michel Temer - está longe de estar em uma posição sólida para
realizar diplomacia presidencial com uma perspectiva global. Pelo contrário, a
necessidade constante de simplesmente gerenciar sua posição política no país -
como conseqüência de um processo de impeachment muito contestado e polarizador
- apreende muito mais de sua atenção e preocupações do que qualquer aspiração
internacional.
Esta situação suprime estruturalmente
a capacidade do Brasil de perseguir um objetivo político mais relevante em suas
relações internacionais. Consequentemente, um país que já foi capaz de seguir uma
política externa muito pró-ativa - Junto com a Turquia, um acordo nuclear com o
Irã ou a promoção de um mundo policêntrico com os países do BRICS, envolvidos
na concepção de uma arquitetura financeira internacional alternativa com a
criação do Novo Banco de Desenvolvimento - não consegue lidar eficazmente com
crises urgentes em seu continente, como a da Venezuela ou do Haiti.
É difícil acreditar que o Brasil vai
recriar as circunstâncias necessárias para exercer um papel proeminente na
arena internacional antes de ter um novo presidente em 2019. Somente alguém
assumindo o cargo presidencial diretamente através do voto popular pode
possivelmente aliviar as tensões políticas em Brasília, trazer alguma
previsibilidade para a economia e, por sua vez, definir as condições para
projetar a influência internacional do Brasil, conclui Ramon Blanco.
"Até então, infelizmente para
todo o mundo, o Brasil simplesmente permanecerá à deriva nas águas turbulentas
que não estão no horizonte da política internacional", finaliza Ramon
Blanco para Al Jazeera.
*Ramon Blanco é pesquisador e
professor de relações internacionais na Universidade Federal da Integração
Latino-Americana (Brasil).
http://jbonline.terra.com.br/pais/noticias/2017/02/22/al-jazeera-no-brasil-a-festa-acabou-e-ressaca-chegou/