Em debate
realizado no Rio de Janeiro, analistas da área de engenharia e petróleo mostram
que governo Temer e gestão de Pedro Parente nada mais fizeram do que
implementar políticas de alto interesse de Washington
por redação
Rede Brasil Atual – Sociedade e Política do Petróleo pelo Golpe 2016
Divulgação
Petrobras/AgênciaBrasil
Temer
assumiu agenda das multinacionais do petróleo e ativos da Petrobras começaram a
mudar de mãos
A construção, pela mídia, do mito da Petrobras financeiramente quebrada, as
consequências do alinhamento da estatal aos interesses do mercado e,
principalmente, dos Estados Unidos, e a greve dos caminhoneiros foram alguns
dos temas debatidos no seminário "O mito da Petrobras quebrada, política
de preços e suas consequências para o Brasil" na noite desta terça-feira.
Promovido
pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e o Clube de
Engenharia do Rio de Janeiro, o evento teve a participação do economista
aposentado da estatal Cláudio Oliveira, do presidente da Aepet, Felipe
Coutinho, e do especialista em Minas e Energia e Engenharia do petróleo Paulo
César Ribeiro Lima.
"A
Petrobras não tem nem nunca teve problema financeiro", enfatizou Oliveira
em sua exposição. Enquanto os saldos de caixa das norte-americanas Chevron e
Exxon, por exemplo, estão caindo (são de 4,81 e 3,20 bilhões de dólares,
respectivamente, em 2017) o da Petrobras, embora também em curva descendente,
estava em 22,52 bilhões de dólares no mesmo ano.
"Eles
dizem que vendem ativos para saldar dívida. Com 22 bilhões de dólares em caixa,
essa é a empresa que eles dizem que está quebrada?", questionou. Para o
economista, dizer que a estatal tem uma dívida impagável serve "só para
justificar a venda de ativos e desmonte da Petrobras".
O
presidente da Aepet, Felipe Coutinho, fez uma exposição dividida entre uma
abordagem econômica e política. O mito de Petrobras quebrada graças a
subsídios, corrupção e maus investimentos, disse, embasou toda a política
desenvolvida a partir da posse de Michel Temer e a politica de preços
que desencadeou a greve dos caminhoneiros. "Os números têm que ser
discutidos fora da mitologia da mídia. As impressões vão construindo o senso
comum com interesses claros contra a Petrobras e antinacionais, coerentes com
os meios de comunicação."
A
política de alinhamento aos preços do mercado internacional viabilizou a
importação por parte de concorrentes, principalmente dos Estados Unidos,
segundo ele. "Ganham os produtores norte-americanos, os importadores, e
perdem os consumidores, a Petrobras, porque perde mercado, a União e os
Estados."
A política
implementada pelo ex-presidente da Petrobras Pedro Parente é baseada no
princípio "The America first", ironizou Coutinho, em alusão ao bordão
utilizado pelo presidente dos EUA Donald Trump, durante sua campanha eleitoral
em 2016, quando prometeu, se eleito, voltar o governo aos interesses de
seu país.
"O
aumento relativo dos preços da Petrobras viabiliza a importação de derivados
por seus concorrentes que ocupam o mercado da estatal, que fica com suas refinarias ociosas."
Segundo
Coutinho, em 2015, o Brasil importou 2,5 milhões de toneladas (Mt) de diesel
dos EUA, o que representou 41% do total e 1,4 bilhão de dólares. Em 2017, a
importação subiu para 8,9 Mt de diesel e US$ 4,5 bilhões. De 2015 a 2017, o
diesel americano quase dobrou sua participação, de 41% para 80,4% do total
importado pelo Brasil.
Paulo
Cesar Ribeiro Lima foi aplaudido ao dizer que "o pré-sal tinha que ser
monopólio". Considerando que o Brasil é rico em petróleo, mão de obra e
tecnologia, "a crise é fabricação de mentes doentias", afirmou.
Segundo
ele, na gestão Parente, o
brasileiro pagou 40% mais caro no preço do diesel do que o consumidor
americano, sem considerar os impostos. "É realmente inacreditável."
"É até possível fazer uma politica de direita bem feita. Mas essa é mal
feita", avaliou. De acordo com ele, a sistemática que permitia aumentos
até diários dos combustíveis é o emblema da política mal feita.
Para
Coutinho, com a solução encontrada pelo governo Temer contra a crise,
subsidiando a diminuição do preço do diesel via impostos regressivos, os
importadores saem diretamente beneficiados. A Petrobras deveria arbitrar preços
justos compatíveis com seus custos, beneficiando o consumidor, defendeu. Com
isso, a estatal recuperaria o mercado perdido e os preços mais baixos
favoreceriam o consumidor, gerando mais caixa à Petrobras.
Em sua
exposição, Felipe Coutinho enumerou uma série de "fatos relevantes"
que, cronologicamente, mostrariam a relação entre o golpe que derrubou Dilma
Rousseff e a política da gestão Parente na Petrobras em benefício dos Estados
Unidos.
Entre
eles, o treinamento de agentes judiciais brasileiros nos EUA, revelado por
documento interno do governo norte-americano e vazado pelo WikiLeaks. Teriam
participado promotores e juízes federais dos 26 estados brasileiros e 50
policiais federais de todo o país.
Esses
fatos se sucederam, segundo ele, da seguinte maneira:
1 –
Anúncio da descoberta do pré-sal, em 2006 (ainda no governo Lula)
2 –
Primeira extração do pré-sal, no campo de Tupi, atual Lula (novembro de 2017)
3 – Roubo
de notebooks e HDs da Petrobras (janeiro de 2008)
4 –
Reativação da Quarta Frota dos EUA (abril de 2008)
5 –
Governo anuncia projeto de regime de partilha do pré-sal (agosto de 2009)
6 – EUA
treinam agentes judiciais brasileiros (outubro de 2009)
7 –
Reunião de executiva da Chevron (Patricia Pradal) no consulado dos EUA
sobre a reversão da Lei da Partilha (dezembro de 2009)
8 –
Protestos de junho de 2013
9 –
Brasil e Petrobras são alvos de espionagem dos EUA (2013)
10 –
Operação Lava Jato e "cooperação internacional" (março de 2014)
11 –
Golpe do impeachment de Dilma Rousseff (maio de 2016)
12 –
Temer assume agenda das multinacionais do petróleo (a partir da maio de 2016)
13 – Nova
política de preços da Petrobras, exportação de petróleo cru, importação de
derivados e ociosidade do refino no Brasil (desde outubro de 2016)
14 –
"Parcerias estratégicas", o novo codinome da privatização dos ativos
da Petrobras (desde 2016)
15 –
Pagamento de US$ 2,95 bilhões aos acionistas da Petrobras nos EUA (janeiro de
2018)
16 –
Pré-sal representa mais de 50% da produção brasileira de petróleo (2018)
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2018/06/mito-da-petrobras-quebrada-alimentou-golpe-e-favoreceu-estados-unidos