No
Paraguai, a explosão da crise em torno do acordo secreto com o governo
Bolsonaro mobilizou a sociedade civil, que agora se lançou contra os
"vendepátrias" que atuavam em Itaipu
por Tereza Cruvinel* no portal Brasil 24/7 – Sociedade e
Privatização Destrutiva do Setor Elétrico no Brasil
(Foto: (Foto: Reuters | Brasil 24/7))
Todo
governo descobre seu “grande negócio”, seja a pretexto de financiar o partido e
o projeto político, seja simplesmente para enriquecer seus membros.
Está
ficando claro que para o governo Bolsonaro, Energia é o grande negócio.
Embora
Jair Bolsonaro tenha descartado a privatização da Eletrobrás na campanha, aí
está o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, confirmando
através do jornal Valor Econômico que o governo já optou pela pulverização das
ações da estatal, de modo que a União deixe de ter o seu controle
acionário.
Só este
já será um grande negócio.
Mas é
pela binancional Itaipu que estão passando, neste momento, as jogadas mais importantes
para os amigos do governo em relação aos negócios com energia.
Há outras
armações em Foz do Iguaçu, além do escândalo que agita o Paraguai, e deveria
estar agitando o Brasil, uma vez que o nome dos Bolsonaro foi usado
ostensivamente pelos operadores do acordo secreto que, após descoberto, quase
levou ao impeachment do presidente Benítez e ainda ameaça seu mandato.
Uma
grande armação é o “engravidamento” do Conselho de Administração da estatal
brasileira por agentes que representam altos interesses do setor privado na
área de energia.
Já no
governo Bolsonaro foram nomeadas duas figuras que todo mundo no mercado sabe
quem são e a quem servem.
Um deles
é Wilson Ferreira Junior, ex-executivo da CPFL e atual presidente da
Eletrobras. Mas, embora presida a estatal, ele foi posto por Michel Temer no
cargo exatamente para comandar a sua privatização. Ele é tido como o ponta de
lança dos interesses privados no setor. Por isso foi mantido no cargo por
Bolsonaro.
O outro é
Luiz Fernando Vianna, ex-presidente da Copel e ex-diretor geral brasileiro na
Itaipu Binacional. Nomeado no início do governo Temer, ele deixou o cargo em
maio do ano passado para aceitar uma proposta milionária do setor privado. Foi
comandar a Delta Energia, uma das maiores comercializadoras do setor, detentora
de um dos maiores fundos de energia do país.
Wilson e
Luiz Fernando são amicíssimos e articularam juntos o ingresso no Conselho da
Itaipu porque entendem do negócio. As nomeações só saíram no governo Bolsonaro,
com o apadrinhamento do Ministro de Minas e Energia.
Para
isso, pesou muito a relação de Viana com o almirante.
Eles
foram colegas na Marinha durante dois anos, antes de Vianna abandonar a
carreira militar para estudar engenharia. Acabaram se reencontrando
recentemente, o almirante como ministro das Minas e Energia, Viana como
executivo de um grande fundo comercializador de energia. Deu liga.
Vianna
falava aos amigos que trabalhava para integrar o Conselho de Itaipu para
"acompanhar" a modernização tecnológica da binacional, um negócio
estimado em US$ 500 milhões de dólares, e também as negociações do Anexo C do
Tratado Binacional de Itaipu. No fundo, este segundo ponto é o que
interessa.
O Anexo C
vence em Fevereiro de 2023 e precisa ser renegociado até lá. Trata-se da fixação
das regras de comercialização da energia de Itaipu no Brasil e no Paraguai nos
anos seguintes. A posição ocupada por eles é estratégica e a crise política no
Paraguai expôs esses interesses de forma evidente.
Figuras
ligadas à família Bolsonaro, como Alexandre Giordano, representante da empresa
Léros e suplente do senador Major Olimpio (PSL), líder do governo no Senado,
tentaram se adiantar e garantir vantagens no acordo firmado para a repartição
de energia no ano que vem. Como a reação paraguaia foi enorme, e ainda ameaça o
presidente Benitez com o impeachment, o acordo secreto gorou.
Mas as
armações para a revisão do Anexo C, que acontecerão durante o mandato de
Bolsonaro, seguem a vapor. Trata-se de uma disputa para ver quem vai controlar
a revenda do excedente de energia dentro do Brasil. Negócio de gente grande.
Teoricamente,
esta energia deveria ser comprada pela Eletrobrás mas a empresa deixará de ser
estatal. Sua privatização é condição preliminar para que a revenda caia em mãos
privadas. Mas muita coisa terá que ser definida antes de fevereiro de
2023.
Qual será
o papel das comercializadoras? O Paraguai tem direito a 50% da energia de
Itaipu é só vem usando em torno de 15% desse total. Hoje, os 35% não utilizados
pelo Paraguai vêm para o Brasil a preço de custo - previsto no anexo C. Quanta
energia virá a partir de 2023, e a quê custo virá? Estas regras assanham o
setor privado. Só para se ter ideia do volume do negócio: A energia total de
Itaipu em 2018 gerou um orçamento de US$ 4,2 bilhões. Como haverá o excedente
de 35% da produção total de energia não utilizada pelo Paraguai, é só fazer a
conta. No mínimo US 1,5 bilhão em jogo.
Tudo
isso, naturalmente, passará pelo Conselho de Administração de Itaipu, onde
foram instalados dois representantes do setor privado, dos grupos interessados
em estabelecer as novas regras, que podem ter como subproduto o encarecimento
da energia consumida pelos brasileiros.
No Paraguai, a explosão da crise
em torno do acordo secreto mobilizou a sociedade civil, que agora se lançou
contra os "vendepátrias" que atuavam em Itaipu.
E aqui,
eles continuarão em posições de mando, com a bênção do governo e sob os olhos
fechados da sociedade?
Prestemos
mais atenção aos negócios com energia.
https://www.brasil247.com/blog/outra-armacao-em-itaipu