DOM ORVANDIL - sociedade e movimentos sociais
Outro documento que repercutiu me toca de perto. Trata-se de um grupo
de teólogos e intelectuais orgânicos católicos romanos e evangélicos,
profundamente envolvidos com o movimento social, escreveu uma carta e a
entregou pessoalmente à Presidenta Dilma. Leonardo Boff, um dos
importantes integrantes do grupo que, aliás, também integrou o primeiro
que mencionei abaixo, disse que a Presidenta os recebeu bem, com alegria e
demonstrativa de vontade de dialogar com a sociedade, com as bases e
com os movimentos organizados. O mesmo Boff conta que não foram à
Presidenta pedir nada para o grupo nem para as pessoas e projetos de
nenhum delas. É verdade. Esses pensadores cristãos se diferenciam de
outros que amam a aproximação das autoridades porque têm enorme
interesse em dinheiro e em canais de rádio e de televisão. Esses gostam
de pedir para eles mesmos, sempre alegando que o fazem em nome de Jesus.
Claro, um Jesus que eles inventaram que odeia homossexuais, casamentos
homoafetivos, pobres e comunistas, bem ao gosto do nazismo.
O que os intelectuais e teólogos pediram à Presidenta? O que pediram e pelo que pressionaram, inclusive com críticas, tem relação com o que o primeiro grupo reivindicou e criticou. Pediram para "reforçar um modelo econômico mais social e popular", contra as privatizações dos serviços públicos. Pediram para atender à Constituição na realização de uma auditoria da dívida pública. O grupo reivindicou da Presidenta grandes projetos em favor da ecologia e dos interesses sociais. Os ecumênicos fizeram eco à sociedade brasileira e pressionaram por todas as reformas que fazem parte das pautas dos movimentos sociais: agrária; urbana; tributária – tributando os mais ricos, atualmente folgados com impostos baixos ou com sonegações - proteção dos direitos dos trabalhadores, sempre ameaçados pelo neoliberalismo que voa como corvo sobre Brasília; reforma das comunicações, retirando poder das famílias que dominam a mídia no Brasil e entregando-a à maioria dos cidadãos; reforma da segurança, desmilitarizando a polícia que mata pobres e negros, retirando os sonhos da juventude; participação dos cidadãos no controle das políticas públicas, reforçando mais o envolvimento permanente nas lutas políticas mais do que a confiança cega na representação vazia de povo.
Frei Betto depôs ao sair da audiência com a Presidenta que teve a impressão de que ela não recebe críticas de seus assessores, que não a informam da realidade do País. Betto, com razão, dá a entender que é arriscado para o País a autoridade se ausentar do povo, das bases, como seu grupo gosta de dizer, e apenas ser vaidosamente elogiada pelos puxa sacos de plantão.
Vejo nos dois grupos, minha querida conterrânea (Dilma?), a união entre o conhecimento e o saber prático da luta por mudanças a favor do povo e do nosso ameaçado planeta. Isso alenta porque sinaliza uma educação real, para a vida e para a sociedade, ao contrário das bobagens que muitos fazem por esse Brasil adentro, domesticando a juventude para ser escrava e subserviente do mercado.
Mas no grupo dos teólogos católicos romanos e evangélicos vejo o conhecimento teológico a serviço da verdadeira e mais autêntica fé: a que gera o milagre da luta, da participação na luta de todos e não de apenas alguns arrogantes e santos do pau oco que apenas esperam o céu, sem nada fazer pela terra, esse planeta amado e tão desrespeitado pela ganância dos poderosos. Esses que creem assim não perdem tempo com orações heréticas de quem pede para Deus fazer o que é de nosso dever realizar pela luta e por amarmos o próximo, mesmo que tal sacrifício inclua a cruz.
Temores com a guinada da Presidenta Dilma à direita, com entrega dos ovos de ouro aos cuidados das raposas, muito mais preocupadas com os lucros do que com as galinhas e os pintinhos brasileiros, levam intelectuais ativistas ao diálogo crítico com a mandatária reeleita. É preciso cuidar as armadilhas da divisão na luta.
A semana passada marcou-se por imensas pressões e debates relativamente à formação da equipe de governo da Presidenta Dilma.
De um lado o voo agourento dos corvos do golpe, que sobrevoaram, como sempre o fizeram, pelos telhados e porões do judiciário, da mídia, de setores do empresariado, da direita endinheirada e até de seguimentos da esquerda atrapalhada. De outro lado, dos megafones da esquerda, críticas se levantaram contra as escolhas de pessoas do mercado rentista, concentrador de riquezas e de renda para comandar a economia do País a partir de 2015, mas influenciando desde agora, cumprindo a agenda derrotada nas urnas.
Uma das gritas foi contra a madrinha da matança de indígenas, de
posseiros e de militantes do MST, aliada de Ronaldo Caido, de Marconi
Perillo, que ficou faceiro com sua indicação e de Lucia Vânia, a dona
Kátia Abreu, logo ela, escolhida para chefiar o ministério da
agricultura, que deveria mudar o nome para ministério dos ruralistas.O que os intelectuais e teólogos pediram à Presidenta? O que pediram e pelo que pressionaram, inclusive com críticas, tem relação com o que o primeiro grupo reivindicou e criticou. Pediram para "reforçar um modelo econômico mais social e popular", contra as privatizações dos serviços públicos. Pediram para atender à Constituição na realização de uma auditoria da dívida pública. O grupo reivindicou da Presidenta grandes projetos em favor da ecologia e dos interesses sociais. Os ecumênicos fizeram eco à sociedade brasileira e pressionaram por todas as reformas que fazem parte das pautas dos movimentos sociais: agrária; urbana; tributária – tributando os mais ricos, atualmente folgados com impostos baixos ou com sonegações - proteção dos direitos dos trabalhadores, sempre ameaçados pelo neoliberalismo que voa como corvo sobre Brasília; reforma das comunicações, retirando poder das famílias que dominam a mídia no Brasil e entregando-a à maioria dos cidadãos; reforma da segurança, desmilitarizando a polícia que mata pobres e negros, retirando os sonhos da juventude; participação dos cidadãos no controle das políticas públicas, reforçando mais o envolvimento permanente nas lutas políticas mais do que a confiança cega na representação vazia de povo.
Frei Betto depôs ao sair da audiência com a Presidenta que teve a impressão de que ela não recebe críticas de seus assessores, que não a informam da realidade do País. Betto, com razão, dá a entender que é arriscado para o País a autoridade se ausentar do povo, das bases, como seu grupo gosta de dizer, e apenas ser vaidosamente elogiada pelos puxa sacos de plantão.
Vejo nos dois grupos, minha querida conterrânea (Dilma?), a união entre o conhecimento e o saber prático da luta por mudanças a favor do povo e do nosso ameaçado planeta. Isso alenta porque sinaliza uma educação real, para a vida e para a sociedade, ao contrário das bobagens que muitos fazem por esse Brasil adentro, domesticando a juventude para ser escrava e subserviente do mercado.
Mas no grupo dos teólogos católicos romanos e evangélicos vejo o conhecimento teológico a serviço da verdadeira e mais autêntica fé: a que gera o milagre da luta, da participação na luta de todos e não de apenas alguns arrogantes e santos do pau oco que apenas esperam o céu, sem nada fazer pela terra, esse planeta amado e tão desrespeitado pela ganância dos poderosos. Esses que creem assim não perdem tempo com orações heréticas de quem pede para Deus fazer o que é de nosso dever realizar pela luta e por amarmos o próximo, mesmo que tal sacrifício inclua a cruz.
Temores com a guinada da Presidenta Dilma à direita, com entrega dos ovos de ouro aos cuidados das raposas, muito mais preocupadas com os lucros do que com as galinhas e os pintinhos brasileiros, levam intelectuais ativistas ao diálogo crítico com a mandatária reeleita. É preciso cuidar as armadilhas da divisão na luta.
A semana passada marcou-se por imensas pressões e debates relativamente à formação da equipe de governo da Presidenta Dilma.
De um lado o voo agourento dos corvos do golpe, que sobrevoaram, como sempre o fizeram, pelos telhados e porões do judiciário, da mídia, de setores do empresariado, da direita endinheirada e até de seguimentos da esquerda atrapalhada. De outro lado, dos megafones da esquerda, críticas se levantaram contra as escolhas de pessoas do mercado rentista, concentrador de riquezas e de renda para comandar a economia do País a partir de 2015, mas influenciando desde agora, cumprindo a agenda derrotada nas urnas.
A Presidenta Dilma viajou a Fortaleza para participar do congresso do PT. Lá defendeu a indicação dos neoliberais para o comando da economia, incluindo os ministérios da fazenda, do planejamento e do Banco Central. No seu discurso a Presidenta falou no diálogo necessário com os setores que detêm a economia do País e alertou para o movimento dos golpistas, eriçados para sujar a democracia.
A mídia online neste início da semana anota as críticas da trotskista Luciana Genro, que afirma que no governo Dilma nada há de esquerda.
Em meio a esse tiroteio todo me confortei com os movimentos de dois grupos de intelectuais que enviaram documentos à Presidente. Esses grupos notabilizam-se por unir estudos teóricos, discurso e prática na luta por transformações profundas e não apenas penteados para "melhorar" a cabeleira desse sistema excludente e desumano do capitalismo periférico, amarrado a grupos atrasados e sabotadores do Brasil.
No denominado grupo de intelectuais muitos militantes do partido da Presidenta alertaram temerosos para os riscos de ela ser engolida pelos que odeiam a inclusão dos pobres e a emancipação dos trabalhadores. A regressão do governo seria cruel traição à agenda que venceu nas eleições de outubro, no segundo turno, cuja militância jogou-se apaixonadamente às ruas no convencimento de que o discurso moralista da direita contra a corrupção é hipócrita e cortina de fumaça para o golpe, como aconteceu com Getúlio Vargas e João Goulart.
O documento denuncia a crise polar refletida na escolha de nomes para o ministério do governo. Aponta, num dos polos, que a Presidenta "parece levar mais em conta as forças cujo representante derrotou do que dialogar com as forças que a elegeram". No outro, indica que "as propostas de governo foram anunciadas claramente na campanha presidencial e apontaram para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e não para a regressão social. A sociedade civil não pode ser surpreendida depois das eleições e tem o direito de participar ativamente na definição dos rumos do governo que elegeu."
A angústia é evidente. Os intelectuais e ativistas engajados no movimento social são proféticos em denunciar o risco de traição. Baseiam-se em fatos. O senhor Levy é reconhecidamente ligado aos bancos, que historicamente sangram nossa economia sem nenhuma participação na construção da justiça social. A senhora Kátia Abreu, como escrevi acima, é comprometida com a prática das mais agressivas à justiça e ao desenvolvimento nos campos, além de constantemente se manifestar com um discurso bolorento dos tempos da guerra fria, com a clara intenção de atiçar a divisão e a guerra civil, trocando União Soviética pelo vazio e torpe "bolivarianismo" e "cubanização", terminologia que em bocas tão sujas não passa de distorção e malversação da verdade, além de psicótica.
O documento profeticamente suspeita da força e determinação da Presidenta em realmente ditar a linha política com reformas e inclusão entregando os ovos de ouro a quem comandará o galinheiro pensando muito mais em abrir suas portas às raposas do que cuidar das galinhas. O intelectual e ex-porta voz do Presidente Lula, André Singer, num artigo no último sábado na sua coluna na Folha, participa desta desconfiança: "teremos novo ciclo de juros altos, corte de gastos e contração, com possível desemprego e diminuição da renda dos trabalhadores. O gesto suscita, de imediato, duas perguntas. Será que desta vez a estranha conjuntura mundial voltará a soprar a favor e, em caso positivo, quando? Será que as classes beneficiadas pela evolução do lulismo terão paciência para o trabalho de Sísifo que ele parece propor à sociedade brasileira?"
A bola fora foi por conta do Frei Betto, que ali mesmo na ante sala do gabinete da Presidência, quando encontrou o seu amigo de longa data, o senhor Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, a quem brincando disse: "Robson, já tratamos com a Presidenta dos direitos dos trabalhadores. Agora é a sua vez de falar dos interesses dos patrões..."
A bola fora, talvez fruto inconsciente de uma fé com resquícios imperiais e de leituras avessas à realidade nacional, contraditórias com o apelo que ele mesmo defende de a Presidente dialogar com todos os setores, é de dizer que seu grupo defendera os interesses da classe trabalhadora e que o empresário defendesse os dos patrões.
Muitos como Frei Betto não conseguem entender que é necessário chamar a todos nessa conjuntura à unidade nacional e não dividir trabalhadores para um lado e jogar o empresariado nos braços dos que rapinam nossa economia e que pisam nos nossos direitos. No lugar de Betto eu teria abraçado o empresário, contado a ele do debate com a Presidenta e da necessidade de ele também apoiar essa luta em favor dos avanços do Brasil para todos os brasileiros.
Penso que Frei Betto não apenas brincou, falou do que move a alma dos se acham superiores por pensarem-se donos da verdade e até de Cristo. Foi uma bola fora e divisionista.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/162339/Mais-%C3%A0s-raposas-e-a-bola-fora-divisionista-de-Frei-Betto.htm