"agências de checagem": muito dinheiro de grandes
bancos e mineradoras, patrocinadores do golpe de Estado de 2016
por redação do Contexto
Livre – Sociedade e Mídia Sem-Censura
Há um
submundo no universo das "agências de checagem" (elas costumam
divulgar sua atividade em inglês, "fact-checking"): muito dinheiro de
grandes bancos e mineradoras, patrocinadores do golpe de Estado de 2016, e
conflito de interesses escancarado. Enquanto afirmam mensurar e julgar de
maneira "independente" o trabalho de jornalistas dos veículos de
comunicação, pertencem a uma empresa que tem ela própria um veículo de
comunicação e vivem de vender serviços à mídia conservadora. Uma das agências
tem seu endereço eletrônico hospedado no site de um dos mais agressivos
veículos da mídia de direita no país.
Sua ação
mais ousada no país aconteceu esta semana, quando voltaram-se contra veículos
da mídia independente (247, Forum e DCM) para proteger uma versão
falsificada que fabricaram a serviço da mídia conservadora no caso da visita do
enviado do Papa para visitar Lula no cárcere em Curitiba. Tais agências são as
versões pós-modernas da antiga censura estatal que o Brasil experimentou no
Estado Novo e depois na ditadura pós-64. Não existe mais a carreira de censor
no Ministério da Justiça do país, mas existe a carreira de jornalista-censor a
serviço do capital financeiro e da mídia conservadora. Com base em contratos
com o Facebook, tais agências ganharam o poder de indicar à empresa de Mark
Zuckerberg quais páginas hospedadas na rede social que devem sofrer sanções,
desde a limitação na distribuição de posts até a eliminação completa.
A agência
Lupa é, neste momento, o caso mais escandaloso deste submundo. Foi fundada no
fim de 2015 com dinheiro de João Moreira Salles. Ele é apresentado no site da
agência como um inocente "documentarista" (aqui). Escondeu-se, de
maneira a ocultar a verdade, o fato de que Salles é nada menos que o 9º maior
bilionários do país, segundo o levantamento 2016 da Forbes - sua fortuna é
estimada em R$ 13 bilhões (aqui). Escondeu-se no site
da Lupa que João Moreira Salles é um grande acionista do Itaú Unibanco.
Escondeu-se ainda que a família Salles é controladora da Companhia
Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), líder mundial na produção de
nióbio, com 85% do mercado mundial do valioso minério. Um caso típico de
fake news.
Não
bastasse um bilionário banqueiro/minerador ser o investidor da Lupa, que
deveria em tese estar liberta de grandes interesses econômicos, o controle da
agência é realizado pela Editora Alvinegra, também de Salles, que é
proprietária da Revista Piauí. Ou seja: a agência que deveria fazer checagens "independentes"
em veículos de comunicação não apenas está integrada aos interesses de grandes
grupos financeiros/mineradores como pertence à mesma empresa de um veículo de
comunicação que deveria acompanhar!
A Agência
Lupa - e todo o setor - atuam num modelo de negócios que repousa num conflito
ético insolúvel. Diz a Lupa em seu site: "A Lupa é uma agência
de notícias. Vende suas reportagens (checagens) para publicação em outros
meios de comunicação. Repete o que fazem agências internacionais como Reuters,
AFP, EFE ou Bloomberg, por exemplo." O que o texto enganoso da
empresa não esclarece é que Reuters, AFP, EFE ou Bloomerg não se propõem a
fiscalizar o trabalho de outros veículos de comunicação.
Assim, a
Lupa, como sua co-irmã, a Agência aos Fatos, vendem seus serviços para veículos
da mídia conservadora, como alguns das Organizações Globo e do Grupo Folha-UOL.
Surge uma questão irretorquível: qual o grau de autonomia/independência tais
agências têm para realizar "checagem" de veículos de comunicação que
são seus clientes? Lupa e Aos Fatos farão recomendação de sanções ao Facebook
para veículos de comunicação que são responsáveis pela sustentação financeira
de seu negócio?
Há ainda
uma outra questão no que diz respeito à Lupa. O endereço eletrônico da agência
é: http://piaui.folha.uol.com.br. Duas perguntas
surgem: 1) a Lupa irá atuar de maneira independente na checagem do veículo de
comunicação que a hospeda? 2) Que garantia têm veículos de comunicação
concorrentes daqueles do Grupo UOL-Folha de que as "checagens" não
serão carregadas de parti pris?
Este
universo sombrio das agências de "fact-checking" que atuam a serviço
de grandes grupos econômicos, do Facebook e da mídia conservadora com o
objetivo de reinstalar a censura e liquidar com o direito constitucional de
liberdade de expressão está alarmando parlamentares. O líder do PT na Câmara
dos Deputados, Paulo Pimenta, informou hoje que o assunto será examinado:
"Vamos convocar representantes do Facebook e das agências de checagem
contratadas por eles" (aqui).
Brasil
247 tentou
obter respostas da Agência Lupa quanto a estas questões, mas não houve
resposta. Por duas vezes foi enviado email a Cristina Tardáguila, diretora
da Agência Lupa, contendo uma série de perguntas de interesse público. Mas eles
ficaram sem resposta.
Na foto
que ilustra esta reportagem, Cristina aparece ao lado do banqueiro/mineirador e
documentarista João Moreira Salles, dono da Agência Lupa.
Para ver
texto completo, acessar em:
http://www.contextolivre.com.br/2018/06/o-submundo-das-agencias-de-checagem.html