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10.19.2015

Como ajudar os professores(as) a mudar de papel na sala de aula



  • Como transformar sistemas educacionais de modo a ensinar aos alunos as capacidades e habilidades realmente indispensáveis para o século XXI?
  • O treinamento e o desenvolvimento dos professores na maior parte do Brasil é muito acadêmico, ideológico e teórico
  • Outro desafio importante é como usar a tecnologia na escola de modo a transformar de fato a dinâmica das aulas

Foto da revista Carta na Escola


Albury
Em entrevista do britânico, formação docente no Brasil carece de experiência prática
Como transformar sistemas educacionais de modo a ensinar aos alunos as capacidades e habilidades realmente indispensáveis para o século XXI? Mais: como fazer isso em um país que passa por uma crise econômica e política e, há anos, convive com a escassez de professores bem formados? Para o britânico David Albury, diretor da Innovation Unit e especialista em desenvolvimento e implementação de estratégias de transformação em educação e serviços públicos, a resposta dependerá de como os governos estão lidando hoje com o estímulo à inovação radical e sua difusão.
Neste cenário, diz, o Brasil pode estar melhor do que imaginamos. Durante os últimos três anos, Albury liderou o apoio da organização internacional Global Education Leaders’ Partnership (GELP) ao Brasil, auxiliando a implementação de estratégias educacionais em fundações, estados e municípios a fim de reverter o baixo rendimento dos estudantes e, segundo ele, há muitas iniciativas interessantes acontecendo por aqui. “É preciso apontar que o Brasil tem resultados significamente melhores com custos significativamente menores. O País tem mais inovação educacional do que qualquer outro da América Latina”, diz.
Em visita a São Paulo, onde participou do seminário “Liderança e Inovação na Educação”, promovido pela Fundação Santillana, o especialista falou sobre os desafios para a implementação de uma educação de qualidade alinhada aos novos paradigmas tecnológicos e sociais.
Carta Educação: Uma das coisas que o senhor aponta como um desafio para a educação no Brasil é o fato de ainda termos poucos professores qualificados em sala de aula. Qual é o caminho para mudar esse cenário? Valorização salarial?
David Albury: Eu acredito que muitos problemas que temos hoje venham da questão do salário, da remuneração dos professores. Mas eu também acho que há algo que precisa mudar fundamentalmente na formação dos docentes. Pela minha experiência, vejo que o treinamento e o desenvolvimento dos professores na maior parte do Brasil é muito acadêmico, ideológico e teórico. Não foca suficientemente na pedagogia, na prática da sala de aula. Então, os professores aqui saem da universidade sabendo muito sobre as teorias da educação, mas não muito sobre a prática. Parte do que precisamos fazer para mudar esse quadro é reorientar não só a formação inicial dos professores como também a formação continuada para que estas deem conta desse aspecto pragmático. Acho que esse seria um bom pontapé inicial.
CE: O senhor também colocou que precisamos dar mais voz para os alunos. Os professores não costumam ser resistentes a isso?
DA: Tenho consciência que estas são mudanças difíceis de se fazer, por isso, precisamos apoiar os professores para que eles se sintam confortáveis em permitir que os alunos tenham mais voz, tenham mais o que dizer sobre o direcionamento da sua aprendizagem. Precisamos ajudar os professores a mudar de papel, sua identidade em sala de aula, de maneira confortável. Eu sei que isso é difícil, mas para mim educação é sobre as necessidades das crianças, então nós temos que possibilitar que elas expressem suas necessidades se queremos criar um ensino e uma aprendizagem realmente poderosos. Não é que nós queremos nos livrar dos professores, de maneira alguma. É sobre criar uma relação diferente entre alunos e professores, uma espécie de parceria. Os bons exemplos de escolas que eu dou em minhas palestras geralmente são de instituições onde os professores sentem que estão aprendendo com as crianças tanto quanto estão ensinando. Todos somos aprendizes e todos devemos aprender nesse processo.
CE: E qual é o novo papel do professor dentro da educação do século XXI?
DA: Acho que o professor tem que ser capaz de trabalhar com a criança de modo a “alongá-la” o máximo possível. Tem que ser capaz de continuar desenvolvendo seus talentos e potenciais a fim de expandir nessa criança suas habilidades e conhecimentos. Mas tudo isso começa nas necessidades, interesses e motivações dos estudantes, começa a partir de onde esses estudantes estão. Não se trata de dizer “faça essa disciplina e daqui 10 anos você será um grande jornalista”. Trata-se de pensar quais são os problemas e dificuldades que estou enfrentando agora na minha vida e como eu posso superá-los. Estudantes realmente se engajam quando estão diante de algo que os deixam entusiasmados. Eles só vão aprender um monte de matemática, línguas, entre outras coisas, se estão realmente engajados. O professor tem o papel de ajudá-los a entender e acessar esse conhecimento e essas experiências e também de fazer estas informações ganharem sentido para eles. É um papel fantástico e rico que o professor assume dentro dessa educação para o século XXI.
CE: Nas escolas públicas brasileiras, temos muitos alunos por sala. Como este modelo de ensino personalizado funcionaria diante dessa realidade?
DA: O que eu vejo pela minha experiência ao redor do mundo é que algumas crianças aprendem muito rápido e outras levam um pouco mais de tempo. Então, as crianças que aprendem muito rápido podem ser professoras daquelas crianças que não aprendem tão rápido assim. Do mesmo modo que eu disse antes que todos são aprendizes, todos podem ser também professores. Entre outras coisas, podemos criar esses pares de aprendizagem de alunos-alunos.
CE: Outro desafio importante é como usar a tecnologia na escola de modo a transformar de fato a dinâmica das aulas. É comum vermos redes, escolas comprando tablets e computadores, mas utilizando-os como apoio para o mesmo modelo tradicional. Como fazer essa mudança?
DA: Eu sou um grande fã de trazer várias tecnologias para a educação. Fico muito apreensivo quando escuto pessoas falando que é preciso criar uma “política” para o uso de tecnologia na escola. Porque o que você precisa é de uma política de como encorajar a penetração da tecnologia na educação. Como você cria inovação a partir da tecnologia? Não é esperando que a tecnologia chegue com a solução para seu problema. É trabalhando ao seu lado para pensar um propósito efetivo para seu uso.
CE: O que acontecerá com o Brasil se não fizermos essa transição tecnológica?
DA: Primeiro, o País afundará ainda mais no Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes]. Mas o mais importante: eu acho que vocês terão cada vez mais jovens raivosos, pois eles se sentirão cada vez mais desengajados de sua sociedade e economia e o Brasil, provavelmente, não conseguirá se tornar uma grande economia mundial.

Como a Lava Jato foi pensada como uma operação de guerra

    • O novo poder será decorrente da parceria entre jovens juízes, procuradores, delegados – ou seja, eles próprios

    • A ideia de que a mídia é um território neutro, onde se disputam espaços e ideias é pensamento muito ingênuo para estrategistas tão refinados

por Luis Nassif - Revista Carta Capital - Sociedade e Justiça na Política (fonte no final do texto)
O vazamento torrencial de depoimentos, a marcação cerrada sobre Lula, o pacto incondicional com os grupos de mídia, a prisão de suspeitos até que aceitem a delação premiada, essas e demais práticas adotadas pela Operação Lava Jato estavam previstas em artigo de 2004 do juiz Sérgio Moro, analisando o sucesso da Operação Mãos Limpas (ou mani pulite) na Itália.
A prisão – e a perspectiva de liberdade – é peça central para induzir os prisioneiros à delação. Mas há que se revestir a estratégia de todos os requisitos legais, para "tentar-se obter do investigado ou do acusado uma confissão ou delação premiada, evidentemente sem a utilização de qualquer método interrogatório repudiado pelo Direito. O próprio isolamento do investigado faz-se apenas na medida em que permitido pela lei”.
Moro deixa claro que o isolamento na prisão “era necessário para prevenir que suspeitos soubessem da confissão de outros: dessa forma, acordos da espécie “eu não vou falar se você também não”, não eram mais uma possibilidade.
O caso Lava Jato
Assim como nas Mãos Limpas, a Lava Jato procura definir a montagem de um novo centro de poder.
Em sua opinião, o inimigo a ser combatido é o sistema político tradicional, composto por partidos que estão no poder, o esquema empresarial que os suporta e o sistema jurídico convencional, suscetível de pressões.
O novo poder será decorrente da parceria entre jovens juízes, procuradores, delegados – ou seja, eles próprios - com o que Moro define como “opinião pública esclarecida” – que vem a ser os grupos tradicionais de mídia.
Nesse jogo, assim como no xadrez, a figura a ser tombada é a do Rei adversário. Enquanto o Rei estiver de pé será difícil romper a coesão do seu grupo, os laços de lealdade, ampliando as delações premiadas.
Fica claro, para o Grupo de Trabalho da Lava Jato, que o Bettino Craxi a se mirar, o Rei a ser derrubado, é o ex-presidente Lula. O vazamento sistemático de informações, sem nenhum filtro, é peça central dessa estratégia.
lula
No caso da Operação Lava Jato, o alvo maior seria o ex-presidente Lula
Para a operação de guerra da Lava Jato funcionar, sem nenhum deslize legal – que possa servir de pretexto para sua anulação - há a necessidade da adesão total do grupo de trabalho e dos aliados da mídia às teses de Moro.
A homogeneidade do GT só foi possível graças à atuação do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, que selecionou um a um os procuradores da força tarefa; e da liberdade conferida à Polícia Federal do Paraná para constituir seu grupo. O fato de procuradores paranaenses e delegados já orbitarem em torno do ex-senador Flávio Arns certamente favoreceu a homogeneização. E, obviamente, a ausencia de José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça.
Para ganhar a adesão dos grupos de mídia, o pacto tácito incluiu a blindagem dos políticos aliados. Explica-se por aí a decisão de Janot de isentar Aécio Neves das denúncias do doleiro Alberto Yousseff, sem que houvesse reclamações do Grupo de Trabalho.
A falta de cuidados com o desmonte da cadeia do petróleo também se explica por aí. Na opinião de Moro e da Lava Jato a corrupção nas obras públicas decorre de uma economia fechada, preocupada em privilegiar as empresas nacionais. É o que está por trás das constantes tentativas de avançar sobre o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) – o similar italiano do BNDES foi um dos alvos preferenciais da Mãos Limpas.
Croxi e Berlusconi, rei morto e rei posto
No fundo, o arcabouço institucional brasileiro está sendo redesenhado por um autêntico Tratado de Yalta, em torno do novo poder que se apresenta: juízes, procuradores da República e delegados federais associados aos grupos de mídia.
A grande contribuição à força Lava Jato foi certamente a enorme extensão da corrupção desvendada. sem paralelo na história recente do país e sem a sutileza dos movimentos de privatização e dos mercados de juros e câmbio.
A única coisa que Moro não entendeu – ou talvez tenha entendido – é que a ascensão de Silvio Berlusconi não foi um acidente de percurso. Foi o rei posto – a mídia nada virtuosa – sobre os escombros do rei morto – um sistema político corrupto.
A ideia de que a mídia é um território neutro, onde se disputam espaços e ideias é pensamento muito ingênuo para estrategistas tão refinados.
http://www.cartacapital.com.br/politica/como-a-lava-jato-foi-pensada-como-uma-operacao-de-guerra-5219.html

Há muito a se avançar no combate ao aquecimento global e as mudanças climáticas

    • Meio ambiente: ações tardias e termômetros em alta no planeta
    • As últimas notícias vindas de grandes emissores como Estados Unidos, China e Brasil sobre o clima na Terra

    • A hora é de radicalizar e buscar todas as alternativas que interrompam a fragilização e o aquecimento do globo
por Reinaldo Canto  da Revista Carta Capital - Sociedade e Sustentabilidade Global
Foto: Robson Fernandjes / Fotos Públicas
poluição-são-pauloCamada cinza de poluição no céu da cidade de São Paulo 
Não será por falta de declarações, compromissos e reconhecimentos que o processo de enfrentamento das mudanças climáticas não irá alcançar bons resultados durante a realização da COP 21 (Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas) em dezembro próximo, em Paris. Mas o que são bons resultados? Basicamente eles se referem a compromissos e não necessariamente alterações no clima realmente perceptíveis
Os mais otimistas poderão dizer que as últimas notícias vindas de grandes emissores como Estados Unidos, China e Brasil; de importantes resoluções adotadas em encontros internacionais como a Cúpula do Desenvolvimento Sustentável e até mesmo por declarações de influentes religiosos como o Papa Francisco e lideranças muçulmanas sobre a importância de se cuidar do planeta, parecem mesmo representar um avanço importante no combate ao aquecimento global e as mudanças climáticas.
Já os mais pessimistas ou, melhor dizendo, os mais realistas, aplaudem esses posicionamentos, mas além de considerá-los ainda tímidos diante dos desafios também perguntam sem obter respostas:
O que está sendo proposto será mesmo suficiente?
E, o que ainda é mais angustiante pensar: ainda dará tempo de reverter todo esse processo?
A Cúpula de Nova York e o Desmatamento no Brasil
Foram boas e alvissareiras as notícias anunciadas durante a Cúpula do Clima realizada no final de setembro em Nova York e que serviu de palco para diversos países apresentarem seus compromissos nacionais a serem ratificados durante a Conferência Climática de Paris (a COP 21). Grandes empresas também buscaram se destacar e se uniram aos líderes mundiais para selar compromissos de descarbonização de suas atividades e investimentos em energias limpas.
A presidenta Dilma Rousseff também apresentou em Nova York o nosso INDC, sigla em inglês para o compromisso nacional determinado. A meta brasileira é diminuir 37% das emissões até 2025, chegando a 43% de redução em 2030. O incremento no uso de energias limpas, o reflorestamento de 12 milhões de hectares e o fim do desmatamento ilegal até 2030 estão entre as propostas para o alcance das metas estabelecidas pelo governo brasileiro.
Mesmo considerando positiva e apoiando em parte o anúncio oficial do país, organizações e movimentos da sociedade civil se pronunciaram quanto à falta de detalhamento e ousadia do Brasil. Fizeram coro com diferentes abordagens, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura; o coletivo Engajamundo e o Observatório do Clima, entre outros.
Unânime mesmo foi à reprovação da meta de conter definitivamente o desmatamento apenas em 2030. A secretária executiva do Diálogo Florestal, integrante da Coalizão Brasil, Miriam Prochnow, afirmou que “a Coalizão entende que temos a obrigação, inclusive constitucional, de atacar isso imediatamente, com mais força".
Na mesma linha, “declarar que o Brasil vai ‘buscar’ políticas para eliminar o desmatamento ilegal é ridículo. O que o governo está dizendo com isso é que aceita conviver com o crime por sabe-se lá quanto tempo. Isso é uma ofensa ao bom senso e ao que o Brasil já mostrou que pode fazer no controle do desmatamento”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “É preciso lembrar que todos os outros países tropicais já se comprometeram a zerar o desmatamento em 2030”, acrescentou.
Enquanto isso a temperatura sobe cada vez mais
Debates, metas e mesmo críticas à parte, a verdade é que a temperatura continua a subir. Em seu último relatório o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), alertou que a temperatura do planeta subirá quase 5 graus Celsius até 2100.
Já relatório divulgado pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, em inglês) constatou que o mês de julho deste ano foi o mais quente já registrado no mundo. O mês registrou temperatura média de 16,61°C nas superfícies dos continentes e dos oceanos, 0,81°C a mais do que a média de temperatura do século XX. O ano passado já havia sido apontado como o ano mais quente da história moderna. Além disso, os 10 anos mais quentes registrados, com exceção de 1998, ocorreram a partir de 2000.
A água sobe nos oceanos
Uma das consequências desse aumento constante na temperatura está nos mares e oceanos. Recentemente a NASA, órgão aeronáutico e espacial norte-americano, divulgou um estudo com imagens de satélite que revela um aumento de 8 centímetros no nível dos oceano de 1992 para cá, sendo que em alguns lugares do planeta chegou mesmo a 22 centímetros. Derretimentos de geleiras e expansão da água do mar estão entre as principais razões, efeitos, portanto, do aquecimento global.
Só na Groenlândia, por exemplo, a perda de gelo anual está em 303 bilhões de toneladas e na Antártida são em média 118 bilhões de toneladas que todos os anos têm contribuído para elevar o nível dos nossos mares. Se tivermos em mente que muitas das maiores e mais habitadas cidades do mundo estão localizadas em litorais, pode-se imaginar que efeito isso terá num tempo não tão longo.
Entre a constatação do aquecimento planetário e as ações anunciadas para reverter esse processo, o que nos cabe como sociedade é cobrar mais e mais efetividade e urgência. Descarbonizar a economia global, recuperar a cobertura florestal e mudar radicalmente nossa maneira de consumo e descarte não são mais possibilidades ou alternativas, mas necessidades básicas e urgentes para a própria sobrevivência da espécie humana. Vamos, portanto, radicalizar.
http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/acoes-tardias-termometros-em-alta-e-o-combate-as-mudancas-climaticas-2413.html