Apenas
seis Estados têm queda na pandemia. Médica sanitarista e pesquisadora da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Lucia analisa abaixo quadro da epidemia no
país
Outras 12
unidades da federação apresentam situação “estável” mas com patamar de óbitos muito
alto
por redação Rede Brasil Atual – Sociedade e Brasil
Popularmente Enganado na Pandemia
Rovena
Rosa/EBC
"Pandemia tem que ser vista
com um olhar de cada região do país para que as medidas, por exemplo de
flexibilização, possam ser adotadas com segurança", adverte Lucia Souto
Nesta
segunda-feira (20/07), quando o Brasil contabilizou 718 novas mortes pela covid-19, ultrapassando a marca de 80 mil vítimas da infecção provocada pelo novo
coronavírus, oito estados apresentaram alta nos registros de óbitos.
De acordo com balanço do consórcio de veículos de mídia, a partir de dados das
secretarias de saúde estaduais, a média móvel, dos últimos sete dias, cresce na
região Sul: Paraná (31%), Rio Grande do Sul (64%) e Santa Catarina (127%).
O número de mortes também sobe em Minas Gerais
(24%), Mato Grosso do Sul (29%), Mato Grosso (16%), Tocantins (50%) e Paraíba
(29%). Em outras 12 unidades da federação, o panorama fica estável. Mas o
número de mortes diárias se mantém em nível alto. A
situação só mostra queda nos estados do Amazonas, Roraima, Ceará, Piauí, Rio
Grande do Norte e Sergipe. O que confirma que “são várias as epidemias no
Brasil”, como destaca a presidenta do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde
(Cebes), Lucia Souto, em entrevista a Glauco Faria, na edição desta terça (21)
do Jornal Brasil Atual.
Médica
sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Lucia lembra que
o quadro epidemiológico do país é dinâmico. Até domingo (19), por exemplo,
Paraíba e Mato Grosso estavam estáveis, mas desde então passaram a fazer parte
das regiões em que as mortes sobem. O Rio de Janeiro, que estava em queda,
voltou para o grupo em estabilidade.
“Essa
dinâmica é diversificada e é muito importante o trabalho objetivo com
informações, dados, análises científicas, epidemiológicas. Essa pandemia tem
que ser vista com um olhar em cada região do país para que as medidas, por
exemplo, de flexibilização, possam ser adotadas com segurança”, adverte a
presidenta do Cebes.
Vacinas trás esperança e cautela no médio prazo
A
precaução da médica sanitarista também vale sobre o desenvolvimento de vacinas.
A RBA mostrou ontem que ao menos três
pesquisas vêm apresentando resultados seguros e imunizantes. O
Brasil já está na rota das pesquisas com as vacinas da Universidade de Oxford e
uma chinesa, a CoronaVac. As duas estão na fase 3 – a mais avançada em testes.
O desenvolvimento do medicamento é uma esperança, mas ainda precisa ser visto
com cautela.
“Se tudo
der super certo, a expectativa mais
rápida dessa vacina estar disponibilizada para todo mundo é realmente em meados
do ano que vem”, lembra Lucia. Até lá, o país deve continuar adotando as
medidas de isolamento social e de aplicação de testes para detectar a doença,
ainda aquém da quantidade ideal, mas, principalmente garantindo condições para
que a população possa ter o direito de proteger a vida e cumprir o distanciamento.
“Temos
que ter a consciência sanitária de que vamos conviver com essa pandemia por um
longo período. E, para conviver com ela, a gente tem que se espelhar nos países
que estão conseguindo fazer isso muito bem. Desde o Vietnã, Alemanha e Cuba,
que só teve nos últimos 30 dias 2 óbitos, além de Argentina e Uruguai. Tem
vários países que estão conduzindo de uma maneira eficiente e objetiva essa
proteção da vida. E essa proteção consegue também incidir muito mais na
economia com a prática da renda universal”, adverte a presidenta do
Cebes.
Salvar vidas é mais importante que a economia
O Cebes é
uma das entidades da área propositora do Plano Nacional de Enfrentamento à Pandemia da
Covid-19. O documento faz uma série de recomendações e contesta a
falsa contradição entre economia e saúde que se mostra “complicada em alguns lugares
que estavam adotando a flexibilização e, de repente, a pandemia explodiu de
novo. É o caso do Sul do país”, ressalta Lucia.
O plano cobra desde a implementação da renda básica
universal a uma maior transparência por parte do governo federal, considerado
omisso no enfrentamento da pandemia. A gestão de Jair Bolsonaro só executou 45,5% da verba destinada à saúde pública. Além
de contrariar as orientações de especialistas e da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e indicar medicamentos que não têm eficácia científica comprovada.
“Diante
da lacuna do governo federal e do Ministério da Saúde, ocupado por militares
que não têm nenhuma familiaridade com o tema, é necessário afirmarmos uma
autoridade sanitária para o país. Uma autoridade que possa contribuir para a
diminuir ou pelo menos mitigar a confusão sobre essas informações”, explica a
pesquisadora da Fiocruz. Para a Lucia, ainda há tempo para proteger e salvar
vidas no Brasil.
Publicado RBA: 21/07/2020
Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2020/07/brasil-tem-diferentes-epidemias-de-covid-19-com-alta-nas-mortes-em-oito-estados/