Getúlio
se matou, Jânio renunciou, Jango teve que deixar o país e Lula é o único
presidente condenado e preso. O escritor chileno Pablo Neruda referiu-se à
América Latina como uma “desordem de nações não construídas”
por André Barros* no site Mídia Ninja – Sociedade e Luta Popular pela Democracia Brasileira
Foto Mídia NINJA
A
história da democracia no Brasil é triste. Getúlio se matou, Jânio renunciou,
Jango teve que deixar o país e Lula é o único presidente condenado e preso. O
consagrado escritor chileno Pablo Neruda referiu-se à América Latina como uma
“desordem de nações não construídas”. Depois
de décadas de luta contra a ditadura, que cassou o direito dos brasileiros de
votar para presidente do Brasil durante 25 anos, foi eleito pelo voto
direto um presidente que defende a ditadura e seus torturadores. É importante
registrar que o Ato Institucional do golpe militar, que não tinha número e não
aconteceu no dia 31 de março, mas sim no dia 1º de abril de 1964, dia da
mentira, prometia eleição para Presidente do Brasil no ano seguinte. Mas em
1965, ao invés de eleição, veio o segundo Ato Institucional e, aí sim, o
anterior passou a ser chamado de AI-1 e a eleição só veio a acontecer em 1989.
A
história conta os acontecimentos políticos passados. No entanto, o caso do
ex-presidente Lula reúne passado, presente e futuro ao mesmo tempo. Já é
claramente um fato histórico por consistir num julgamento que ainda não
terminou, pois não transitou em julgado. Lula não sofreu impeachment e saiu do
governo com alta popularidade. Poderia ser senador ou deputado federal para ter
alguma blindagem, como corriqueiramente acontece na política brasileira.
Preferiu aguardar sem mandato para sair candidato a presidente, após o
encerramento do segundo mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff. Era o favorito
na corrida presidencial.
Então, em
12 de julho de 2017, com base numa suposta compra de um triplex sem registro em
Guarujá-SP, o ex-juiz Sérgio Moro, de Curitiba-PR, condena o pernambucano Lula,
com domicílio em São Bernardo do Campo-SP, a 9 anos e 6 meses de prisão. Num
julgamento a jato, em 24 de janeiro de 2018, a 8ª Turma do Tribunal Regional
Federal de Porto Alegre ampliou a pena para 12 anos e 1 mês de prisão. Em 5 de
abril de 2018, o ex-juiz Sérgio Moro decreta a prisão e cassa o direito
político de Lula, favorito nas pesquisas, de concorrer à presidência do Brasil.
Com 31,3
milhões de abstenções, 10 milhões de votos nulos e brancos e 47 milhões de seu
adversário, Bolsonaro foi eleito presidente com 57.796.986 milhões de votos –
após forte e diária campanha na internet e sem participar de um debate sequer com
Fernando Haddad, sob a justificativa de que não tinha condições de saúde em
razão de um atentado com facada, que a história ainda poderá destrinchar.
O
coroamento dessa história que ainda não terminou veio com a nomeação de Sérgio
Moro para Ministro da Justiça pelo candidato que venceu a eleição do candidato
que não pôde se candidatar por ter sido cassado pelo juiz que virou Ministro do
candidato vencedor. Contudo, para quem pensava que toda a trama estava
esclarecida, vieram os vazamentos de trocas de mensagens entre os procuradores
que acusaram Lula e o juiz que o condenou. De todas, destaco aquela em que o
procurador Dallagnol afirma que não tem provas para acusar o ex-presidente
Lula, mas o juiz Moro responde que receberia a ação penal mesmo sem provas.
Creio que
não é preciso “desenhar” toda essa grande farsa, pois os fatos são claros. Se a
explicação desses acontecimentos nunca foi apenas jurídica, agora, muito menos.
Quem só sabe o direito não sabe o direito. Essa história não terminou, mesmo já
estando clara. Aguardamos o julgamento
final do Supremo Tribunal Federal para ver se ainda sobrou alguma democracia no
maior país da América Latina. É importante registrar que todo julgamento é
público, pois a sociedade tem o direito de julgar se a justiça está ou não
fazendo Justiça.
*André
Barros é advogado da Marcha da Maconha, mestre em ciências penais,
vice-presidente da Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sócio Popular e
membro do Instituto dos Advogados Brasileiros
http://midianinja.org/andrebarros/lula-livre/