Aos que sempre enxergaram a natureza política da Lava Jato, e por
criticá-la foram chamados de coniventes com a corrupção e vassalos do PT,
perderam amigos e até empregos, as revelações do conluio não surpreendem
por
Tereza Cruvinel*, em seu Facebook e Brasil 24/7 – Sociedade e Lutas Populares
por Justiça
A
ascensão do regime político sem nome, com seu obscurantismo e vulgaridade,
combinada com demandas pessoais, tirou-me a vontade de escrever e comentar as
patifarias do dia-a-dia da política.
As
revelações do Intercept Brasil sobre as maquinações Moro-Dallagnol acendem
alguma esperança de que a verdade, como disse Francisco a Lula, prevaleça sobre
a mentira.
Aqueles
diálogos e conluios não surpreendem.
Não, pelo
menos, aos que tiveram clareza, desde o início, sobre os propósitos políticos
da Lava Jato, aos que não fecharam os olhos para as ilegalidades, os abusos, as
gambiarras e toda as maquinações urdidas para se chegar ao objetivo primordial,
o de dar cabo do ciclo de governos petistas e garantir o triunfo do
conservantismo, ainda que se valendo da figura primitiva de Bolsonaro, que
devia envergonhar as elites nativas que lhe abriram caminho.
Afora
este, existiram outros dois grupos de brasileiros.
O dos que
sabiam das lavajatices praticadas mas as aplaudia por antipetismo, e o dos que
acreditaram sinceramente em Moro e seus procuradores como salvadores da pátria
e cruzados da corrupção.
Aos que
sempre enxergaram a natureza política da Lava Jato, e por criticá-la foram
chamados de coniventes com a corrupção e vassalos do PT, perderam amigos e até
empregos, as revelações do conluio não surpreendem.
Trazem a
náusea que vem diante da podridão, mas trazem também ar e luz, reavivam a
crença na verdade e no jornalismo.
Jornalismo
alternativo, por sinal, capitaneado por um jornalista estrangeiro, o que devia
fazer corar a grande mídia nacional.
Tudo
estava aí, à espera do empenho em conseguir as evidências de que Sergio Moro e
os procuradores cruzaram a linha que deve separar quem investiga, quem instrui
o processo e quem julga.
Ali, o
que havia era uma organização jogando o vale tudo para alcançar objetivos
políticos: primeiro, apear Dilma do poder, inclusive vazando áudios ilegalmente
obtidos e divulgados, que foram decisivos para o impeachment.
Depois,
forçando a mão na investigação de Lula no caso do triplex, acelerando o
julgamento na primeira e na segunda instâncias, de modo a torná-lo inelegível
antes do início da campanha de 2018, cassando-lhe a candidatura que seria
vitoriosa.
E, ainda,
cassando-lhe ao direito à livre expressão, impedindo que concesse entrevista
antes do pleito, para evitar o risco de uma vitória de Haddad.
Lula
sempre foi o alvo, não viu quem não quis ver e os que, por desinformação e
manipulação, não têm olhos para ver.
Hoje o
Conselho Nacional do Ministério Público finalmente abriu processo investigativo
contra Dallagnol e os procuradores da Lava Jato. Mas falta muito mais para que
seja restabelecida a crença na Justiça.
Ainda que
Moro, tendo renunciado ao posto de juiz para se tornar ministro de quem ajudou
a eleger, não possa mais responder ao CNJ, espera-se do STF uma reação que
resgate sua autoridade como instância suprema do Judiciário.
E pode
começar a fazer isso hoje, concedendo Habeas Corpus ex-Oficio ao ex-presidente
Lula, condenado num processo que, agora se vê - com náusea mas não com surpresa
- transgrediu o devido processo legal em mais de um ponto.
Juiz não
pode trocar figurinha com procurador, juiz não pode instruir e dar pistas a
investigador, juiz não pode antecipar sentença, juiz não pode dar bronca em
procurador, juiz julga, não comanda todo o processo, guiando-o segundo seus
propósitos.
Assim
deve ser, assim manda o CPP.
O que
virá agora, não se sabe.
Sozinha,
a esquerda não terá força no Congresso para instalar CPI ou criar o quadro
político que leve à restauração da normalidade jurídica conspurcada pela Lava
Jato.
Para os
partidos de centro e centro-direita que prezam o Estado Democrático de Direito
estão desafiados a também reagirem exigindo o mínimo, para começar: afastamento
de Moro do MJ e dos procuradores da Lava Jato, libertação de Lula e revisão dos
processos decorrentes da operação.
Isso não
quer dizer perdão aos corruptos de fato mas garantia de justiça nas
condenações, pois agora sobre tudo paira a sombra.
https://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/396406/Vazajato-nauseante-mas-n%C3%A3o-surpreendente.htm