Operação Lava Jato: para defender a Petrobras ou sacrificá-la?
Prisão de executivos das grandes empreiteiras expõe corruptores e revela
urgência da Reforma Política. Mas seu sentido estará em disputa — e o
destino da Petrobras mora no centro do furacão, assim como os dividendos do pré-sal para a população brasileira na educação.
por Antonio Martins - sociedade e economia
Por que Arábia Saudita, aliada dos EUA, age para derrubar preços do combustível. Como isto afeta Petrobras, em meio à Operação Lava Jato, artigo baseado nos estudos de André Ghirardi.
As prisões de presidentes e executivos de grandes
empreiteiras que prestam serviço à Petrobras, efetuadas em 14/11/2014 no
âmbito da Operação Lava Jato, podem ter desdobramentos capazes de
marcar, por meses ou anos, a vida brasileira. Pela primeira vez, foi
exposta ao grande público a ação dos corruptores – sempre poupados pelo
Judiciário e pela mídia, por razões tão fortes quanto sua potência
financeira. Em breve, surgirão os elos entre grandes empresas e dezenas
de políticos. O controle que o poder econômico exerce sobre o Parlamento
ficará ainda mais escancarado.
Diante disso, emergirá por certo uma grande disputa de
narrativas. Estará escancarada, para quem quiser enxergar, a necessidade
imediata de uma Reforma Política – que, antes de tudo, proíba e puna
severamente o financiamento, por corporações, dos partidos e campanhas
eleitorais. Mas haverá, como no caso do “Mensalão”, a tentativa de sacrificar bodes expiatórios
para, no fundo, preservar a promiscuidade entre o dinheiro e uma
democracia cada vez mais esvaziada. A manobra consistirá em focar
indivíduos (os deputados financiados pelas empreiteiras, que logo
aparecerão) e fazer vistas grossas ao sistema político (que, no Brasil,
praticamente obriga quem tiver pretensões de eleger-se a se associar a
grandes grupos econômicos).
Na disputa de narrativas, um capítulo crucial envolverá a
Petrobras. Maior empresa brasileira, responsável sozinha por cerca de
10% da arrecadação de impostos no Brasil,
ela não poderia passar incólume, num sistema político em que a
corrupção institucionalizada é a regra. Mas será grande a pressão para
convertê-la em mais um bode expiatório. Estará em jogo a imensa riqueza
petroleira do pré-sal. Ela tornou-se, nos últimos meses, especialmente
cobiçada.
O breve ensaio de André Ghirardi, que Outras Palavras orgulha-se
de publicar aqui, revela por quê. Decisões políticas, adotadas
principalmente pela Arábia Saudita, estão sacudindo a produção e os
preços internacionais do petróleo. Maiores exportadores mundiais e
aliados históricos dos Estados Unidos no Oriente Médio, os sauditas
estão forçando uma baixa dos preços do produto, que tem vastas
consequências econômicas e políticas. A produção de muitas áreas
petrolíferas pode tornar-se inviável, porque os custos de extração do
combustível serão menores que os preços internacionais. Mais importante:
países cujos Estados dependem da renda petroleira para equilibrar seus
orçamentos correm o risco de desestabilização. É o caso típico do Irã e
Venezuela.
O pré-sal brasileiro destaca-se, neste cenário, por dois
aspectos. Suas reservas já conhecidas situam-se na casa das dezenas de
bilhões de barris, podendo estar entre as maiores do mundo. Seu custo de
produção é relativamente baixo. É uma faca de dois gumes. Tornaria a
extração viável mesmo num contexto de preços internacionais reduzidos –
mas poderia levar o Brasil a esgotar um recurso precioso no período em
que ele está mais desvalorizado. Além disso, quem faria a exploração –
se houver pressões para queimar a Petrobras no altar da Operação Lava
Jato?
O texto de Ghirardi expõe, em detalhes, o novo cenário.
Examiná-lo é essencial para compreender os contextos, possibilidades e
riscos da nova fase em que a conjuntura brasileira entrou, desde ontem.
Blog Outras Palavras
ou
http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/operacao-lava-jato-para-defender-a-petrobras-ou-sacrifica-la-4692.html