“Recebemos
mais de mil mensagens de pessoas que querem investir juntas, porque não querem
mais deixar o dinheiro no Itaú, no Bradesco, do Santander, sem saber a quem
estão financiando”, afirma o economista Eduardo Moreira, criador do fundo que
pretende investir em projetos com impactos para reduzir a desigualdade no
Brasil
por redação Rede Brasil
Atual – Sociedade e economia popular
Foto reprodução/MST
Recurso
servirá para conclusão de indústria de beneficiamento da Coopan no RS
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) anunciou a captação de R$ 1 milhão para investir numa indústria de
beneficiamento de produtos agrícolas. Os recursos são oriundos do Financiamento
Popular (Finapop), fundo criado pelo engenheiro e consultor Eduardo Moreira,
que promete revolucionar a forma de investir, beneficiando projetos com
potencial de mudar a cara do Brasil.
Com taxas de taxas de 5,5% ao ano, menores do que
aquelas cobradas por bancos públicos e privados, o dinheiro vai servir para a
conclusão da construção de uma indústria para a Cooperativa de Produção
Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), do MST, no Rio Grande do Sul.
Coopan
A Coopan possui criação própria e abatedouro para
venda de carcaça suína. Também produz leite e arroz orgânico,
que é um dos mais vendidos do país.
A iniciativa, segundo Moreira, serve para mostrar
que o MST “não é esse bicho de sete cabeças”. Ele diz que o movimento conta com
uma organização tão eficiente quanto as grandes empresas brasileiras, como a
Vale e a Petrobras, o que justifica o baixo risco do investimento.
A diferença, diz ele, é que nos fundos
tradicionais, o investidor não sabe exatamente para onde vai o seu dinheiro. No
Finapop, os investimentos são transparentes, e a pessoa pode escolher qual
projeto pretende beneficiar. A inspiração veio do banco holandês Triodos,
que tem uma cartela de investimentos sustentáveis e que privilegiam a economia
local.
“Seu dinheiro, que está no Itaú ou no Unibanco pode
estar financiando uma fábrica de armas, uma empresa de agrotóxicos. Ou uma
multinacional que vem ao Brasil para competir e destruir as empresas locais.
Muitas vezes você pode estar financiando aquilo que te destrói”, afirmou a
Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, em
22mai2020.
“No MST, você sabe, 70% da comida na nossa mesa vem
da agricultura familiar. A comida orgânica vem quase toda de assentamentos e
pequenos agricultores”, afirmou ele.
Finapop uma “chuva
de esperança”
Segundo Moreira, o lançamento da Finapop representa
“uma chuva de esperança” em meio às desgraças decorrentes da pandemia de
coronavírus. “Recebemos mais de mil mensagens de pessoas que querem investir
juntas, porque não querem mais deixar o dinheiro no Itaú, no Bradesco, do
Santander, sem saber a quem estão financiando. Recebemos uma chuva de mensagens
de pessoas que querem oferecer serviços gratuitamente, que querem doar terra
para o MST.”
Ele destacou que a atual crise exige diferenciar o
que é necessidade do que é desejo. O governo, em vez de privilegiar o pequeno
agricultor, dando andamento à reforma agrária, prefere atender aos interesses
de grileiros e latifundiários, que são exportadores de commodities.
“É nesse momento que a gente tem que falar ‘não’. E
focar e premiar quem a gente mais precisa. Precisa de comida na nossa mesa,
então vamos premiar que faz isso. Vamos dar mais terras, mais oportunidades. E
quando entregarem a comida, vamos premiar mais ainda, para que mais pessoas
queiram ir trabalhar lá. Qual mundo que a gente quer? A gente tem que se fazer
essa pergunta.”
Capitalismo e
injustiça
Segundo Moreira, que é ex-banqueiro, o capitalismo
é “injusto”, pois vive da exploração daqueles de quem o próprio sistema mais
precisa, os trabalhadores. Ele cita o exemplo das empresas que controlam
aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Uber Eats. Em meio à pandemia,
registraram aumento de 30% em suas receitas, em função do aumento da demanda
dos pedidos por comida principalmente.
“Os entregadores de
aplicativos estão mantendo as pessoas vivas dentro de casa. As
empresas estão ganhando muito mais, só por causa deles. A empresa, em si, não
vale nada. É um programa igual a um joguinho. Mesmo ganhando 30% a mais,
diminuíram o salário dessas pessoas, porque sabem que tem mais gente
desesperada querendo trabalhar. Esse é o capitalismo.”
Meritocracia
popular
O economista diz que aprendeu o verdadeiro
significado da palavra “meritocracia“,
conceito alardeado pelas empresas capitalistas, quando visitou um acampamento
do MST pela primeira vez. Nos assentamentos e acampamentos, cada agricultor
recebe um lote de terra equivalente, e os insumos são comprados coletivamente.
“Alguns agricultores têm resultados melhores do que
outros, porque tiveram mais méritos. Agora querem dizer que é mérito uma pessoa
que nasce numa comunidade carente – sem educação de qualidade, que não tem
acesso a uma nutrição saudável, com todo mundo morando dentro de uma pequena
casa, sem lugar para estudar – ter que competir com o outro que viaja a Nova
York para visitar o Museu de História Natural, tem tablet e computador,
faz curso de inglês… Isso é meritocracia?”, questionou.
Publicado por RBA em: 22/05/2020
https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2020/05/mst-capta-r-1-milhao-em-financiamento-revolucionario/