O volume
recuperável de petróleo que está em jogo no Congresso Nacional é no mínimo 20 bilhões de barris que a
Petrobras já tinha o direito de produzir. Como pode um Congresso ameaçar
saquear seu próprio país?! Reage brasileiro!
por Fernando Brito no
Tijolaço – Sociedade e Entrega do Petróleo Brasileiro pelo Golpe
2016
Ana
Patrícia Laier, geóloga da Petrobras há 18 anos, é especializada em formações
geológicas de reservatórios de petróleo. Sabe, portanto, do que está falando ao
explicar didaticamente o “caso” das áreas de cessão onerosa que a Petrobras
adquiriu durante seu processo de capitalização, realizado em 2010 e, agora,
liberadas pelo governo Temer e pela maioria da Câmara dos Deputados para ser,
em 70%, leiloada a empresas, certamente estrangeiras.
Trata-se,
essencialmente, de áreas do campo de Búzios (antes conhecido como Franco) e
ainda a de outros que, somadas, representam um potencial de extração de cerca
de 20 bilhões de barris. Isso é mais do que temos, hoje, em reservas de
petróleo certificadas. No negócio da capitalização, a União vendeu à estatal o
direito de explorar o mínimo que se estimava na época, 5 bilhões de barris, com
a revisão de que jazidas excedentes pudessem ser adjudicadas à Petrobras pelo
regime de partilha, dividindo com o governo brasileiro o que viesse a ser
produzido a mais.
E o mais,
viu-se à medida em que os estudos sísmicos e os poços pioneiros avançavam, era
muito mais: quadruplicou a expectativa dos reservatórios de óleo. E, com ela, a
expectativa de ganhos para o Estado brasileiro, algo em torno de 650 bilhões de
reais.
Consumada
a alienação de 70% das áreas, claro que este valor cairá. É por isso que a
doutora Laier espanta-se: “como pode um Congresso ameaçar saquear seu próprio país?”
A história do pré-sal e o que
significa para o povo brasileiro
Ana Patrícia Laier, no site do Clube de Engenharia
A Cessão
Onerosa foi a forma encontrada pelo governo em 2009/2010 de capitalizar a
Petrobras para a exploração e desenvolvimento do pré-sal, que é a maior
província petrolífera descoberta (no mundo) em mais de 35 anos. Antes disto, o
Mar do Norte teve sua primeira descoberta comercial com Ekofisk em 1969 e o
pré-sal de Santos foi descoberto em 2006 com Parati (1-RJS-617D) e comercial
com Tupi (1-RJS-628A) descobridor do campo de Lula.
Através
da Lei da Cessão Onerosa o Congresso Nacional autorizou a União a vender para a
Petrobras o direito de produzir até 5 bilhões de barris de petróleo a partir de
acumulações que a empresa viesse a descobrir em 7 grandes áreas, 6 definitivas
e intransferíveis e uma contingente, a área de Peroba, recentemente leiloada. A
lei foi sancionada e o contrato foi assinado entre a Petrobras e a União. Duas
certificadoras foram contratadas para calcular os volumes, uma pela Petrobrás e
outra pela ANP. Foram alocados volumes nas 6 áreas definitivas: Franco
(Búzios); Sul de Tupi (Sul de Lula); Florim (Itapu); Nordeste de Tupi (Sépia);
Sul de Guará (Sul de Sapinhoá) e Entorno de Iara (Norte e Sul de Berbigão;
Norte e Sul de Sururu, Atapu).
O projeto
tinha sido feito por grupo de trabalho formado por técnicos da ANP e da
Petrobras em 2009. Tudo dentro da mais estrita legalidade e visando a
otimização da riqueza para toda a sociedade brasileira. Algo semelhante havia
sido feito pelo governo Norueguês antes da privatização parcial da Statoil com
a venda das ações na bolsa de valores em 2001. O governo norueguês vendeu para
sua estatal de petróleo e gás parte de seu portfólio de participações na
produção de campos de petróleo e gás.
Pelo
direito de produzir os 5 bilhões, a Petrobras pagou à União US$ 42 bilhões
(quase 75 bilhões de reais). A União aumentou sua participação na estatal
reinvestido este dinheiro na mesma. A captação na bolsa foi um sucesso. A
Petrobras iniciou então a campanha exploratória nestas áreas. Adquiriu
levantamentos sísmicos 3D; perfurou poços pioneiros e confirmou a presença de
acumulações onde petróleo de excelente qualidade (grau API dentro da faixa dos
intermediários) em reservatórios de excelente qualidade no pré-sal, play (
área de exploração) que já havia sido comprovado a esta altura dos
acontecimentos. Lula iniciou sua produção definitiva em 2010.
Conforme
previsto no contrato da Cessão Onerosa a Petrobras foi declarando a
comercialidade na medida em que finalizava a etapa de delimitação/avaliação
destas acumulações e elaborava o plano de desenvolvimento a ser submetido à
ANP. Búzios e Sul de Lula foram os primeiros a terem a comercialidade declarada
em dezembro de 2013. Itapu, Sul de Sapinhoá e Sépia lhes seguiram em setembro
de 2014. E finalmente, em dezembro de 2014, os campos Norte e Sul de Berbigão,
Norte e Sul de Sururu e Atapu tiveram sua comercialidade declarada.
Ao
realizar a etapa de exploração e avaliação das áreas, a Petrobras verificou que
nelas havia muito mais petróleo e gás do que fora adquirido com a Cessão
Onerosa. Ainda segundo um modelo de desenvolvimento que otimizaria a geração de
riqueza para a nossa sociedade, foi aprovada a contratação direta da Petrobras
para produzir em regime de partilha o excedente da Cessão Onerosa. Isto ocorreu
na reunião do Conselho Nacional de Política Energética realizada em 24 de junho
de 2014 e presidida por Dilma Rousseff.
Em 2014 o
excedente era calculado como sendo algo entre 9,8 a 15,2 bilhões de barris.
Para a sociedade serão gerados com este modelo cerca de R$ 650 bilhões, sendo
que destes, cerca de 500 bilhões serão destinados à educação. Então, o volume
recuperável de petróleo que está em jogo é no mínimo 20 bilhões de barris que a
Petrobras já tinha o direito de produzir. Como pode um Congresso ameaçar
saquear seu próprio país?! Reage brasileiro!
http://www.tijolaco.com.br/blog/geologa-da-petrobras-diz-que-congresso-brasileiro-saqueia-seu-proprio-pais/