Os EUA não aceitarão situação de
conciliação. Trump já se comprometeu com ‘mudança de regime’ na Venezuela.
Mas... fazer o quê?
Fazer guerra aberta contra a
Venezuela será caro, complicado e impossível de justificar...
por redação do Moon of Alabama e no blog do Alok – Sociedade e Geopolítica dos EUA na América do Sul
Dia
25 de janeiro de 2019, dois dias depois de Guaidó, o Penetra, se autodeclarar
presidente da Venezuela, já eram óbvias as falhas nos planos para o golpe que os EUA
tentavam aplicar na Venezuela:
Minha impressão é que
Trump foi enganado. Já há tempos é visível que Trump não dá atenção a detalhes
e não reflete com calma sobre coisa alguma. O mais provável é que Bolton,
Pompeo e Rubio lhe tenham apresentado um plano de três passos:
Fase 1. Apoiar o autodeclarado presidente Guaidó;
Fase 2: ... (acreditar que tudo acontecerá facilmente) ...;
Fase 3: Roubar metade do petróleo deles!
Fase 2: ... (acreditar que tudo acontecerá facilmente) ...;
Fase 3: Roubar metade do petróleo deles!
Bolton e Pompeo são burocratas e
políticos experientes. É possível que soubessem das graves falhas do próprio
plano; e que requereria muito mais do que Trump dedicaria normalmente ao caso.
Meu palpite é que a super distensão de missão militar que se aproxima já estava
embutida no plano, mas o trio nada disse ao presidente.
Os golpistas norte-americanos e seus
fantoches venezuelanos esperavam que os militares da Venezuela imediatamente
saltariam para o lado dos EUA. Foi pensamento desejante e movimento muito
improvável. Também planejaram algum esquema de “ajuda humanitária” no qual
fotos de caminhões atravessando uma ponte há muito tempo bloqueada cobririam de
vergonha o presidente Maduro e o fariam renunciar. Mais perfeito nonsense.
A menos que os EUA estejam dispostos e tenham meios
para escalar, a tentativa de golpe está condenada a fracassar.
A mídia ‘ocidental’ já reconheceu que a fase 2 do
golpe enfrenta problemas quase insuperáveis. Hoje, o Guardian, Bloomberg e New
York Times falam da frustração crescente ante a falta de qualquer
sucesso.
O Guardian observa:
Três semanas depois de Guaidó ter eletrificado o movimento até ali
apático de oposição, ao se autoproclamar presidente interino, veem-se
sinais de que a campanha pode estar perdendo gás.
Uma
defecção prevista, em massa, de chefes militares – fator que os líderes da
oposição admitem que seja pré-requisito para a saída de Maduro – não se
confirmou; e o círculo mais próximo de Maduro já diz que o presidente conseguiu
controlar a tempestade política.
Bloomberg escreve:
Desde que Juan Guaidó autoproclamou-se presidente
interino, há três semanas, e ofereceu anistia aos oficiais que abandonassem
Maduro, mais de 30 países liderados pelos EUA já elogiaram o movimento, sempre
à espera de que os militares aderissem. Mas não se vê qualquer movimento nesse
setor.
Num país com mais de 2 mil generais e almirantes, só um oficial – que
nem tem tropas sob seu comando – declarou apoio a Guaidó.
Essa é forte razão a sugerir que a revolução não está andando ao ritmo
que alguns esperavam que ela andasse, quando Guaidó sacudiu o mundo, dia 23/1,
com sua autoproclamação. Claro que tudo isso gera impaciência e começam as
acusações. Políticos
norte-americanos e os que cercam Guaidó – além de líderes no Brasil e Colômbia
– começam a se entreolhar, preocupados com um possível fracasso. Nos dois
campos, já há funcionários que confessam entre eles, privadamente, que
presumiram que os norte-americanos teriam estratégia mais bem desenvolvida.
No NY Times, o tom de frustração repete-se:
O objetivo da oposição era levar suprimentos para a Venezuela e forçar
um confronto com Maduro, que recusou qualquer ajuda. Maduro pode ficar mal visto,
disseram líderes da oposição, e dar destaque à capacidade de seus opositores
para implantar um governo de socorro humanitário num país cuja economia em
ruínas deixou muitos sem alimentos e doentes sem acesso a medicamentos.
Mas
não se viu nem sinal de confrontação dramática.
A entrega da “ajuda” fracassou,
segundo Bloomberg, por falta de planejamento e coordenação:
Cresceu a preocupação com o que virá na
sequência.
Em reunião na embaixada dos EUA em Bogotá, Colômbia, semana passada,
líderes militares, de inteligência e civis dos dois países discutiram meios
para fazer entrar a ajuda humanitária em território da Venezuela. Havia no ar
forte sensação de frustração, segundo um dos participantes que comentou a
discussão mas pediu para não ser identificado.
EUA
disseram que estavam pagando pela ajuda, mas queriam que a Colômbia
contribuísse com os caminhões e motoristas para levá-los até a Venezuela. Os
colombianos responderam que ninguém aceitaria essa missão, porque com certeza
seriam presos pelos militares venezuelanos. O material permanece depositado em
armazéns próximos da fronteira.
Em
reunião semelhante em Cucuta, cidade colombiana junto à fronteira, um dos
participantes informou que a dinâmica foi idêntica – os EUA esperando que a
Colômbia providenciasse os meios para entregar a ajuda, e os colombianos
respondendo que não têm como fazer isso
Só agora a oposição começa a realmente a pensar em construir algum plano
menos louco para entregar a
“ajuda”:
Em Cúcuta, membros da oposição dizem que consideram opções para forçar
fisicamente o embarque para a Venezuela.
Omar
Lares, ex-prefeito de oposição no exílio em Cúcuta, disse que os organizadores querem que o povo cerque o
caminhão que transporta a “ajuda” ainda no lado colombiano e o acompanhe até a
ponte. Do outro lado se organizariam alguns milhares de manifestantes, para
romper um cordão de isolamento, e arrastar os contêineres, bloqueando a ponte,
e acompanhar a ajuda até a Venezuela.
“Um grupo lá, outro grupo aqui, e faremos uma
grande corrente humana” – disse Lares.
Enquanto isso, o que pensam que farão
os soldados venezuelanos entre os dois grupos? Abrirão alas e deixarão passar
um grupo de golpistas invasores do seu país?
A luta produziria alguma imagens para televisões
pró-golpe, mas nada conseguiria. A falta de planejamento já assusta até lobbyistas em
Washington DC:
“A oposição criou imensas
expectativas, e não se sabe se há qualquer plano para alcançá-las” –
disse David Smilde, analista venezuelano no Gabinete de Washington para a
América Latina.
Os golpistas norte-americanos e seus
agentes locais venezuelanos para já reconhecer que tão cedo não haverá qualquer mudança:
Falando em audiência no Congresso, o
enviado especial dos EUA à Venezuela, Elliott Abrams, declarou que “Maduro e
seu bando de ladrões” estariam acabados. Disse que a pressão internacional
significa que “há uma tempestade em formação dentro do regime Maduro, que mais
dia menos dia o levará ao fim”.
Mas, por mais que Abrams repetisse que Washington
mantinha-se “esperançosa e confiante” de que Maduro cairá, teve de admitir que
“é impossível prever” quando acontecerá. Os EUA podem manter a pressão “por
semanas e meses” – acrescentou, sugerindo
assim que já ninguém espera solução rápida.
Líderes da oposição passaram vários dias
recentemente tentando reduzir as expectativas de que a queda de Maduro seja
iminente.
Juan Andrés Mejía, oposicionista e aliado de Guaidó
admitiu que o resultado “pode exigir mais tempo”.
O já fraco apoio espontâneo que Guaidó,
o Penetra, obteve de alguns setores da população também já começa a decair. A
manifestação convocada para ontem teve ainda menos participantes que a do dia 23 de janeiro. Agora Guaidó diz
que forçará a passagem da “ajuda” dia 23 de fevereiro, mas não dá sinais de ter
qualquer plano real para fazer acontecer (...).
Se os EUA não fizerem mais do que fizeram até aqui,
o governo do presidente Maduro terá superado mais essa tentativa de golpe. As
sanções e o fim da renda do petróleo criarão muitos problemas imediatos, mas em
poucas semanas o petróleo venezuelano terá encontrado novos compradores. Haverá
dinheiro novo em circulação e novas fontes acabarão por aparecer para oferta de
remédios e de alimentos.
Com o passar do tempo, Guaidó, o Penetra, perderá
apoio. O partido do qual é líder nominal obteve 20% dos votos. Os demais
partidos da oposição sequer foram informados de que ele planejava
autodeclarar-se presidente. O apoio que deram ao movimento de Guaidó foi morno
e agora acabará de esfriar. No fim, é possível até que apoiem as conversações
de mediação que Maduro propôs, e que ONU, Uruguai e México também apoiam. Essas
conversações podem levar a novas eleições parlamentares e ou presidenciais em
um ou dois anos, e a situação estará superada.
Os EUA não aceitarão situação de conciliação. Trump
já se comprometeu com ‘mudança de regime’ na Venezuela. Mas... fazer o quê?
Fazer guerra aberta contra a Venezuela será caro,
complicado e impossível de justificar. Iniciar e apoiar uma guerra de
guerrilhas – especialidade de Elliott Abrams – exige tempo e também custa muito
dinheiro. As chances de vitória são baixas. Trump afinal quer a reeleição, mas
perderá votos em qualquer cenário de guerra. O que mais pode fazer?
Tradução: Coletivo Vila Mandinga
http://blogdoalok.blogspot.com/2019/02/venezuela-2019-para-midia-o-plano-do.html