Esta superdemocracia resultará de uma consciência planetária coletiva
que se dá conta da unidade da espécie humana, morando numa única Casa Comum, no
planeta Terra, pequeno, com bens e serviço naturais
escassos, superconsumista e superpovoado e ameaçado
pelas mudanças climáticas que estão afetando a biosfera, a biodiversiade e a
nós próprios
no blog de Leonardo
Boff* - Sociedade e Mãe Terra
Globalizada
Foto Leonardo
Boff, por Ramiro Furquim/Sul 21
A
democracia em nosso país e em geral no mundo está em perigosa erosão. O Juiz de
Direito no Rio de Janeiro e Prof. universitário Rubens Casara, foi um dos
primeiros a denunciar o surgimento de um “Estado pós-democrático” vale dizer,
um “Estado”(que se assim ainda podemos chamar) que rompe com o pacto social
configurado na constituição e pelas leis e se rege pelo
autoritarismo, pelo arbítrio e pela violência em relacão para com a sociedade,
especialmente para com os mais vulneráveis. No Brasil isso está lentamente
acontecendo. Um STF sem grandeza e alheio à gravidade do que está ocorrendo,
deixa tudo passar, até a violação do sagrado preceito da presunção da inocência
até a comprovação da materialidade do crime (caso Lula).
A luta
agora é reconquistar a democracia, mesmo a de baixa intensidade,
para evitar a dissolução do laço social que nos permite minimamente conviver.
Caso contrário, entraremos no caos e na barbárie como se nota em alguns
lugares no Brasil de grande violência.
Não
deixaremos de reclamar, como o fazem os movimentos sociais de base, uma democracria
participativa e popular ou uma democracia
comunitária que os andinos nos estão ensinando com o seu ideal do
“bem-viver e do bem-conviver”, inaugurando pela primeira vez no mundo o
constitucionalismo ecológico, ao inserer na Lei Maior os direitos da natureza e
da Mãe Terra (Pacha-Mama). Com isso antecipam o que será seguramente o novo
pacto natural articulado com o social da futura sociedade mundial se não a
destruirmos antes.
Recordaremos
sempre as lições do grande jurista e filósofo Norberto Bobbio com sua democracia
como valor universal a ser vivido na família, na comunidade, na
escola, nos sindicatos,nos partidos e no Estado. Morreu com uma profunda
frustração face à violência do terrorismo, até do Estado, nos USA.
Não
podemos perder o sonho do grande amigo do Brasil Boaventura de Souza Santos com
sua Democracia sem fim. Ela é sem fim porque é um
projeto aberto que sempre pode ser enriquecido quanto maior for a participação
humana e a responsabilização que os cidadãos vão assumindo na construção do bem
comum e do bem viver e conviver e redefinirem suas
relações para com a natureza na forma de sinergia, de cooperação
e de cuidado.
Ademais,
a democracia, como sistema aberto faz com que poderemos estar caminhando rumo a
uma superdemocracia planetária nas palavras do
grande assessor de Mitterand, Jacques Attali (cf. Uma breve historia do
futuro, 2008) Essa forma de democracia será a alternativa salvadora face a
um superconflito que, deixado em livre curso, poderá pòr em risco a permanência
da espécie humana. Esta superdemocracia resultará de uma consciência planetária
coletiva que se dá conta da unidade da espécie humana, morando numa única Casa
Comum, no planeta Terra, pequeno, com bens e serviço naturais
escassos, superconsumista e superpovoado e ameaçado
pelas mudanças climáticas que estão afetando a biosfera, a biodiversiade e a
nós próprios.
A Carta
da Terra utiliiza duas expressões que assinalam o novo paradigma de
civilização: alcançar “um modo de vida sustentável“(n.14) e “a
subsistência sustentável de todos os seres”. Aqui emerge um design
ecológico, quer dizer, uma outra forma de organizar a relação com a
natureza, o fluxo das energias e as formas de produção e de consumo que
atendam as necessidades humanas, que nos permitem ser mais com menos e que
favoreçam a regeneração da vitalidade da Terra.
Por
fim, eu por minha parte, fruto dos estudos em cosmologia e ecologia, tenho
proposto uma democracia sócio-ecológica que
representaria o ponto mais avançado da integração do ser humano com a natureza.
Ela se inscreveria dentro do novo paradigma cosmológico que vê a unidade do
processo cosmogênico dentro do qual se situa também a natureza e a
sociedade e cada pessoa individualmente.
Será uma
civilização biocentrada que devolverá o equilíbrio perdido à Mãe Terra e
garantirá o futuro de nossa civilização. Todos e a natureza inteira seremos
cidadãos, habitando cuidadosa e jovialmente a Casa Comum.
*Leonardo Boff escreveu Como cuidar da
Casa Comum, Vozes 2017.
https://leonardoboff.wordpress.com/