Por Mauro Santayana, jornalista do Jornal JB, Rio
A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e
retrógrado, em todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando moda ser de extrema direita — baseia-se em manipulação, com
que se tenta,
por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar
criando uma absurda realidade paralela.
Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita
fundamentalista, surgem por todo mundo, como nos piores
tempos da guerra fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de
se defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma absolutamente
fantasiosa, 100 milhões de mortos ao comunismo na Rússia (ou União Soviética) socialista.
Busca-se
associar, o marxismo
ao nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado na Segunda Guerra Mundial,
em que
os alemães e seus aliados perderam 850 mil homens, e a Batalha de
Berlim,
vencidas pelas tropas do Exército Vermelho — que cercaram e ocuparam a
capital
alemã e obrigaram Hitler a se matar — a
Alemanha nazista teria tido tempo de desenvolver sua própria bomba
atômica e não teria
sido derrotada.
Espalha-se, na internet — vários autores que não conhecem a história, uns por
ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso — que o
Golpe Militar de 1964 — apoiado e financiado pelos Estados Unidos — foi uma contrarrevolução preventiva. O país era governado por
um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em
plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do Estado de Direito,
e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck presidente da
República em 1965.
1964 foi uma aliança de oportunistas, desde empresários, imprensa, clero políticos,etc. Civis que há anos
almejavam chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso, segmentos
conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e oficiais — não
todos — golpistas que odiavam a democracia e não admitiam viver
em um país livre.
Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres
fascistas pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a
mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do papa
Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como quaisquer
outras — e não são os monstros apresentados pela extrema-direita, sob a farsa do “marxismo cultural” — representam um apelo à
razão e um alento.
Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer,
pelo menos até agora, que Habemus Papam,
com a clareza da fumaça branca saindo, na Praça de São Pedro, em dia de
conclave, das chaminés do Vaticano.
http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/12/17/habemus-papam-2/