"A cada momento que o tempo passa, mais nós compreendemos sobre o porquê da nossa existência e o nosso propósito de vida, pensamos o que somos, logo existimos e vivemos"
Autor de 'Marxismo Sociológico', Burawoy
relata experiência em Zâmbia, Rússia, Hungria e EUA e diz que, pouco
antes do colapso da URSS, proletariado perdera esperança em ideologia
socialista
O britânico Michael Burawoy é considerado um dos principais sociólogos marxistasda
atualidade. Como pesquisador acadêmico, procurou entender a reprodução
de relações sociais e econômicas no contexto da produção capitalista.
Para isso, buscou uma alternativa nada convencional: trabalhar como
operário em fábricas de quatro países entre as décadas de 70, 80 e 90.
"Eu era pesquisador acadêmico, mas, ao mesmo tempo, trabalhava como
operador de máquinas dentro da linha de produção. O meu objetivo era
observar como as pessoas se relacionam entre em si, tentando entender
como é ser um trabalhador em fábricas de diferentes lugares,
participando de fato da vida desses trabalhadores", afirma o sociólogo,
atualmente professor titular da Universidade da Califórnia.
Considerada ímpar na história da sociologia, a pesquisa investigou o
cotidiano de operários dentro da linha de produção em: Zâmbia, Rússia,
Hungria e Estados Unidos. Como resultado, Burawoy lançou o livro Marxismo Sociológico (Alameda,
348 pgs. R$49), que reúne os esforços do britânico em oferecer
instrumentos conceituais para questões das relações de trabalho na
sociedade contemporânea.
Entre as análises, ele compara as experiências como operário dentro de
uma linha de produção capitalista em Chicago, EUA, e dentro da
"Siderúrgicos de Lênin", uma das principais fábricas na Hungria no fim
do período soviético, nos anos 1980.
Em entrevista a Opera Mundi, Burawoy explica que, a
partir de suas experiências nos diversos países, pôde traçar linhas de
comparação — "diferenças significativas" — entre os modos capitalista e
socialista de produção. "Enquanto em Chicago a exploração era obscura,
sendo que havia uma coordenação de interesses entre a gerência e os
trabalhadores, na Hungria tudo era transparante. Dominação, exploração:
todo mundo reconhecia o que estava acontecendo", conta.
Opera Mundi TV
Michael Burawoy é autor do livro 'Marxismo Sociológico', fruto de pesquisa em fábricas de 4 países do mundo
Sobre sua experiencia na Hungria, ele diz ainda que, como o próprio
Estado tinha representação dentro das fábricas, os operários soviéticos
passaram a questionar as contradições do socialismo — algo que já era,
segundo Burawoy, notado pelos operários na postura do Estado socialista,
já em evidente fim rumo ao colapso da URSS. "Os trabalhadores também
perderam interesse na ideologia do socialismo", diz o pensador.
Entre outras funções, Burawoy trabalhou em fábricas de champanhe e
gomas de mascar. Ele destaca, no entanto, a experiência como operador de
forno na maior fábrica de aço da Hungria na época (anos 80) como
fundamental para vivenciar a perspectiva dos trabalhadores em meio a
deterioração das instalações soviéticas.
”A experiência como operador de forno foi interessante, pois essa
posição era icônica dentro da União Soviética e representava o poder do
socialismo em transformar o mundo e a sociedade. E eu estava lá em um
momento que o Estado não era mais capaz de se reformar continuamente de
uma forma que pudesse conviver com a própria ideologia", conclui
Burawoy, sobre sua experiência como siderúrgico. http://operamundi.uol.com.br/conteudo/entrevistas/41440/burawoy+sociologo-operario+explica+como+capitalismo+e+socialismo+controlavam+o+chao+da+fabrica.shtml
Noruega: petróleo e altos impostos sustentam país com maior qualidade de vida do planeta
Noruega
Lições norueguesas
O país tem belezas, serviços
públicos e índices de desenvolvimento humano invejáveis. Graças ao uso
exemplar de suas riquezas naturais, como o petróleo, e à gestão do
Estado
Estado norueguês também se destaca por busca pela igualdade de gênero e por incentivar aumento na taxa de natalidade
A cidade de Oslo é tudo o que se pode esperar da capital do país com
maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. O frio nórdico é
acompanhado por um transporte com eficiência cronometrada, escolas que
abrigam alunos de diferentes classes sociais e hospitais de qualidade
gratuitos. Tudo público, gerido pelo Estado norueguês.
A prosperidade da Noruega, porém, não é fruto da exploração de colônias
ou de desenvolvimento industrial pioneiro. Independente da Suécia
apenas em 1905, a Noruega era o “primo pobre” entre os países nórdicos,
tendo a situação agravada ainda mais com a Segunda Guerra Mundial,
quando o território foi ocupado por forças da Alemanha nazista. A
recuperação do país foi iniciada com o Plano Marshall, mas o atual
estágio de desenvolvimento passou a ser uma realidade alcançável a
partir da década de 1970. Andre Lion/Opera Mundi
Vista de Oslo: Noruega é país com melhor IDH do mundo, graças ao petróleo e a altos impostos
O momento da virada norueguesa é 1969, quando foi encontrado petróleo
pela primeira vez no mar do Norte. “O óleo é claramente fundamental para
o desenvolvimento da sociedade norueguesa. Não dá para entender a
situação da Noruega sem pensar na questão do óleo. Podemos pensar que a
descoberta desse recurso natural foi uma sorte, mas, por outro lado, ele
foi muito bem manejado pelo Estado”, afirma Axel West Pedersen,
pesquisador do Instituto de Pesquisa Social, que já desenvolveu
trabalhos para a União Europeia.
Como uma das características principais desse sucesso norueguês ao
administrar o dinheiro oriundo do petróleo, pode-se citar a criação de
um fundo, considerado o maior do mundo. Anualmente, o governo tem o
direito de gastar em seu orçamento apenas 4% desse montante, de pouco
menos de US$ 1 trilhão, com o objetivo de garantir que as novas gerações
também se beneficiem do recurso mineral.
Para se ter uma ideia do valor recebido pela Noruega, dez anos depois
do início da exploração de petróleo e gás, a atividade já representava
um terço do lucro do país com exportações. Além disso, até o final de
2012, a exploração de petróleo já tinha rendido à Noruega cerca de R$
1,14 trilhão, pouco mais que o dobro do PIB (Produto Interno Bruto)
local. Resistência à privatização
Nas últimas cinco décadas, durante o processo de melhoria da
infraestrutura nacional, a Noruega teve que resistir a forte pressão
pela privatização do setor. “Quando havia empresas estrangeiras
explorando a nossa reserva, asseguramos que elas fossem obrigadas a
treinar noruegueses, de forma que pudéssemos um dia consolidar uma
indústria própria de extração de petróleo. Também obrigamos as
companhias estrangeiras a pagar até 78% de impostos”, conta Heikki
Holmås, parlamentar do Partido Socialista. O alto valor dos impostos, por sinal, não é uma exclusividade desse
setor da economia. Para financiar a qualidade de vida mais elevada do
mundo, o Estado norueguês cobra 42% de Imposto de Renda.
“Nosso modelo de desenvolvimento é semelhante aos dos outros países
nórdicos. Por meio do Estado do bem-estar social, garantimos uma série
de direitos iguais para toda a população e esse modelo é acompanhado de
altos impostos. A população aceita altas taxas tributárias porque recebe
de volta do Estado um serviço de saúde gratuito, boas escolas, licença
maternidade de até um ano, entre outros benefícios sociais”, explica a
parlamentar do Partido Trabalhista Marit Nybakk.
De acordo com Marit, esse modelo é bem-sucedido quando, antes do Estado
do bem-estar social, são criados valores comuns na sociedade local. No
caso da Noruega, entre esses valores está a busca pela igualdade de
gênero, um dos motivos que garante o país no topo do IDH há cinco anos,
quando comparamos os dados dos países que lideram a lista.
“A igualdade de gênero é parte de uma consciência ideológica própria
dos noruegueses, é um ideal muito estimado aqui. Mesmo assim ainda temos
algumas diferenças importantes entre os gêneros, temos que reconhecer
isso. Se por um lado vemos alta participação de mulheres nas
universidades, chegando a representar 70% dos formados na Universidade
de Oslo em 2013, elas costumam optar por trabalhos de meio período e no
setor público, enquanto os homens predominam na iniciativa privada”,
analisa Pedersen. Taxa de natalidade e educação
Além de salários e oportunidades semelhantes para homens e mulheres, o
Estado ainda incentiva o aumento da taxa de natalidade, pagando os
salários das mães por um ano, dando bolsas para os jovens até a
maioridade e oferecendo educação gratuita de qualidade.
“Nunca me senti discriminada e acredito que sempre tive as mesmas
oportunidades dadas aos homens. Agora tive o meu primeiro filho e
pretendo ter outros. É muito bom poder ficar cuidando dele por um ano,
com a certeza de que voltarei ao meu emprego depois”, diz a
fisioterapeuta Christina Tanem, 33 anos. Andre Lion/Opera Mundi
Ópera Nacional Norueguesa, em Oslo: país tem alta qualidade de vida
A busca por aumentar o número de nascimentos no país se deve ao
envelhecimento da população, fenômeno que afeta com gravidade diversos
países da Europa. Especificamente na Noruega, a porcentagem de pessoas
com mais de 67 anos era de 8% em 1950. Em 2014, esse índice chegou a
13%.
Nas últimas décadas, como parte desse processo, o país alterou o perfil
das mulheres que têm filhos. Na Noruega, as mulheres têm seus primeiros
filhos, em média, com 28,6 anos, e mais da metade delas (54,9%) o faz
sem estarem casadas.
Outro dado interessante é que, em 1970, 11% dos nascimentos vinham de
mães adolescentes. Hoje, esse número caiu para menos de 2%. A mudança
foi possível com a legalização do aborto, que faz parte das políticas de
igualdade de gênero do país e, anualmente, é a escolha de 2% das
mulheres entre 20 e 24 anos.
Além
das licenças maternidade e paternidade, a educação pública e gratuita
de qualidade é outro elemento central para incentivar os noruegueses a
terem filhos.
“Os alunos vão para uma ou outra escola devido à proximidade de suas
casas e o Estado faz testes anuais para acompanhar a qualidade de cada
instituição. Os diretores têm bastante autonomia, pois há apenas um
currículo básico e os métodos podem ser alterados, não existe uma regra
sobre número de alunos por sala, por exemplo. Aqui também temos projetos
em comum entre alunos de séries diferentes, pois fazemos com que os
mais velhos desenvolvam habilidades como ensinar os mais novos”, conta
Elin Brandsæter, diretora de uma escola que reúne 538 jovens de 38
nacionalidades diferentes, que cursam ensino primário e secundário.
O cientista social Pedersen concorda com a centralidade da educação no
modelo nórdico de sociedade. “Um aspecto realmente importante da
sociedade na Noruega é o modelo de educação pública, muito inclusivo.
Ele propõe a interação entre crianças de diferentes classes sociais, o
que gera inúmeras consequências positivas. Um dos nossos desafios é
manter essa característica, mesmo quando os imigrantes passam a viver em
locais mais segregados, por exemplo. De qualquer maneira, se o ensino
fosse privado aqui esse desafio seria ainda maior. O modelo deu mais
certo aqui porque os guetos são maiores na Suécia e na Dinamarca. Na
Suécia, houve inclusive um movimento de privatização das escolas, mas
acabou sendo muito malsucedido.” Monarquia
A aparência de modernização na Noruega é acompanhada de um traço
curioso: o país ainda é uma monarquia. O rei Harald V tem poderes
limitados, mas realiza reuniões semanais com o gabinete do
primeiro-ministro.
Rei Harald V: país ainda é uma monarquia; rei é bastante popular entre noruegueses
Além das formalidades, Harald V também desfruta de alta popularidade.
Segundo pesquisa divulgada em 2014, ele tinha 90% de aprovação da
população, o que lhe dava o título de monarquia mais popular do mundo.
As famílias reais de Dinamarca e Holanda apareciam na sequência do
estudo, com 80% de aceitação. http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/40450/noruega+petroleo+e+altos+impostos+sustentam+pais+com+maior+qualidade+de+vida+do+planeta+.shtml
Para economista, com a nova
relação cambial no país, produtos importados devem ser substituídos por
nacionais, atraindo investimentos para o parque industrial brasileiro
por Redação Rede Brasil Atual - Marcio Pochmann - Sociedade e o Comércio no Brasil
Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
Moeda norte-americana rompeu a barreira histórica dos R$ 4 ontem (22/set): expectativa para indústria
São Paulo – O dólar comercial rompeu em 22/set/2015 o
teto de R$ 4 e chegou a R$ 4,06. O economista, professor e escritor
Marcio Pochmann, em comentário hoje à Rádio Brasil Atual, analisou a situação da alta da moeda norte-americana, identificando os fatores internos e externos que influem no câmbio.
“Há uma orientação por parte do governo federal de estabelecer um
novo patamar da nossa moeda com a moeda externa, especialmente o dólar.
Isso acontece porque o Brasil vem há duas décadas tendo o real muito
valorizado em relação ao dólar. E esta valorização tem efeitos
positivos, porque permitiu combater a inflação, por exemplo, mas ao
mesmo tempo foi deprimindo e tornando mais difícil a produção interna no
Brasil”, afirmou.
O período de valorização do real fez com que parte do crescimento da
economia fosse atendida por consumo com importações. E agora, segundo
Pochmann, o governo da presidenta Dilma Rousseff promove a
desvalorização com o objetivo de melhorar as contas externas. No caso da
balança comercial, os resultados já apareceram. “O Brasil vive
atualmente uma situação de superávit nas contas comerciais – as nossas
exportações estão maiores do que as importações, revertendo um quadro
desfavorável que o país vinha registrando nos últimos anos”, disse.
Mas também há fatores que não são de controle do governo federal.
Internacionalmente, há um movimento especulativo, especialmente em torno
da possibilidade de o governo norte-americano aumentar a taxa de juros
nos Estados Unidos. “E toda vez que há uma elevação da taxa, isso acaba
provocando um deslocamento de recursos em dólar de outros países para
serem aplicados nos Estados Unidos. Isso faz com que exista um movimento
especulativo contra as moedas nacionais.”
Há ainda um terceiro fator, diz o economista, associado à situação da
China, que vinha até há pouco tempo sendo o dínamo do crescimento
mundial e registra de 2014 para cá sinais de fragilidade. “Há um certo
desânimo na possibilidade de crescer em função da China, e isso também
fomenta uma saída de recurso, de escassez de dólares, e portanto
desvaloriza a nossa moeda.”
De maneira geral, os analistas dizem que há apenas efeitos negativos
derivados da elevação do dólar em relação ao real, porque produtos
importados tornam-se mais caros, e isso termina de alguma forma
repassado para preços, e torna também as viagens internacionais de
turismo mais difíceis. “Mas há um outro lado”, diz Pochmann, para quem
“é adequado que o Brasil tenha essa desvalorização frente ao dólar”.
Pochmann acredita, inclusive, que o país já deveria estar com essa
cotação há mais tempo, porque a valorização cambial tem sido muito
desfavorável para o parque produtivo brasileiro. "Hoje nós temos uma
indústria que responde por apenas 9% da produção, o país é cada vez mais
dependente da importação e, nesse sentido, a desvalorização faz com que
se estimule a produção interna.” Para o economista, a substituição de
importados por produtos nacionais vai criar empregos e impacto no
investimento das empresas. “É importante que a taxa de câmbio se
mantenha nesse patamar, para estimular a produção que anteriormente
vinha do exterior”, disse. Desta forma, temporáriamente é possível uma revalorização deste país. http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2015/09/desvalorizacao-cambial-estimula-criacao-de-empregos-na-industria-326.html