Depois de quatro anos de ataque
coordenado, ideológico e canalha, de inimigos internos e externos, o país
precisa, mais do que nunca, negociar uma frente ampla, nacionalista e
antifascista de defesa da soberania e da democracia
Com tecnologia própria, país descobriu a maior província petrolífera do mundo nos últimos 50 anos
Se, como dizia Von Klausewitz, a guerra é a
continuação da política por outros meios, na encarniçada guerra em que se
transformou a política, a missão do jornalismo deveria ser a de escrever a
história enquanto ocorre e acontece. Isso se a mídia não estivesse, na maioria
das vezes, a serviço de seus próprios interesses e de projetos de poder
mendazes, hipócritas e manipuladores.
Só os ingênuos acreditam em imprensa isenta em
uma sociedade capitalista – na qual ela defende o interesse de seus donos e
anunciantes. E mais ainda em um país como o Brasil, em que praticamente
inexistem meios de comunicação públicos, tampouco democráticos e de qualidade,
como em outros lugares do mundo.
A “história oficial” que tenta contar a mídia
brasileira hoje é a de que vivemos em um país subitamente assaltado, nos
últimos 15 anos, por “quadrilhas” e governos populistas e incompetentes. E que
tenta, por meio de uma justiça corajosa e impoluta, livrar-se desse flagelo
“limpando” a ferro e fogo a nação. Enquanto isso, um governo, coitado, que não
é perfeito, alçado ao poder pelas “circunstâncias”, tenta modernizar o Brasil
com reformas inadiáveis para tirá-lo de uma terrível bancarrota em que o
governo anterior o enfiou.
Mas a história real que ficará registrada nos livros
do futuro falará de um Brasil que, no início do Século 21, chegou a sair da 14ª
economia do mundo para sexta nos últimos 15 anos – e que ainda ocupa nono lugar
entre as nações mais importantes do mundo. De uma nação que mais que triplicou
seu PIB nesse período – sem aumentar a sua dívida pública, seus débitos com
principais credores internacionais e quadruplicou sua renda per capita, além de
economizar mais de US$ 340 bilhões em reservas internacionais.
Um país que cortou o número de pobres pela metade,
quadruplicou o número de escolas técnicas federais, construiu quase 2 milhões
de casas populares, com qualidade suficiente para atrair até mesmo o interesse
de altos funcionários do Estado, como procuradores da República. Um país que
tinha voltado a construir refinarias, navios, grandes usinas hidrelétricas,
gigantescas plataformas de petróleo e descoberto, com tecnologia própria,
abaixo do fundo do mar, a maior província petrolífera do mundo nos últimos 50
anos.
Que expandiu o crédito e o consumo, duplicou sua
safra agrícola, projetou-se internacionalmente e forjou uma aliança geopolítica
com potências espaciais e atômicas, como Índia, China e Rússia, montando um
banco com a missão de transformar-se no embrião de uma alternativa ao sistema
financeiro internacional.
Que estava construindo submersíveis – entre eles,
o seu primeiro submarino nuclear – tanques, navios de patrulha, cargueiros
aéreos, caças-bombardeiros, radares, novos mísseis ar-ar, sistemas de mísseis
de saturação, uma nova família de rifles de assalto, para suas forças armadas,
por meio de forte apoio governamental a grandes empresas de engenharia de
capital majoritariamente nacional, integrando esses esforços com outros países,
também do próprio continente, para fortalecer a defesa e a soberania regional
contra eventuais agressões externas.
Um Brasil que, por estar fazendo isso, sofreu,
nos últimos quatro anos, um ataque coordenado, ideológico e canalha, de
inimigos internos e externos. Primeiro, com a revelação do escândalo de
espionagem do país, do governo e de empresas, que seriam “coincidentemente”
acusados de corrupção por parte de governos estrangeiros.
Depois, por meio de um golpe iniciado com
manifestações financiadas de fora do país, desde a época da Copa do Mundo, e de
uma ampla campanha de sabotagem midiática e de operações de contrainformação
permanentes, com o deslocamento para cá de embaixadores que estavam presentes
quando do desfecho de golpes semelhantes e recentes em outros países
sul-americanos, como o Paraguai, por exemplo.
Um golpe que, iniciado no ano de 2013, foi
finalmente desfechado em 2016 para gáudio do que existe de pior na política
brasileira e de nossos concorrentes internacionais. Concorrentes que, como
vimos, pretendiam não apenas parar o Brasil no caminho que estava seguindo, de
seu fortalecimento econômico, social e geopolítico, mas destruir a economia
brasileira, para se apossar, por meio de uma segunda onda de destruição e de
desnacionalização de nossas empresas, de nosso mercado interno e de nossos mais
importantes ativos públicos e privados a preço de banana, colocando no poder
“governos” de ocasião, entreguistas e dóceis às suas determinações e desejos.
Para fazer isso, os inimigos do Brasil agiram e
continuam agindo na frente política e na econômica, sustentados por paradigmas
tão falsos quanto mendazes. O principal deles, é o que reza que a corrupção é o
maior problema brasileiro, e que trata-se, ela, de um fenômeno recente em nossa
história, ou que alcançou supostamente “gigantescas” proporções a partir de chegada
do Partido dos Trabalhadores ao poder em janeiro de 2003.
Na
economia, por outro lado, era e é preciso vender o peixe de que o país está
quebrado, quando no grupo das 10 principais economias do mundo, pelo menos seis
países – EUA, Japão, Reino Unido, França, Itália, Canadá – têm uma dívida
pública maior que a nossa. O governo encontrou R$ 200 bilhões no caixa do
BNDES , “adiantados” em “devolução” ao tesouro, no lugar de serem investidos em
infraestrutura para a geração de emprego. E temos mais R$ 380 bilhões, ou mais
de R$ 1 trilhão, em reservas internacionais acumuladas nos últimos 15 anos, boa
parte, mais de R$ 270 bilhões, emprestada aos Estados Unidos, como se pode ver
pela página oficial do tesouro norte-americano.
Como já afirmamos aqui antes, se a situação real
da dívida brasileira era e continua sendo essa, com relação às outras nações
que concorrem no pelotão das maiores economias do mundo, por qual razão isso
nunca foi divulgado de forma clara, ampla, transparente, pelo governo e pela
grande mídia, e seus “especialistas” de plantão, desde a saída de Dilma? Porque
isso quebraria a espinha dorsal da “história oficial”, do discurso único, neste
momento, que afirma e reafirma a todo momento: que o PT quebrou o Brasil;
porque é necessário fazer reformas como a trabalhista e a previdenciária (vamos
ver o que nos reserva a tributária), senão o Brasil vai quebrar,
inexoravelmente, no futuro próximo.
Precisam justificar um teto para os gastos do
governo para os próximos 20 anos, dizendo que o Estado é superdimensionado e
perdulário, quando os EUA, por exemplo, apenas na área de defesa, tem mais
funcionários públicos do que o Brasil; quando eles se endividaram para se
desenvolver e continuarão a se endividar – e a se armar – livremente, no
futuro; enquanto nós estaremos sendo governados por imbecis ou espertalhões a
serviço de terceiros, vide os mais de R$ 200 milhões recebidos pelo ministro da
Fazenda no exterior nos últimos três anos – como se fôssemos uma mercearia,
preocupados não com geopolítica, mas apenas, supostamente, com receitas e
despesas, sendo condenados a subir no ringue da disputa em um mundo cada vez
mais complexo e competitivo com um olho vendado e um braço e uma perna
amarrados nas costas, com nações sem limite real de endividamento, que
privilegiam a sua própria estratégia nacional no lugar dessa estúpida
modalidade de austericídio.
Finalmente, precisam dizer que diante da
supostamente calamitosa situação que o país vive, não há outra saída a não ser
privatizar tudo – quando não entregar de mãos beijadas até mesmo a empresas
estatais estrangeiras – nossas próprias estatais e seus ativos, na bacia das
almas e a toque de caixa, porque elas trabalham mal, dão prejuízo; e servem
como cabides de emprego – como se empresas privadas não fossem useiras e
vezeiras em tráfico de influência e o genro do rei da Espanha, por exemplo – um
ex-jogador de handebol – não tivesse ganhado milhares de euros por reunião, em
escândalo conhecido, “pendurado” como membro do conselho de empresas
“privatizadas” para capitais espanhóis por estas bandas.
Como seria possível para o governo Temer entregar
o pré-sal por menos de R$ 20 bilhões, o controle da Eletrobras, a empresa líder
de nossos sistema elétrico, por R$ 13 bilhões, e até a Casa da Moeda – país que
repassa a terceiros o direito de imprimir o seu dinheiro não merece ser chamado
de nação – se ele admitisse que tem, deixados pelo PT – que acusa de ter
quebrado o país – mais de um trilhão de reais em caixa, à disposição do Banco
Central, além de uma quantia superior ao que está querendo arrecadar com
privatizações apenas nos cofres do BNDES?
Da mesma forma é preciso vender o peixe de que a
corrupção é o maior flagelo do país para justificar a morte da engenharia
brasileira, a destruição de nossas principais empresas nas áreas de energia,
defesa, indústria naval e infraestrutura, e interditar judicialmente centenas
de bilhões de dólares em projetos, obras e programas – vide o sucateamento e venda
para a Gerdau, para derreter, de 80 mil toneladas de aço em peças de duas
megaplataformas da Petrobras que estavam prontas para serem montadas, com a
eliminação de milhões de empregos.
Com tudo isso, o Brasil não apenas perdeu
centenas de bilhões de dólares em obras, empresas, desvalorização de ações,
como também entregou e continua entregando de mão beijada, suas prerrogativas e
instrumentos de desenvolvimento ao exterior, apesar de estarmos vivendo, nesta
primeira quadra do século 21, em um mundo cada vez mais nacionalista, complexo
e competitivo.
A doutrina da vira latice, do mais abjeto e
abnegado entreguismo, tomou conta das redes sociais e de sujeitos que
desgraçadamente – para a nação – nasceram em solo brasileiro, e não tem pejo de
pedir na internet ao governo Temer que entregue tudo, nosso petróleo, nossos
minerais, nossas terras, nosso mercado, nossas empresas estatais aos gringos.
Já não basta o desprezo pelo PT e o Nordeste, ou
– como se viu nas reações à morte da turista espanhola morta por um bloqueio da
PM no Rio de Janeiro – a tudo que esteja ligado à periferia das grandes
cidades. É preciso bradar, cinicamente, vestido de verde e amarelo, o ódio que
ficou por tanto tempo represado, dentro dos pulmões de uma gente tão calhorda
quanto desprezível, contra o próprio país e tudo que lembre nacionalismo,
brasilidade, soberania, nestes tempos imbecis e vergonhosos que estamos
vivendo.
A desculpa é sempre a mesma. As empresas estatais
seriam – contradizendo o próprio discurso anticorrupção que está acabando com
dezenas de empresas e grupos econômicos privados nacionais – mais “corruptas” e
propícias à criação de “cabides de empregos” que as empresas privadas ou
privatizadas, embora sujeitos que participaram diretamente da privatização da
Telebras tenham pendurado depois durante anos seu paletó na cadeira de
presidente de grandes grupos estrangeiros que retalharam entre si o mercado
brasileiro de telefonia móvel e até mesmo o genro do Rei da Espanha,
especialista em handebol, tenha participado da farra, ganhando milhares de
euros para participar de reuniões do Conselho dessa mesma empresa na América
Latina.
Com a aprovação da PEC do teto dos gastos – que
nos obriga a limitar nossos investimentos estratégicos quando nenhuma das
maiores economias do mundo utiliza um gesso semelhante – a entrega do pré-sal a
gigantes internacionais como a Shell e a Exxon, a “venda” de refinarias e
outros ativos da Petrobras a mexicanos a preço de banana; a propalada
“privatização” da Eletrobras, do Banco do Brasil, e da própria Petrobras,
apesar dessas empresas já serem, na verdade, “privatizadas” por terem ações em
bolsa; a defesa da isenção de vistos para países que não nos oferecem
reciprocidade, a crescente, e desigual, “cooperação” militar entre o Brasil e
os EUA; a discussão da entrega da Base Espacial de Alcântara aos Estados
Unidos, e a vitória da mentalidade privatista que afirma que somos
incompetentes, como país ou Estado, para cuidar do que é nosso, estamos nos
transformando cada vez mais, de fato e doutrinariamente, naquele sujeito que,
incapaz de administrar sua casa, seus negócios e sua família, decide resolver o
problema chamando o vizinho para colocar, no cinto, moral nos seus filhos, e
dormir na mesma cama que a sua esposa, e, achando que está fazendo um grande
negócio, coloca uma coleira e se muda, de mala e cuia, para a casa do cachorro.
Com o perdão da imagem e da carapuça – no caso,
bem fornida na parte de cima – estamos correndo o risco de que nos transformem
definitivamente, por abjeção explícita, no corno da rua entre os maiores países
em PIB, território e população do mundo.
A criação da Frente Parlamentar Mista em Defesa
da Soberania Nacional, neste ano, com centenas de deputados e senadores, e sua
interação com organizações dignas e centenárias como o Clube de Engenharia,
mostra, no entanto, que a nação não está entregue, apenas, a uma patética e
miserável estirpe de entreguistas oportunistas e invertebrados.
O recuo do governo em questões como a da Renca e
do trabalho escravo nos diz que não há luta que seja em vão, quando estão em
jogo os direitos do povo brasileiro e os perenes interesses da Pátria. É
necessário, no entanto, que se amplie urgentemente a resistência e a
mobilização em torno dessa e de outras bandeiras.
O país precisa, mais do que nunca, negociar a
estruturação de uma frente ampla, nacionalista e antifascista, de Defesa da
Soberania e da Democracia, neste momento.
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/134/o-corno-da-rua