Foto: José Wagner /
ex.GovBA
Novas tecnologias para aperfeiçoar os
cultivos de mel...
A estiagem traz prejuízos
incalculáveis aos agricultores familiares. “A seca afeta principalmente a
pequena pecuária e a agricultura, pois os grandes produtores têm mais recursos
para combatê-la, pois sempre ocuparam as terras perto de rios e contam com
abastecimento de água mais farto. Os programas sociais nesse campo têm um papel
importante para diminuir os efeitos da seca”, afirma a economista Tania
Bacelar, sócia da consultoria Ceplan.
A importância da agricultura familiar e os efeitos da seca sobre o segmento
estimulam a discussão sobre o tamanho do Brasil rural. Para o secretário do
Desenvolvimento Agrário do Ceará, Dedé Teixeira, estudos recentes apontam um
fenômeno recente, uma nova ruralidade, que engloba dois tipos de produtores:
famílias que habitam zonas periféricas das grandes cidades e plantam para
subsistência ou para vender a vizinhos e agricultores de pequenas cidades que
empurram a economia local.
Sete anos atrás, 70% dos municípios tinham menos de 20 mil
habitantes e quase 90% tinham menos de 50 mil habitantes. Os indicadores de que
16% da população vive no meio rural, sugere esta análise, estariam defasados e
contrastam com a realidade.
...e caju (Foto: Mateus
Pereira / GovBA) Fotos: José Wagner
“Esse direcionamento aponta que quase 40% da
população no Brasil está ligada a essa nova realidade. Isso cria a percepção de
que a União, os estados e os municípios precisam ter uma visão diferente sobre
o tema e os orçamentos públicos precisam contemplar essa discussão, que precisa
ganhar espaço na sociedade”, destaca.
“O que faz a gente desconfiar do total de 16%
que vive no meio rural, apresentado pelos indicadores, é a quantidade de
municípios com menos de 20 mil habitantes no País, que são 70%. Um habitante do
perímetro urbano de um município de 5 mil habitantes é tido como urbano. É
comparado com o morador de São Paulo. O Brasil rural é muito maior do que a sociedade
pensa”, acrescenta Tania Bacelar, uma das pesquisadoras que estimam o Brasil
rural em 40%.
Os governos estaduais apostam em diversas estratégias para
fomentar o segmento. Estado com maior número de agricultores familiares, a
Bahia investe 260 milhões de dólares desde 2015 em um programa chamado Bahia
Produtiva, para adensar cadeias produtivas de agricultores familiares, que
conta com recursos do Banco Mundial.
Foram executados até o momento pouco mais de
170 milhões de reais. Até 2020, mais de 500 milhões de reais serão investidos.
Recentemente, foi aberto um edital para a cadeia do cacau, por meio do qual
foram selecionados 32 projetos que receberão 10 milhões de reais. “Queremos
explorar o máximo essa cadeia, 90% do cacau produzido na Bahia vem de
agricultura familiar. Queremos adensar com outros produtos, como manteiga de
cacau, chocolate com mais teor de cacau”, afirma Jerônimo Rodrigues, secretário
de Desenvolvimento Agrário.
No Maranhão, os focos são a produção de mel,
enviado in natura para os estados vizinhos, como o Piauí, e
recomprado industrializado, e de açaí, cuja fruta é em grande
parte processada no Pará. “Queremos mudar essa realidade e adensar essas
cadeias e produzir riqueza aqui”, afirma Adelmo Soares, secretário de
Agricultura Familiar. Em agosto, a Associação dos Apicultores de Junco do
Maranhão foi contemplada por uma chamada pública feita pelo governo para
selecionar projetos de revitalização de agroindústrias familiares da cadeia
produtiva do mel.
A associação receberá 100 mil reais que serão
usados para reformar as unidades de produção e melhorar o processo de obtenção
de licenças ambientais e registros sanitários, para garantir a inocuidade e a
qualidade do mel. Com cerca de 45 famílias associadas, a expectativa da coleta,
que vai do período de julho a outubro, é produzir perto de 200 toneladas do
produto para comercialização.
Rodrigues, secretário na
Bahia, e Teixeira, do Ceará
O estado ainda prepara
duas novas chamadas públicas, uma direcionada ao açaí e outra ao babaçu.
“Queremos exportar o óleo de babaçu, já que exportamos apenas o coco”, afirma o
secretário. Para o açaí, preveem-se investimentos de 540 mil reais, que
beneficiariam até 70 produtores dos municípios de Amapá, Cândido Mendes,
Godofredo Viana, Carutapera e Luís Domingues.
No Ceará, o governo assinou
em agosto um decreto que cria a política de aquisição de alimentos da
agricultura familiar, destinado a cinco modalidades: compra com doação
simultânea, compra direta, incentivo à produção e ao consumo de leite, apoio à
formação de estoques e compra institucional.
De
janeiro de 2016 até junho de 2017, o estado comprou perto de 150 milhões de
reais em alimentos. “Com esse decreto, pelo menos 30% serão da agricultura
familiar, são cerca de 2,5 milhões de reais por mês. Isso também vai garantir
aos produtores condições mais saudáveis nessa cadeia alimentar e, o mais
importante, será um complemento ao trabalho dos nossos agricultores”, destaca
Teixeira.
O Ceará investe ainda na
distribuição de mudas de cajueiros-anões, variedade que antecipa em dois meses
e prorroga por mais dois meses a produção. Um cajueiro comum produz 280 quilos
por hectare em um ano. A espécie anã produz até mil quilos por hectare no mesmo
período. Normalmente, a safra inicia-se em setembro de um ano e segue até
janeiro do seguinte. “Temos 10% dos hectares plantados de caju do estado com
essa variedade”, aponta Teixeira. O Ceará é o maior produtor da fruta no
Brasil.
Incorporar novas
tecnologias para assegurar produtos com alta segurança alimentar tem sido o objetivo
do governo da Paraíba, que tem promovido uma série de
cursos sobre boas práticas de fabricação de alimentos para agricultores de
polpa de frutas e derivados do leite. Outra iniciativa é o fomento de feiras
locais. Em julho, foi a vez do município de Bonito de Santa Fé, no sertão da
Paraíba. A feira, que funciona às sextas-feiras, reúne cerca de 20 produtores
que se dividem em dez barracas com produtos agrícolas e animais.
O principal financiador da cadeia é o Banco
do Nordeste, que investirá 2,5 bilhões de reais na safra iniciada em julho
deste ano. O valor equivale a um acréscimo de 8% em comparação à safra
anterior. Os juros variam de 0,5%, 2,5% e 5,5% ao ano, a depender da destinação
do crédito. As taxas mais reduzidas favorecem a produção de alimentos em
sistemas de base agroecológica e orgânica, assim como os investimentos em
energia renovável, irrigação e práticas sustentáveis de manejo do solo e da água.
Para este ano, a novidade é uma nova linha
com foco em investimentos em energia solar.“Ela vai aumentar a competitividade
de atividades no meio rural e contribuir para a utilização de energia renovável
e limpa no meio rural”, afirma Alex Araújo, superintendente de Microfinança e
Agricultura Familiar.
Os governos estaduais têm buscado reduzir o
impacto da seca no interior, com a instalação de cisternas. No Ceará, desde
2015 foram instaladas cerca de 40 mil cisternas, além de a administração ter
ampliado o programa de reúso de água em comunidades do interior. No Maranhão, o
governo estruturou um programa para a distribuição de cisternas a escolas
rurais e a agricultores familiares. Outro programa fortalecido foi o Mais
Feira, que distribui um kit composto de barracas, balanças, jalecos, caixa de
isopor, gaiola plástica para aves e treinamento de comercialização e higiene.
https://www.cartacapital.com.br/especiais/nordeste/da-agricultura-familiar-vem-a-base-da-alimentacao-nacional
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