Páginas

10.28.2025

Usas a Internet: Cuidado, Ladroes se Divertem Conosco e Ganham Dinheiro

Estamos na mão de hackers bandidos, que vazam. No ultimo grande vazamento,  roubaram 183 milhões de senhas do Gmail e outros provedores

As grandes plataformas fazem “cara de paisagem”, estão nem ai para nos

Especialista em ciber-segurança alerta para risco de ataques em cadeia e recomenda trocar senhas e ativar autenticação de dois fatores

por Paulo Emilio no Brasil 247 – Sociedade e Ladroes Divertem-se as Nossas Custas nas Plataformas Corruptas

Computador (Foto: Kacper Pempel / Reuters )

Um dos maiores vazamentos de dados da história expôs mais de 183 milhões de senhas e endereços de e-mail de usuários de provedores como Gmail, Yahoo e Outlook entre outros. O caso foi revelado nesta segunda-feira (27-out-2025) pelo especialista australiano em ciber-segurança Troy Hunt, criador da plataforma Have I Been Pwned, que detalhou a magnitude da violação.

Ao todo, 3,5 terabytes de dados foram comprometidos, abrangendo contas de diversos serviços online. “Todos os principais provedores têm endereços de e-mail lá. Eles vêm de todos os lugares que você possa imaginar, mas o Gmail sempre aparece em grande destaque”, declarou Hunt ao Daily Mail,de acordo com o jornal O Globo.

Minha senha foi vazada, não sei: confira neste site Have I Been Pwned

Os usuários podem verificar se suas contas foram afetadas acessando o site Have I Been Pwned, ferramenta que permite consultar se um e-mail foi envolvido em algum vazamento nos últimos dez anos. Caso o endereço apareça entre os comprometidos, a recomendação é alterar imediatamente a senha e ativar a autenticação de dois fatores (2FA), uma medida que reforça a segurança contra acessos não autorizados.

Hunt também alertou que senhas reaproveitadas em outros serviços — como Amazon, Netflix e eBay — podem ter sido igualmente expostas. “Os registros dos ladrões expõem as credenciais que você insere nos sites que visita e depois faz login”, afirmou o especialista, destacando que o uso da mesma senha em múltiplas plataformas amplia o risco de ataques em cadeia.

Origem e impacto do vazamento

As investigações indicam que a violação ocorreu em abril de 2025, mas só foi identificada recentemente, após cruzamento de informações com bases de dados e fóruns da dark web. Esse tipo de atraso é comum em mega-vazamentos, já que hackers geralmente compartilham ou vendem os dados em camadas ocultas da internet antes que especialistas consigam rastrear a origem.

O episódio reacende o debate sobre a fragilidade das senhas tradicionais e a necessidade de estratégias mais robustas de proteção digital. Especialistas recomendam o uso de gerenciadores de senhas, autenticação biométrica e 2FA para reduzir os riscos de novas exposições.

  *Paulo Emilio

Publicado no Brasil 247: 27 de outubro de 2025

Fonte: https://www.brasil247.com/mundo/megavazamento-expoe-183-milhoes-de-senhas-do-gmail-e-outros-provedores

10.24.2025

Brasil: A Mentira Sobre o Comunismo

por Mauro Santayana, jornalista do Jornal JB

 
A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando moda ser de extrema direita — baseia-se em manipulação, com que se tenta, por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar criando uma absurda realidade paralela.
Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita fundamentalista, surgem por todo mundo, como nos piores tempos da guerra fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de se defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma absolutamente fantasiosa, 100 milhões de mortos ao comunismo na Rússia (ou União Soviética) socialista.

 
Busca-se associar, o marxismo ao nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado na Segunda Guerra Mundial, em que os alemães e seus aliados perderam 850 mil homens, e a Batalha de Berlim, vencidas pelas tropas do Exército Vermelho — que cercaram e ocuparam a capital alemã e obrigaram Hitler a se matar — a Alemanha nazista teria tido tempo de desenvolver sua própria bomba atômica e não teria sido derrotada.

 
Quando houve o Golpe Militar no Brasil, o povo preparava-se para reeleger novamente Juscelino Kubtchek, presidente da República em 1965 Quem compara o socialismo ao nazismo, se esquece de que, sem a heróica resistência da Rússia, o complexo industrial-militar, e o sacrifício dos povos da União Soviética (Rússia) — que perdeu na Segunda Guerra Mundial 30 milhões de habitantes — boa parte dos anticomunistas de hoje, incluídos católicos não arianos e sionistas, teriam sido mortos nas câmaras de gás e nos fornos crematórios de Auschwitz, Birkenau e outros campos de extermínio.Espalha-se, na internet — vários autores que não conhecem a história, uns por ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso — que o Golpe Militar de 1964 — apoiado e financiado pelos Estados Unidos — foi uma contrarrevolução preventiva. O país era governado por um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do Estado de Direito, e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck presidente da República em 1965.

 
1964 foi uma aliança de oportunistas, desde empresários, imprensa, clero políticos,etc. Civis que há anos almejavam chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso, segmentos conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e oficiais — não todos — golpistas que odiavam a democracia e não admitiam viver em um país livre.


Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres fascistas pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do papa Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como quaisquer outras — e não são os monstros apresentados pela extrema-direita, sob a farsa do “marxismo cultural” — representam um apelo à razão e um alento.


Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer, pelo menos até agora, que Habemus Papam, com a clareza da fumaça branca saindo, na Praça de São Pedro, em dia de conclave, das  chaminés do Vaticano.


http://www.jb.com.br/coisas-da-politica/noticias/2013/12/17/habemus-papam-2/

 

Brasil: Pobres São Proibidos de Entrar nos Estádios de Futebol

A sensação de fazer o ritual dominical, de acordar cedo, prosear sobre a rodada do campeonato no boteco já com a camisa da sorte, abrir um refrigerante ou cerveja, brincar com a(o) amiga(o) sobre o jogo passado, comer um frango assado, pegar um ônibus ou trem lotado rumo ao estádio, encontrar o amigo ou amiga da arquibancada duas estações ou pontos depois, chegar e comprar uma bandeira do ambulante e entrar para empurrar e jogar junto com as(os) 11 jogadoras(es) do clube de coração, é a felicidade da(o) torcedora(or)...

 

por Walmyr Jr* no jornal JB – Sociedade e Invisibilidade dos Pobres no Esporte Brasileiro

 

Foto futebol na várzea em Santos SP, na internet

 

Um samba que embalou carnavais de diversos foliões por todo o Brasil, “Domingo, eu vou ao Maracanã.” de Neguinho da Beija-Flor, que tem sua letra original uma alusão ao time flamengo, virou um canto dos demais cariocas, botafoguenses, tricolores e vascaínos, assim como torcedores ou torcedoras de outros estados, vão ao delírio ao cantar essa melodia sagrada.  O grito entoado com muito orgulho pelos torcedoras(es) em estádios de todo o Brasil, se adaptando a cada realidade cultural e local, a alegria expressa se assemelha a um fenômeno religioso ou um mantra nepalense.


A música traz uma reverencia a(o) torcedora(or) brasileira(o), ao povo brasileiro, e cultura do futebol em nosso país. Essa cultura ligada diretamente a(o) trabalhadora(or) e as classes mais populares, que se matam de trabalhar durante a semana e aos domingos, vão ver o seu clube do coração no estádio de futebol. Essa classe social é onde estão Marias, Julianas, Pedros, Joãos, Claudias, Josés, Franciscos entre ouras(os), tem no futebol uma das poucas oportunidade de lazer e diversão.


A sensação de fazer o ritual dominical, de acordar cedo, prosear sobre a rodada do campeonato no boteco já com a camisa da sorte, abrir um refrigerante ou cerveja, brincar com a(o) amiga(o) sobre o jogo passado, comer um frango assado, pegar um ônibus ou trem lotado rumo ao estádio, encontrar o amigo ou amiga da arquibancada duas estações ou pontos depois, chegar e comprar uma bandeira do ambulante e entrar para empurrar e jogar junto com as(os) 11 jogadoras(es) do clube de coração, é a felicidade da(o) torcedora(or).


Durante muito tempo, essa era uma rotina de muitas(os) trabalhadoras(es) e operárias(os) das comunidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e de outros estados do Brasil. Porém nos últimos anos, o fantasma da "elitização dos estádios e varzeas" vem acabando com essa cultura. Grandes investidores estão começando a tomar conta. Vem sendo construído nos estádios brasileiros uma verdadeira política de em-branquecimento e higienização, centralizado na cultura européia como padrão de espetáculo. As inúmeras proibições como à venda de bebidas, o uso de instrumentos musicais, fim das gerais (ou coloninha) ( e a implantação do mito das cadeiras numeradas, são alguns dos exemplos daquilo que vem sendo chamado de “novas arenas nos mais recondutos recantos ex-tupy’s guarany’sn.


Para Wescrey Pereira, Diretor da União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ), “o grande aumento do preço do ingresso tem criado um futebol cada vez mais sem povo. O alto custo para assistir um jogo de futebol, assim como a exploração extrema dos salários está selecionando o consumidor,  e o futebol está sendo padronizado por abaixo”. Fica a seguinte indagação: “O que será dos estádios de futebol sem a irreverência do povo humilde brasileiro e com uma diversidade impressionante ?  A população humilde terá que achar outro lazer no domingo? Estão tirando das mãos da população seu patrimônio histórico”.
Hoje o futebol em que o povo humilde participava está agonizando, é preciso repensar o que nós brasileiras(os) somos e a importância do futebol assistido de pé sem a cadeira numerada. Pelo caminho que se tem traçado, precisaremos fazer um re-leitura do samba do Neguinho da Beija-Flor e cantar “Domingo, NÃO vou ao Maracanã.”


* Walmyr Júnior é graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

 
Fonte: http://www.jb.com.br/juventude-de-fe/noticias/2013/12/30/domingo-nao-vou-ao-maracana/

 

10.17.2025

Brasil : onde este país poderá chegar ?

Só assim os brados de soberania farão sentido. E só então poderemos comemorar de forma plena nossa independência 

por Jamil Chade no Uol – Sociedade e A Verdadeira Soberania Popular

Imagem na internet

Confrontado por um ataque deliberado por parte do governo dos EUA, ou seja, pela extrema direita internacional, pelas big techs (Google, WhatsApp, Meta, Apple, Instagran, Microsoft, Amazon, Tweet)  e por traidores criados em nossas entranhas (Jair Bolsonaro, Hugo Motta, Eduardo Bolsonaro, Sergio Moro, Tarcísio Freitas entre outros) o Brasil está diante de um desafio histórico. A encruzilhada no conceito de soberania está dada.

Na busca por restabelecer sua hegemonia, o presidente dos EUA atropela o direito internacional, as regras comerciais e pilares da ordem mundial que construíram os últimos 200 anos. Não atuará pelas regras da diplomacia.

De outro lado, a China anuncia, com pompas e um desfile militar sem precedentes, que não está disposta a ceder. Pequim quer que este seja o seu século (e surja com um novo imperialismo).

Neste contexto, a pergunta que deve percorrer todos os ministérios, entidades empresariais, ativistas e acadêmicos é uma só: quem seremos neste novo mundo?

Diante do espelho, a pergunta é tão simples quanto desconcertante: temos um projeto de país?

Quando os ataques ocorreram, descobrimos sem surpresa que os problemas que enfrentaríamos nas exportações estavam relacionados, em grande parte, ao setor primário ou de baixo valor agregado (commodities). Fundamentais? Sem dúvida. Mas incapazes de garantir a inserção internacional do Brasil numa condição de força. Insuficiente para designar o país como uma peça crítica na revolução tecnológica.

Diante dos ataques de Trump, os americanos terão de pagar mais pelo café ou suco de laranja? Provável. Mas não será por conta de uma crise diplomática com o Brasil que faltarão os últimos modelos de celulares, laptops ou máquinas de tecnologia. Um sintoma de quem somos no mundo.

É esse o papel internacional que queremos ter?

Soberania, bradada a partir de palanques, é necessária. Mas insuficiente.

Não falo aqui dos "patriotas" que se submetem à subserviência de uma potência estrangeira. Daqueles que clamam de forma tão obscena por uma intervenção americana, em cenas que mais se parecem com chanchadas das piores qualidades.

Minhas preocupações são estruturais. Que soberania é essa que, em cada aldeia indígena, conta com uma antena da empresa de Elon Musk?

Onde estão armazenados os dados de servidores do Estado brasileiro?

Onde estamos no desenvolvimento da inteligência artificial, a nova energia nuclear no mundo?

Que soberania é essa que, no setor farmacêutico, pena para garantir autonomia do abastecimento de remédios e convive com um déficit bilionário?

Que soberania é essa que depende da moeda nacional de um outro país?

Se o nacionalismo não é a resposta, se o isolacionismo apenas aprofunda a ineficiência de um sistema, se o protecionismo apenas transfere ao consumidor a conta, o abalo sísmico causado por Trump exige que o Brasil elabore um plano estratégico.

Ela terá de passar por dois eixos:

O primeiro é uma inserção internacional independente, inteligente, capaz de catapultar a economia nacional, de fazer a transição energética e posicionar o país na disputa pelas novas tecnologias.

A segunda é a radicalização da democracia como instrumento para, finalmente, superar a desigualdade (será que a geração Z ajudara o Brasil nesta direção).

Radicalização pode soar como algo assustador

Mas ela é simplesmente a promoção de um aumento sem precedentes do orçamento para saúde, educação, saneamento, segurança, direitos fundamentais. Essa é a radicalização: garantir que os mais pobres estejam no orçamento e que os ricos estejam em seu financiamento.

O historiador Luiz Antonio Simas é contundente quando insiste que o Brasil é um "projeto bem-sucedido de país". Mas pondera: "Um projeto colonial, fundado na ideia de exploração da terra, na exploração dos corpos, no genocídio do indígena, na escravização do negro".

Ele tem razão. O projeto de país sempre existiu. O que precisamos agora é desfazê-lo, garantir que ele dê errado.

Só assim os brados de soberania farão sentido. E só então poderemos comemorar de forma plena nossa independência.

Publicado no Uol: 07/09/2025

Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/09/07/trump-coloca-soberania-brasileira-em-encruzilhada-temos-projeto-de-pais.htm

 

10.03.2025

A mulher e o homem são o ponto fraco da exploração...

...cuidamos do corpo regressando à natureza  e à Terra das quais, há séculos, nos havíamos exilado ou afastado...

por Leonardo Boff* no Mangue do Cachoeira

Somos seres complexos, vale dizer, sobre o que representa um sem-número de fatores, materiais, biológicos, energéticos e espirituais. Temos uma aparência com a qual nos fazemos convivemos uns com os outros e pertencemos ao universo dos corpos. Nosso interior é habitado por vigorosas energias positivas e negativas que formam a individualidade psíquica. Somos portadores da dimensão do profundo, assim rondam as questões mais significativas do sentido de nossa passagem por este mundo.
Estas dimensões convivem e interagem permanentemente, uma influenciando a outra e moldam aquilo que chamamos o ser humano.

Tudo em nós tem que ser cuidado, caso contrário perdemos o equilíbrio das forças que nos constroem e acabamos por perder a humanidade interior.
Ao abordar o tema do cuidado do corpo, antes de mais nada, devemos opor-nos conscientemente as duas coisas importantes  que a cultura mantem: por um lado o “corpo”, sem o espírito e por outro o “espírito” sem o corpo. Pensando e vivendo assim, perdemos a unidade da vida humana em corpo e espírito.


A propaganda comercial explora estes dois aspectos, apresentando o corpo não como a totalidade exterior do humano, mas sua parte separada entre corpo e espírito; enfim seus músculos, suas mãos, seus pés, seus olhos, o corpo físico separado do espírito, emocional.
A principal vítima desta verdadeira retaliação são as mulheres, pois o machismo secular se refugiou no mundo da comunicação, da propaganda, do marketing,da imprensa, expondo  partes da mulher, seus seios, seus cabelos, sua boca, seu sexo  e outras partes, continuando a fazer da mulher um “objeto de consumo” de homens machistas. Devemos nos opor firmemente a esta deformação cultural.

Importa tambem rejeitar o “culto do corpo” promovido pelo sem número de academias de ginástica e outras formas de trabalho sobre a dimensão física, como se a mulher-corpo ou o homem-corpo fossem uma máquina destituída de espírito, buscando performances musculares cada vez maiores.

Com isso não queremos desmerecer os exercícios dos vários tipos de ginástica a serviço da saúde e de uma integração maior corpo-mente. Pensamos nas massagens que revigoram o corpo e fazem fluir as energias vitais, particularmente, as ginásticas orientais como o yoga que tanto favorece uma postura meditativa ou emocional da vida. Ou no incentivo à uma alimentação equilibrada e sadia, incluíndo também o jejum, seja como opção voluntária ou seja como forma de equilibrar as energias vitais.

O vestuário ou a roupa que se usa merece consideração especial. Não possui apenas uma função utilitária ao nos proteger das intempéries da natureza ou do ambiente. Ele pertence ao cuidado do corpo, pois o vestuário ou a roupa representam uma linguagem, uma forma de revelar-se no teatro da vida. É importante cuidar  que a roupa seja expressão de um modo de ser e mostre o perfil estético da pessoa mesmo na moda. Especialmente significativo é na mulher, pois ela possui um relação mais íntima com o próprio  corpo e sua aparência.

Nada mais ridículo a demonstração de anemia de espírito, que as belezas construídas à base de botox e de plásticas desnecessárias, enfim da estética artificial, forçada. Sobre este embelezamento artificial está montada toda uma indústria de cosméticos e práticas de emagrecimento em clínicas e SPAs, que dificilmente servem a uma dimensão mais integradora do corpo. Entretanto não há que se invalidar as massagens e os cosméticos importantes para pele e para o justo embelezamento das pessoas.

Mas cabe reconher que há uma beleza própria de cada idade, um charme que nasce da existência feita de luta e trabalho, que deixaram marcas na expressão “corporal” do ser humano. Não há photoshop ou fotografia camuflada que substitua a beleza rude de um rosto de um trabalhador(a), talhado(a) pela dureza da vida e com traços faciais moldados(as) pelo sofrimento. A luta de tantas mulheres trabalhadoras, nas cidades,  no campo e nas fábricas  deixou em seus corpos um outro tipo de beleza, não raro,  com uma expressão de grande força e energia. Falam da vida real e não da artificial e construída. As fotos trabalhadas dos ícones da beleza convencional, são quase todos moldados, por tipos de beleza da moda e mal disfarçam a artificialidade da figura e a vaidade fria que aí se revela.

Tais pessoas são vítimas de uma cultura ou um estilo de viver que não cultiva o cuidado próprio de cada fase da vida, com sua beleza e irradiação do espírito, mas também com as marcas de uma vida vivida que deixou estampada no rosto e no corpo as lutas, os sofrimentos, as superações. Tais marcas criam uma beleza singular e uma irradiação específica, ao invés de engessar as pessoas num tipo de perfil de um passado irrecuperável.

Positivamente, cuidamos do corpo regressando à natureza  e à Terra das quais, há séculos, nos havíamos exilado ou afastado, imbuídos de uma atitude de sinergia e de comunhão com todas as coisas. Isso significa estabelecer uma relação, de amor, de biofilia e de sensibilidade para com os animais, as flores, as plantas, os climas, as paisagens e para com a Terra. Quando esta é mostrada a partir do espaço exterior, com essas belas imagens do globo terrestre, transmitidas pelos grandes telescópios ou pelas naves espaciais, irrompe em nós um sentido de reverência, de respeito e de amor à nossa Grande Mãe, de cujo útero todos viemos.

Ela é pequena, no espaço cósmico já envelhecida, mas irradiante, irreverente, viva.
Talvez o desafio maior para a mulher-corpo ou o homem-corpo consiste em ter um equilíbrio entre a auto-afirmação, sem cair na arrogância e no menosprezo dos outros e entre a integração no todo maior, da família, da comunidade, do grupo de trabalho e da sociedade, sem deixar-se massificar e cair no aceitar sem a mínima noção do que acontece. A busca deste equilíbrio não se resolve uma vez por todas, mas deve ser assumido no dia-a-dia,  pois, ele nos é cobrado a cada momento.

Há que se encontrar o equilíbrio adequado entre as duas forças que nos podem destruir ou fazer viver.

O cuidado em nossa aceitação no estar-no-mundo, envolve nossa dieta: o que comemos e o que bebemos. Fazer do que comemos um ato de nutrição, um rito de celebração e de comunhão com os outros que se alimentam e com os frutos  da generosidade da Terra. Saber escolher os produtos orgânicos ou os que tem menos química. Daí resulta uma vida saudável, que assume o princípio da precaução contra eventuais enfermidades, que podem se originar do ambiente danificado, degradado.

Assim a mulher-corpo ou  o homem-corpo deixam transparecer sua harmonia interior e exterior, como membro da grande comunidade de vida.

Leonardo Boff, teólogo e filósofo, é autor, também, de 'Proteger a Terra e cuidar da vida: Como escapar do fim do mundo' (Record, Rio de Janeiro, 2011).

Fonte: http://www.jb.com.br/leonardo-boff/noticias/2013/12/09/cuidado-do-corpo-contra-o-culto-do-corpo/