Mauro Santayana - Economia e Sociedade
Como o petróleo extraído pela Petrobras destina-se à produção de
combustíveis para o próprio mercado brasileiro, que deve aumentar com a
entrada em produção de novas refinarias, como a Abreu e Lima; ou para a
“troca” por petróleo de outra graduação, com outros países, a empresa
deverá ser menos prejudicada por esse processo.
A produção de petróleo da companhia está aumentando, e também as
descobertas, que já somam várias depois da eclosão do escândalo.
E, mesmo que houvesse prejuízo — e não há — na extração de petróleo
do pré-sal, que já passa de 500.000 barris por dia, ainda assim valeria a
pena para o país, pelo efeito multiplicador das atividades da empresa,
que garante, com a política de conteúdo nacional mínimo, milhares de
empregos qualificados na construção naval, na indústria de equipamentos,
na siderurgia, na metalurgia, na tecnologia.
A Petrobras foi, é e será, com todos os seus problemas, um
instrumento de fundamental importância estratégica para o
desenvolvimento nacional, e especialmente para os estados onde tem maior
atuação, como é o caso do Rio de Janeiro.
Em vez de acabar com ela, como muitos gostariam, o que o Brasil precisaria é ter duas, três, quatro, cinco Petrobras.
É necessário punir os ladrões que a assaltaram?
Ninguém duvida
disso. Mas é preciso lembrar, também, uma verdade cristalina. A
Petrobras não é apenas uma empresa. Ela é uma Nação. Um conceito. Uma
bandeira. E por isso, seu valor é tão grande, incomensurável,
insubstituível. Esta é a crença que impulsiona os que a defendem.
E, sem dúvida alguma, também, a abjeta motivação que está por trás dos canalhas que pretendem destruí-la.
Para os patriotas, e ainda os há, graças a Deus, o que importa mais,
na Petrobras, é seu valor intrínseco, simbólico, permanente, e
intangível, e o seu papel estratégico para o desenvolvimento e o
fortalecimento do Brasil.
Quanto vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, em nossa
geração, foram para as ruas e para a prisão, e apanharam de cassetete e
bombas de gás, para exigir a criação de uma empresa nacional voltada
para a exploração de uma das maiores riquezas econômicas e estratégicas
da época, em um momento em que todos diziam que não havia petróleo no
Brasil, e que, se houvesse, não teríamos, atrasados e subdesenvolvidos
que “somos”, condições técnicas de explorá-lo?
Quanto vale a formação, ao longo de décadas, de uma equipe de 86.000
funcionários, trabalhadores, técnicos e engenheiros, em um dos segmentos
mais complexos da atuação humana?
Quanto vale a luta, o trabalho, a coragem, a determinação daqueles,
que, não tendo achado petróleo em grande quantidade em terra, foram
buscá-lo no mar, batendo sucessivos recordes de poços mais profundos do
planeta; criaram soluções, “know-how”, conhecimento; transformaram a
Petrobras na primeira referência no campo da exploração de petróleo a
centenas, milhares de metros de profundidade; a dezenas, centenas de
quilômetros da costa; e na mais premiada empresa da história da OTC –
Offshore Technology Conferences, o “Oscar” tecnológico da exploração de
petróleo em alto mar, que se realiza a cada dois anos, na cidade de
Houston, no Texas, nos Estados Unidos?
Quanto vale a luta, a coragem, a determinação, daqueles que, ao longo
da história da maior empresa brasileira — condição que ultrapassa em
muito, seu eventual valor de “mercado” — enfrentaram todas as ameaças à
sua desnacionalização, incluindo a ignominiosa tentativa de alterar seu
nome, retirando-lhe a condição de brasileira, mudando-o para
“Petrobrax”, durante a tragédia privatista e “entreguista” dos anos
1990?
Quanto vale uma companhia presente em 17 países, que provou o seu
valor, na descoberta e exploração de óleo e gás, dos campos do Oriente
Médio ao Mar Cáspio, da costa africana às águas norte-americanas do
Golfo do México?
Quanto vale uma empresa que reuniu à sua volta, no Brasil, uma das
maiores estruturas do mundo em Pesquisa e Desenvolvimento, no Rio de
Janeiro, trazendo para cá os principais laboratórios, fora de seus
países de origem, de algumas das mais avançadas empresas do planeta?
Por que enquanto virou moda — nas redes sociais e fora da internet —
mostrar desprezo, ódio e descrédito pela Petrobras, as mais importantes
empresas mundiais de tecnologia seguem acreditando nela, e querem
desenvolver e desbravar, junto com a maior empresa brasileira, as novas
fronteiras da tecnologia de exploração de óleo e gás em águas profundas?
Por que em novembro de 2014, há apenas pouco mais de três meses,
portanto, a General Electric inaugurou, no Rio de Janeiro, com um
investimento de 1 bilhão de reais, o seu Centro Global de Inovação,
junto a outras empresas que já trouxeram seus principais laboratórios
para perto da Petrobras, como a BG, a Schlumberger, a Halliburton, a
FMC, a Siemens, a Baker Hughes, a Tenaris Confab, a EMC2 a V&M e a
Statoil?
Quanto vale o fato de a Petrobras ser a maior empresa da América
Latina, e a de maior lucro em 2013 — mais de 10 bilhões de dólares —
enquanto a Pemex mexicana, por exemplo, teve um prejuízo de mais de 12
bilhões de dólares no mesmo período?
Quanto vale o fato de a Petrobras ter ultrapassado, no terceiro
trimestre de 2014, a Exxon norte-americana como a maior produtora de
petróleo do mundo, entre as maiores companhias petrolíferas mundiais de
capital aberto?
É preciso tomar cuidado com a desconstrução artificial, rasteira e
odiosa, da Petrobras e com a especulação com suas potenciais perdas no
âmbito da corrupção, especulação esta que não é apenas econômica, mas
também política.
Petrobras/ABr
Petrobras tem valor simbólico, permanente e intangível, e papel estratégico para o desenvolvimento
A Petrobras teve um faturamento de 305 bilhões de reais em 2013,
investe mais de 100 bilhões de reais por ano, opera uma frota de 326
navios, tem 35.000 quilômetros de dutos, mais de 17 bilhões de barris em
reservas, 15 refinarias e 134 plataformas de produção de gás e de
petróleo.
É óbvio que uma empresa de energia com essa dimensão e complexidade,
que, além dessas áreas, atua também com termoeletricidade, biodiesel,
fertilizantes e etanol, só poderia lançar em balanço eventuais prejuízos
com o desvio de recursos por corrupção, à medida que esses desvios ou
prejuízos fossem “quantificados” sem sombra de dúvida, para depois ser —
como diz o “mercado” — “precificados”, um por um, e não por atacado,
com números aleatórios, multiplicados até quase o infinito, como tem
ocorrido até agora.
As cifras estratosféricas (de 10 a dezenas de bilhões de reais), que
contrastam com o dinheiro efetivamente descoberto e desviado para o
exterior até agora, e enchem a boca de “analistas”, ao falar dos
prejuízos, sem citar fatos ou documentos que as justifiquem, lembram o
caso do “Mensalão”.
Naquela época, adversários dos envolvidos cansaram-se de repetir, na
imprensa e fora dela, ao longo de meses a fio, tratar-se a denúncia de
Roberto Jefferson, depois de ter um apaniguado filmado roubando nos
Correios, de o “maior escândalo da história da República”, bordão esse
que voltou a ser utilizado maciçamente, agora, no caso da Petrobras.
Em dezembro de 2014, um estudo feito pelo instituto Avante Brasil,
que, com certeza não defende a “situação”, levantou os 31 maiores
escândalos de corrupção dos últimos 20 anos.
Nesse estudo, o “mensalão” — o nacional, não o “mineiro” — acabou
ficando em décimo-oitavo lugar no ranking, tendo envolvido menos da
metade dos recursos do “trensalão” tucano de São Paulo e uma parcela
duzentas vezes menor que a cifra relacionada ao escândalo do Banestado,
ocorrido durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso, que, em
primeiríssimo lugar, envolveu, segundo o levantamento, em valores
atualizados, aproximadamente 60 bilhões de reais.
E ninguém, absolutamente ninguém, que dizia ser o mensalão o maior
dos escândalos da história do Brasil, tomou a iniciativa de tocar,
sequer, no tema — apesar do “doleiro” do caso Petrobras, Alberto
Youssef, ser o mesmo do caso Banestado — até agora.
Para quem investe em bolsa, o valor da Petrobras se mede em dólares, ou
em reais, pela cotação do momento, e muitos especuladores estão fazendo
fortunas, dentro e fora do Brasil, da noite para o dia, com a flutuação
dos títulos derivada, também, da campanha antinacional em curso,
refletida no clima de “terrorismo” e no desejo de “jogar gasolina na
fogueira”, que tomou conta dos espaços mais conservadores — para não
dizer golpistas, fascistas, até mesmo por conivência — da internet.
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2015/02/manifestacoes-iradas-e-estapafurdias-guiam-os-canalhas-que-querem-destruir-a-petrobras-5804.html