China move-se para mercados mundiais, enquanto EUA fazem mais guerras e latinos recuam
por James Petras para Global Research e blog do Alok* – Sociedade, Geopolítica
e Economia Global
Depois de mais de uma década de crescimento e
estabilidade, os regimes progressistas latino-americanos recuaram e entraram em
declínio. Por que a China continua na mesma trilha de estabilidade e
crescimento, enquanto seus parceiros latino-americanos estão em retirada ou já
derrotados?
Brasil, Argentina, Venezuela,
Uruguai, Paraguai, Bolívia e Equador, por mais de uma década foram as histórias
de sucesso que a centro-esquerda latino-americana tinha a contar. As economias
nacionais cresceram, o gasto social aumentou, a pobreza e o desemprego foram
reduzidos e a renda média do trabalhador aumentou.
Na sequência, as economias
afundaram-se em crises, o descontentamento social aumentou e os regimes de
centro-esquerda caíram.
Diferentes da China, os regimes
de centro-esquerda latino-americanos não diversificaram as respectivas
economias: continuaram a depender pesadamente do boom das matérias
primas para o próprio crescimento e a estabilidade local.
As elites latino-americanas
tomaram empréstimos e dependeram de investimentos estrangeiro e do capital
financeiro, enquanto a China aprofundou o projeto de investimentos públicos,
infraestrutura, tecnologia e educação.
Progressistas latino-americanos
associaram-se a capitalistas estrangeiros e especuladores locais em especulação
imobiliária não produtiva e consumo, enquanto a China investia em indústrias de
inovação na China e no resto do mundo. Enquanto a China consolidou o próprio
prestígio político, os progressistas latino-americanos "aliaram-se" a
adversários multinacionais estratégicos em casa e no exterior para 'partilhar o
poder' –, processo que na verdade havia sido já preparado para expulsar do
poder os aliados "de esquerda".
Quando a economia dos países
latino-americanos baseada em commodities colapsou, lá se foram também
os laços políticos com os parceiros na elite. Diferente disso, as indústrias da
China beneficiaram-se dos preços baixos globais dascommodities, enquanto a
esquerda latino-americana padecia. Desafiada pela corrupção disseminada, a
China fez uma campanha gigante, com expurgo de mais de 200 mil funcionários
públicos. Na América Latina a esquerda ignorou os funcionários corruptos,
deixando para a oposição o trunfo de explorar os escândalos para deslocar do
poder funcionários e autoridades de esquerda.
Enquanto a América Latina
importava máquinas e componentes do ocidente, a China comprava as empresas
ocidentais que produzissem máquinas e respectivas tecnologias – e, na
sequência, implementou os avanços tecnológicos chineses e a favor dos
interesses da China.
A China conseguiu sobrepor-se à
crise, derrotou seus adversários e pôde expandir o consumo local e estabilizar
o próprio governo.
O centro-esquerda
latino-americano sofreu derrotas no Brasil, Argentina e Paraguai (...) e recuou
no Uruguai [e parece estar em recuperação, depois que] perdeu eleições na
Venezuela e na Bolívia.
Conclusão
O modelo econômico-político
chinês revelou-se capaz de melhor desempenho que o Ocidente imperialista e que
a América Latina esquerdista. Enquanto os EUA gastaram bilhões no Oriente Médio
para guerras que só interessam a Israel, a China investiu quantias similares na
Alemanha, para tecnologia avançada, robótica e inovações digitais.
Enquanto o "pivô para a
Ásia" do presidente Obama e da secretária de Estado Hillary Clinton não
passou de cara estratégia militar para cercar e intimidar a China, o "pivô
para os mercados" de Pequim realmente conseguiu aumentar a própria competitividade
econômica. Resultado disso, ao longo da última década, a taxa de crescimento da
China é três vezes maior que a dos EUA; e na próxima década, a China já terá
avançado praticamente o dobro, em relação aos EUA, no processo de robotização
de sua economia produtiva.
O "pivô para a Ásia"
dos EUA, doentiamente dependente de ameaças de militares e tentativas de
intimidar, custou bilhões de dólares em mercados e investimentos fracassados. O
"pivô para tecnologia avançada" da China demonstra que o futuro está
na Ásia, não no Ocidente. A experiência chinesa oferece lições importantes para
futuros governos latino-americanos de esquerda.
Em primeiro lugar e acima de
tudo, a China enfatiza a necessidade de equilíbrio econômico mais amplo e
superior a ganhos de curto prazo resultantes de booms de uma ou outra
matéria prima, ou de estratégias que promovam o consumismo sem noção.
Segundo, a China demonstra a
importância da educação profissional em geral e da educação técnica que forme
mão-de-obra para a indústria da inovação técnica, muito mais importante que as
escolas de business e management e que a educação
'especulativa' não produtiva não pesadamente enfatizada nos EUA.
Terceiro, a China equilibra
atentamente o gasto social combinado em investimentos na atividade produtiva
núcleo; na competitividade e nos serviços sociais.
A China aprofundou o crescimento,
a estabilidade social, o próprio compromisso com a educação/formação. Mas tudo
isso teve limitantes consideráveis, especialmente na área da igualdade social e
da ampliação do poder popular. E aqui a China tem o que aprender da experiência
da esquerda latino-americana. Os ganhos sociais dos governos da Venezuela
chavista merecem ser estudados e repercutidos; os movimentos populares na
Bolívia, Equador e Argentina, que tiraram os neoliberais do poder, podem fazer
fermentar os esforços chineses para superar o nexo business-Estado de
pilhagem e fuga de capitais.
A China, apesar de suas
limitações sociopolíticas e econômicas, tem resistido com sucesso às pressões
militares dos EUA e tem mesmo 'virado a mesa', em seus avanços sobre o
ocidente.
Em resumo, o modelo de
crescimento e estabilidade da China sem dúvida garante uma abordagem várias
vezes superior ao que se viu na América Latina, onde a esquerda sofreu duros
reveses, e ao caos que resultou do frenesi com que Washington tenta conseguir a
supremacia militar global.*****
Postado por * Dario Alok
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