Um samba que embalou carnavais de diversos foliões por todo
o Brasil, “Domingo, eu vou ao Maracanã.” de Neguinho da Beija-Flor, que tem
sua letra original uma alusão ao flamengo, virou um canto dos demais cariocas,
botafoguenses, tricolores e vascainos, assim como torcedores ou torcedoras de outros estados,
vão ao delírio ao cantar essa melodia sagrada. O grito entoado com muito orgulho pelos
torcedores(as) em estádios de todo o Brasil, se adaptando a cada realidade cultural
e local, a alegria expressa se assemelha a um fenômeno religioso.
A música traz uma reverencia o torcedor(a) brasileiro(a), ao povo
brasileiro, e cultura do futebol em nosso país. Essa cultura ligada
diretamente ao trabalhador(a) e as classes mais populares, que se matam de
trabalhar durante a semana e aos domingos, vão ver o seu clube do coração no
estádio de futebol. Essa classe social é onde estão Josés, Franciscos, Marias,
Julianas, Pedros, Joãos, Claudias etc., tem no futebol uma das poucas oportunidade de
lazer e diversão.
A sensação de fazer o ritual dominical, de acordar cedo,
prosear sobre a rodada do campeonato no boteco já com a camisa da sorte, abrir
um refrigerante ou cerveja, brincar com o amigo(a) sobre o jogo passado, comer
um frango assado, pegar um ônibus ou trem lotado rumo ao estádio, encontrar o amigo ou amiga da
arquibancada duas estações ou pontos depois, chegar e comprar uma bandeira do ambulante
e entrar para empurrar e jogar junto com os 11 jogadores(as) do clube de coração, é
a felicidade do torcedor ou torcedora.
Durante muito tempo, essa era uma rotina de muitos
trabalhadores(as) e operários(as) das comunidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais e de outros estados do Brasil. Porém nos últimos anos, o fantasma da "elitização dos estádios", vem acabando com essa cultura, grandes investidores estão começando a tomar conta. Vem
sendo construído nos estádios brasileiros uma verdadeira política de
embranquecimento e higienização, centralizado na cultura européia como padrão
de espetáculo. As inúmeras proibições como à venda de bebidas, o uso de
instrumentos musicais, fim das gerais e a implantação do mito das cadeiras
numeradas, são alguns dos exemplos daquilo que vem sendo chamado de “novas
arenas”.
Para Wescrey Pereira, Diretor da União Estadual dos
Estudantes (UEE-RJ), “o grande aumento do preço do ingresso tem criado um
futebol cada vez mais sem povo. O alto custo para assistir um jogo de futebol
está selecionando o consumidor, e o futebol está sendo padronizado por abaixo”. Fica a seguinte indagação: “O que
será dos estádios de futebol sem a irreverência do povo humilde? A população humilde terá que achar outro lazer no domingo? Estão tirando das mãos da população seu patrimônio histórico”.
Hoje o futebol em que o povo humilde participava está agonizando, é preciso repensar o
que nós brasileiros(as) somos e a importância do futebol assistido de pé sem a
cadeira numerada. Pelo caminho que se tem traçado, precisaremos fazer um
releitura do samba do Neguinho da Beija-Flor e cantar “Domingo, NÃO vou ao
Maracanã.”
* Walmyr Júnior é graduado em História pela PUC-RJ e
representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro
Municipal, durante a JMJ.
http://www.jb.com.br/juventude-de-fe/noticias/2013/12/30/domingo-nao-vou-ao-maracana/
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