Ou alguém já ouviu um apresentador provar a comida e dizer que é ruim?
Imeh Akpanudosen/Getty Images/AFP, Dylan Rives/Getty Images/AFP, Joerg Carstensen/AFP
Tenho um amigo que é bom para
sugerir pautas. Ele prefere não ser identificado. Sua última sugestão,
na verdade, daria um bom quadro de humor. Perguntou para mim se eu
costumava assistir aos programas de culinária, que viraram modinha. Vejo alguns. Ver todos é
tarefa impossível. Daí começou a conversa que divido nesta sopa de letrinhas com os leitores.
Em algum desses programas de culinária na TV, alguém chegou a ver um
apresentador ou o convidado provar o que foi feito e dizer: “Uau! Isso
ficou horrível!”? Nunca aconteceu. Mas, fora das câmeras, todos apostam
que já aconteceu e deve acontecer direto.
Semana passada, falei do inglês cabotino
que decidiu ensinar ao mundo como se cozinha e come. Por que seus
restaurantes são um fracasso de público e crítica? Porque as câmeras não
estão ligadas na cozinha dele. Porque seus amigos não estão lá para dizer em frente as câmeras: “Nossa! Como
isso está maravilhoso!”
Emeril Green é o programa do chef Emeril Lagasse. Um chef
conhecido nos Estados Unidos, que fez um acordo com o Whole Foods
Market e faz o programa acontecer nas instalações do supermercado. O
programa é charme zero, mas vale notar a quantidade de pimenta-do-reino
moída que o chef coloca em tudo. É assustador. Nada além do gosto de pimenta deve sobreviver. Mas, até hoje, nenhum convidado reclamou. Em frente as câmeras, tudo vira maravilhoso, óóóhh mundo cruel.
E que tal aquele programa do chef
Curtis Stone, que tem o carisma de uma barbatana de colarinho? O sujeito
aborda uma moça no supermercado e promete fazer um jantar encantador
para ela e o marido. A pior parte: ela aceita.Em um filme, na sequência,
veríamos o pessoal do CSI entrando na casa da mulher e vendo suas partes assadas, cozidas, marinadas. E alguém diria: “É ele. O serial killer gourmet”.
Outro ponto interessante da conversa: o
vocabulário do especialista, do gourmet, já está na boca de qualquer
apresentador em qualquer situação. O sujeito dá uma bocada em um sanduba
que leva 500 gramas de bacon frito, sem pagar nada.
Frito em fritadeira. Uma folha de alface,
duas rodelas de tomate e 500 gramas de bacon. Outra fatia de bacon sobre tudo,
claro. Ele morde, revira os olhos, só não solta um palavrão, porque as malditas câmeras estão lá, solta exclamações e diz: “Isso tem
textura, tem a crocância do bacon com a suavidade do pão. Os açúcares do
bacon com a acidez do tomate... hummm! Você sente a suculência, a força
com delicadeza...”
Chega, né?
Com meio quilo de bacon na
boca você fica sem sentir gosto de outra coisa que não seja bacon
durante 12 anos. Vai contaminar sua boca e seus sentidos. Vai odiar bacon para o resto da vida. Não
estranharia se você ficasse surdo.
Mas tudo faz parte do realiy show.
Quem sabe um programa de humor gourmet esteja tomando forma aí pelos 4 cantos do mundo.
http://www.cartacapital.com.br/revista/811/culinaria-na-teve-uma-bela-falacia-2166.html
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