Casos como o de Abu Rayhan al-Biruni, que antecipou
conhecimentos atribuídos a Copérnico em cinco séculos, indicam que
pensadores importantes podem ter sido esquecidos
por Paulo Yokota
— ciência oriental
É compreensível que o Ocidente pouco conhecesse do que ocorreu na Ásia Central desde a Antiguidade, pois ficou inibido pela pretensão que tendia a desconsiderar outras culturas como a muçulmana ou as asiáticas. A Rota da Seda que ligou Xian, a antiga capital da China aos árabes, chegando até Istambul na atual Turquia, passando pela Ásia Central, permitiu florescer importantes grupos de fecundos pensadores ao longo desta rota, ao unir a Ásia à Europa. Muitos antigos povos em todo o mundo, entre eles asiáticos, se interessavam pela astronomia, o que permitiu avanços nos conhecimentos como da matemática, com a acumulação de dados e uso de uma lógica sofisticada e rigorosa.
Há que se lamentar sempre as destruições das bibliotecas como de Alexandria no Egito e Constantinopla na capital do Império Otomano cujos acervos deveriam conter conhecimentos importantes para a humanidade, acumulados ao longo da história, por povos de tradições diferentes dos ocidentais.
Joseph Needham, da Universidade de Cambridge, certamente foi o pioneiro a interessar-se pelo precioso cabedal de conhecimentos que foram reunidos ao longo da Rota da Seda, cujos documentos são mantidos na instituição que ele organizou na Inglaterra. O seu foco de atenção estava centrado nas contribuições chinesas em matéria de conhecimentos e avanços tecnológicos ao longo da história, quando existem muitos outros.
Como sempre, há estudiosos que são céticos sobre as contribuições medievais para as descobertas acadêmicas consideradas modernas. Outros concordam, no entanto, que havia mentes brilhantes que chegaram aos princípios da álgebra e trigonometria, a invenção do algoritmo e do astrolábio, e até dos fundamentos da medicina moderna, e entre eles al-Biruni era certamente um destaque.
S. Frederick Starr, um arqueólogo pela prática, pois efetuou dezenas de viagens à Ásia Central, está na vanguarda de um movimento acadêmico para documentar o Renascimento Oriental e os fatores que estimulavam os que participaram dele. Situados na encruzilhada das culturas vibrantes da China, Índia, Oriente Médio e Europa, por serem de tradição comercial sabiam calcular de forma surpreendente desde a tenra idade.
Al-Biruni era versado não só em ciências exatas e antropologia, como na farmacologia e filosofia. Embora somente 31 dos seus textos tenham sobrevivido ao tempo, seria o autor de nada menos de 150. Nascido em 973 DC no atual Uzbequistão, usou o sol do meio dia para calcular a latitude de sua terra natal quando tinha somente 16 anos. Adulto, viajou muito e desenvolveu uma técnica para medir a circunferência da Terra, usando um astrolábio, trigonometria esférica e a lei dos senos. Seu cálculo difere somente em meros 16,8 quilômetros dos atuais, utilizando-se meios mais sofisticados. Ele introduziu o conceito de gravidade específica e aplicou em dezenas de minerais e metais, fazendo medições precisas com três casas decimais, o que os europeus só obtiveram no século XVIII.
Ele se preocupou com a determinação meticulosa das coordenadas para definir a direção de Meca de todos os lugares para os quais viajou, visando as orações islâmicas, notadamente na Eurásia. Depois de marcar o conhecido num globo, descobriu que três quintos da superfície da Terra não tinham sido explorados. Ele concluiu que uma ou mais massas de terra deveriam estar entre a Europa e a Ásia, não havendo nada para impedir a existência de terras habitadas, suspeitando do que seriam as futuras Américas, assunto que desperta muitas disputas.
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