- · É bom senso identificar a veracidade de uma informação e não espalhar boatos
- · Notícias falsas têm potencial devastador. Há algumas técnicas para tentar evitá-las
- · Na semana em que a Câmara autorizou a abertura do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, em abril, três das cinco matérias mais compartilhadas no Facebook no Brasil eram falsas
por
Ana Freitas do jornal Nexo - Sociedade e a Boa
Informação (fonte no final)
Foto: Yukiko Matsuoka/Flickr/Alguns
direitos reservados
'Na dúvida, achei melhor enviar': será
que essa é a melhor atitude?
Como identificar notícias falsas e boatos
Abaixo, o jornal Nexo
reuniu um conjunto de boas práticas que podem ser aplicadas de maneira rápida,
no dia a dia, por qualquer pessoa. Geralmente, o ideal é usar mais de uma
técnica - e, se tiver tempo, todas elas.
Boas práticas para enviar informações pela
internet
Sem fonte, não confie
Em
muitos casos, textos ou vídeos compartilhados por mensagens do Whatsapp vêm sem
uma fonte - ou, então, mencionam fonte sem um link para ela. Cheque sempre,
usando o Google, se a informação é verdadeira e está mesmo disponível na fonte
mencionada. Se o conteúdo vier sem fonte, é muito improvável que seja real.
Além disso, ligue o radar diante de vídeos ou áudios gravados por completos
desconhecidos. Qualquer um pode fazer um vídeo ou áudio de Whatsapp e dizer o
que quiser, e já temos provas suficientes de que muita gente inventa
informações falsas para compartilhar nessas redes.
Antes de enviar olhe um pouco o texto
É relativamente comum
o compartilhamento de informações por Whatsapp e Facebook apenas com base no
título do link. O título, no entanto, pode ser modificado: além de o Facebook
permitir isso na publicação do conteúdo, também é possível usar ferramentas que
mudem o título exibido quando o link é compartilhado. Por isso, evite
compartilhar material sem ler o conteúdo completo.
Olhe as fontes
É simples: basta
jogar as informações-chave relacionadas à notícia em questão no Google e
verificar se outros veículos também falaram dela, e em quais termos. Caso você
encontre apenas uma fonte para aquela informação, vale desconfiar. Se encontrar
várias fontes, mas todas elas forem cópias de apenas um veículo, também é
razoável considerar a matéria com cautela.
Acusação bruta demais são suspeitas
O excesso de
adjetivos para difamar ou exaltar alguém ou algo, ou seja, um viés muito claro
de acusação ou defesa no texto, também merecem sinal amarelo (especialmente em
textos noticiosos).
Na dúvida, pense duas vezes
“Na dúvida, achei
melhor compartilhar.” Você já deve ter lido a frase por aí. No entanto, embora
a abordagem seja muitas vezes bem intencionada, ela pode ter efeitos trágicos -
como aqueles mencionados nos primeiros parágrafos deste texto. Caso não consiga
obter confirmação de uma informação que consumiu na internet, recomendamos que
considere não compartilhá-la.
Há sites que acham boatos
Para qualquer tipo de
informação recebida via Whatsapp e Facebook, há sites dedicados exclusivamente
a pesquisar e confirmar (ou não) os boatos espalhados nas redes. Dois dos mais
famosos são o E-Farsas e o Boatos.org. Uma visita
rápida pode evitar o compartilhamento de uma informação falsa.
Buscar a fonte original
Uma notícia ou print
mostra que uma figura pública disse ou fez alguma coisa. Confira nos canais
oficiais daquela pessoa se o print é verdadeiro, ou se há uma entrevista
original, publicada em um veículo de confiança, que exiba a declaração em
questão. Também é importante ficar atento a perfis falsos - muitas vezes,
prints de declarações polêmicas têm origens em perfis não-oficiais, às vezes
criados com propósitos humorísticos, outras para difamar alguma figura pública.
Analise quem publica
Verifique o histórico
do veículo que publicou a informação. Redações com jornalistas profissionais,
sejam de veículos tradicionais ou novos, mantêm critérios de checagem em suas
reportagens. E quando há erro, essas redações costumam corrigi-los. Isso não
quer dizer que sites e blogs pequenos, além de posts no Facebook ou em outras
redes sociais, não tragam bons conteúdos. Basta que você conheça o histórico
desses canais.
Faça uma busca na fonte da imagem
Muitas fotos que
circulam nas redes sociais são montagens. Antes de compartilhar a suposta foto
da capa da revista “Time” que mostra uma reportagem bombástica sobre o Brasil,
confira no próprio site do veículo - ou faça uma busca reversa, que procura a
imagem no Google e encontra outros lugares em que ela (ou versões parecidas)
foram publicadas. Para fazer isso, basta acessar a busca de imagens do Google.
Então, clique no ícone de câmera dentro do campo de busca e transfira a imagem
que gostaria de pesquisar.
Verifique a data da publicação
Em um contexto e data
diferente, uma notícia antiga pode servir a uma narrativa atual completamente
diferente daquela em que ela estava inserida no passado. Por isso, é comum que
links antigos ganhem novas ondas de compartilhamento anos depois de publicados.
Para evitar que uma informação fora de contexto contamine seu julgamento,
adquira o hábito de checar a data de publicação de uma matéria antes de
compartilhá-la. Geralmente, essa informação se encontra embaixo do título.
O serralheiro carioca
Carlos Luiz Batista, de 39 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo em
poucos dias em razão de um boato compartilhado nas
redes sociais. Uma mensagem, acompanhada de sua foto, dizia que o serralheiro
era “estuprador e sequestrador de crianças”.
Batista, que começou
a receber ameaças, agora tem medo de sair de casa. Não é o primeiro caso do
tipo: em 2014, uma mulher foi espancada até a morte no
Guarujá, litoral paulista, depois de ser acusada, em boatos em redes sociais,
de que estuprava e sequestrava crianças. No entanto, nem sequer existiam
denúncias do tipo na região.
Esses casos
demonstram o que acontece a indivíduos, em casos extremos, quando o
compartilhamento de informações mentirosas sai do controle. Essa prática, comum
em um mundo no qual todos são consumidores e produtores de conteúdo, também
pode ter impactos políticos e sociais - na medida em que informações falsas
ajudam as pessoas a construir opiniões.
Nos últimos anos, a
crise política escancarou esse cenário no Brasil. De acordo com um levantamento do Grupo de
Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso a Informação da USP, na semana em que
a Câmara autorizou a abertura do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, em
abril, três das cinco matérias mais compartilhadas no Facebook no Brasil eram
falsas.
Por que as pessoas compartilham
informações sem checá-las
“A dinâmica [de
compartilhamento de boatos] é um efeito da polarização do debate político, mas
também é muito marcada pelo viés de confirmação”, disse ao Nexo Marcio
M. Ribeiro, professor da USP e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Políticas
Públicas de Acesso a Informação da universidade.
O viés de confirmação
é uma tendência cognitiva que faz com que nós tenhamos mais propensão de
lembrar, pesquisar informações ou interpretar fatos de maneira que eles
confirmem nossas crenças ou hipóteses.
Na dinâmica da
comunicação digital e dos algoritmos que mostram apenas aquilo que queremos
ver, o viés de confirmação cria uma “bolha” de visão de mundo que exclui
aqueles que pensam diferente - o chamado “filtro bolha”.
Quando recebemos, por
meio das redes sociais, o link de uma matéria que confirma nossa visão de
mundo, temos mais chances de ignorar possíveis evidências de que ela seja
falsa.
“Na dinâmica das
redes sociais, as pessoas têm tanta ou mais responsabilidade que os veículos em
determinar qual conteúdo terá mais ou menos visibilidade por meio do
compartilhamento”, diz Ribeiro. Por isso, cabe também aos usuários garantir que
a informação compartilhada seja verdadeira.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/10/11/Como-identificar-a-veracidade-de-uma-informa%C3%A7%C3%A3o-e-n%C3%A3o-espalhar-boatos
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