“O
celular é a ‘real TV’, o instrumento mais importante para controlar as
reações com os outros, as disputas, a imagem que cada um tem de si, o tempo. Com o
celular as pessoas tornam-se autoras da própria vida”, afirma o pesquisador
inglês Micheal Hulme, participante da equipe. Em resumo, se as pessoas não
quiserem perder o controle da vida, melhor ficar atento para não perder o
celular…
por Equipe Oásis para Brasil 24/7 - Sociedade
e O Celular
O
telefone celular permite o controle da própria vida. É o que afirma uma equipe
de estudiosos da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, que durante três
anos desenvolveu estudos sobre o tema “Eu, meu celular e meu ego”. O valor da
telefonia móvel, portanto, não seria apenas de tipo técnico-instrumental, mas
sim muito mais de tipo psicológico e comportamental: Os celulares são
instrumentos de controle e de censura (inclusive emotiva), utilizados pelas
pessoas para decidir como e quando se comunicar com o resto do mundo.
No
transcorrer da pesquisa, as mulheres jovens afirmaram, por exemplo, que o
celular lhes dá segurança quando voltam tarde para casa; as mulheres mais
maduras declararam que o celular é útil para manter um contato constante com os
próprios maridos; para os estudantes, escrever mensagens telefônicas é uma
alternativa perfeita a passar o tempo cumprindo uma tediosa tarefa escolar;
meninos e meninas a maior parte das vezes usam o celular para pedir conselhos e
opiniões a seus coetâneos.
“O
celular é a nossa ‘real TV’, o instrumento mais importante para controlar as
reações com os outros, as disputas, a imagem que cada um tem de si, o tempo. O
celular as pessoas tornam-se autoras da própria vida”, afirma o pesquisador
inglês Micheal Hulme, participante da equipe. Em resumo, se as pessoas não
quiserem perder o controle da vida, melhor ficar atento para não perder o
celular…
Quase tantos habitantes quanto
celulares
No
mundo existem hoje 7 bilhões de habitantes e 6 bilhões de celulares. A
tecnologia móvel é hoje mais difundida do que os serviços de higiene (no mundo
existem 2,4 bilhões de pessoas que não dispõem de serviços sanitários). De que
maneira esse acessório está mudando o nosso corpo, o acesso às informações e a
comunicação? Aqui estão alguns efeitos mais ou menos conhecidos, porém sempre
surpreendentes.
Faz as pessoas cada vez mais recurvadas – Nos países europeus e em outros lugares como o
Brasil, os jovens transcorrem cerca de 4,7 horas diárias com os olhos fixos na
telinha do celular: um hábito que pode significar uma pressão de 27 quilogramas
sobre as vértebras cervicais, o equivalente a uma criança de 8 anos carregada
nos ombros. Em um ano, pode-se superar as 1400 horas de estresse cervical que,
somadas às horas que transcorremos sobre os livros ou diante de um computador
podem comportar um risco até mesmo sério de lesões na coluna vertebral (é a
origem de dores difusas ou em certos pontos das costas que, hoje, muitas
pessoas sentem).
Cada vez mais míopes –
A difusão e emprego generalizado de dispositivos que obrigam o olho a ver de
perto e em condições de luminosidade escassa, desabituando-o a abraçar, com o
olhar, espaços abertos e horizontes longínquos, seria a causa principal do
aumento quase epidêmico da miopia, sobretudo em certas áreas do mundo. Nos anos
70, era míope um quarto da população da América do Norte; hoje, praticamente a
metade. Entre os jovens norte-americanos, a porcentagem de míopes é hoje de
35%. Na China essas proporções estão se tornando catastróficas: cerca de 80%
dos estudantes enxergam mal. Outras causas concomitantes do fenômeno são o
menor tempo transcorrido a céu aberto e o crescimento global do nível de
instrução.
O celular faz das pessoas reféns – algumas
pessoas controlam os celulares de modo compulsivo, em média 110 vezes ao dia, 9
vezes nas horas de pico, com uma incidência maior entre as 17 e as 20 horas. O
cérebro humano é feito para ser atraído pelas novidades, e o sistema de avisos
ativados pelas APPs foi criado de propósito para atrair a atenção e nos induzir
a controlar o que há de novo. A gratificação que sente-se ao depar com uma mensagem particularmente
agradável ativa a liberação de dopamina, um neurotransmissor implicado no
sistema da recompensa (e portanto na dinâmica de dependências associadas também
ao álcool e à nicotina). O mesmo efeito é produzido pelos pequenos prêmios
fornecidos por certos jogos, como o Candy Crush.
Pode desenvolver fobias – 93%
dos jovens entre os 18 e os 29 anos dizem usar o celular como um meio de fugir
do tédio, preferindo-o a outras atividades alternativas como ler um livro, ou
sair e papear com amigos. Usar o celular como passatempo tornou-se um hábito
tão enraizado, que já existe inclusive um termo para definir a sensação de
pânico e ansiedade que deriva do fato de não ter um celular junto a si: a
nomofobia (da expressão em inglês no mobile phobia). O termo é um
neologismo recentemente introduzido, mas esse temor diz respeito a mais da
metade dos membros da “geração digital”.
Perturba o sono – A
luz azul das telas de smartphone, tablets e monitores suprime a produção do
hormônio chamado melatonina e, assim sendo, interfere com os ritmos
circadianos, reduzindo a duração do sono profundo: os distúrbios que derivam
disso podem abrir caminho para o diabetes, câncer e obesidade. Eis porque os
especialistas desaconselham usar dispositivos tecnológicos a partir de 2 ou 3
horas antes de ir dormir.
Destrói o hábito da conversação –
Basta a presença de um celular sobre a mesa para reduzir a qualidade da
conversação e o nível de empatia alcançado com o interlocutor (sobretudo se se
trata de um amigo de longa data). A presença de um smartphone, mesmo que ele
não seja tocado, reduz o contato vivo com o interlocutor e faz com que se perca
detalhes das suas expressões faciais ou da tonalidade da sua voz.
Nos torna viciados em informações – Ao mesmo tempo, o uso frequente do celular torna as
pessoas mais voltadas para o multitasking (fazer várias
coisas ao mesmo tempo), a saltar com maior frequência de uma atividade para
outra e a uma leitura mais superficial dos textos (pesquisas demonstram que
rolar páginas na tela de um tablete não é a mesma coisa, em termos de
aproveitamento de leitura, do que ler as páginas de um livro ou as de uma
revista ou jornal de papel). Isso influencia tanto a nossa capacidade de
concentração quanto a confiança na memória. Diversos estudos, com efeito,
demonstram que se precedentemente nos tivermos deparado com uma informação
online, as pessoas no futuro serão menos inclinadas a confiar nos conhecimentos
precedentemente armazenados, talvez através dos livros. O span médio de atenção humana,
ou seja a capacidade de permanecer concentrados sobre uma tarefa sem se
distrair, é hoje de apenas 8 segundos; no ano 2000, era de 132 segundos…
Torna as pessoas desorientadas –
A tendência a usarmos cada vez mais os sistemas GPS dos celulares nos torna
menos aptos a treinar o nosso senso de orientação espacial. Além disso, quem
conta apenas com os mapas do Google ou outros sistemas de satélite para se
orientar, tem a seguir mais dificuldade para se orientar nas mesmas situações
quando o celular fica sem bateria, por exemplo, ou quando cai a rede (por
exemplo, nos caminhos de alta montanha).
Mudou o modo de visitar museus –
A cada dois minutos os seres humanos tiram mais fotografias de quantas
existiam, na totalidade, há 150 anos. A cada dia, no mundo, são tirados cerca
de um milhão de selfies, e são carregados no Instagram 80 milhões de
fotografias. Essa expansão desmesurada do número de “fotógrafos” mudou por
completo o modo como se aprecia a arte. Hoje, as obras são muito mais
fotografadas do que observadas com atenção. Por essa razão, muitos museus (da
Galeria dos Ofícios de Florença ao Metropolitan Museum de Nova York) se
sentiram obrigados a proibir o uso do bastão de selfie – considerado “muito
perigoso” nos lugares cheios de gente. Mas não foram proibidas as fotos em
vários museus, pois seus diretores as consideram um importante instrumento de
autopromoção.
Jornalistas e testemunhas
oculares – A difusão sem limites
dos smartphones até mesmo nas áreas mais pobres do mundo, mudou completamente o
modo como se documentam as crises e as situações de violência, bem como a
gestão das situações de emergência e a capilaridade das pesquisas científicas.
Os celulares podem funcionar como sismógrafos, se aproveitar das mídias sociais
para difundir pedidos de ajuda e socorro, difundir alertas meteorológicos ou
informar os meios científicos a respeito da difusão de doenças.
Fonte: www.luispellegrini.com.br
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/278369/Celular-e-psique-Como-os-smartphones-controlam-a-nossa-vida.htm
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