por Fernando Nogueira da Costa para GGN
- Sociedade e Concentração Injusta de Renda no Brasil
Concentração da Riqueza Financeira Per Capita em 2016
Desde 1947, quando se passou a calcular as Contas Nacionais,
oficialmente, nunca se registrou tão grande depressão acumulada em dois anos
seguidos: -7,2%, sendo -3,8% em 2015, quando voltou a Velha Matriz Neoliberal
com Joaquim Levy, e -3,6% em 2016, quando se paralisou a economia para criar o
ambiente propício ao Golpe de Estado. Na crise 1929-33, a queda absoluta foi de
-5,3%; na crise criada por Delfim Neto em 1981 e 1983, a queda acumulada foi de
-6,3%; e na crise provocada pelo confisco do Plano Collor, -3,4%.
Caindo o fluxo de renda, não há valor adicionado
na economia, sendo esta considerada como um todo. Entretanto, com o “cobertor
curto”, há maior disputa para se cobrir ou proteger. Aqui, em Terrae
Brasilis, esta cobertura vai para a cabeça e se descobrem as mãos e os pés!
André João Antonil (1649-1716), em Cultura e Opulência do Brasil,
livro publicado em 1711, reconhecia: “os escravos são as mãos e os pés
do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar
e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente”.
Era de se esperar, analiticamente, o que as Estatísticas de Private
Banking publicadas pela ANBIMA confirmaram com evidências empíricas. Estas
comprovam a elevação da grande concentração da riqueza financeira no Brasil.
Portanto, nelas não se consideram imóveis urbanos (cerca de 36% nas
DIRPF), automotores (8%), terra (4%) e outros bens (5%). Estima-se que a
riqueza financeira represente cerca de 47% do total de bens e direitos
declarados por Pessoas Físicas.
Qual é o corte para ser considerado cliente de Private Banking?
Por exemplo, o Bradesco, tradicionalmente um banco comercial focado no varejo,
após a incorporação do HSBC, subiu a régua de ingresso no Private
Banking, de R$ 3 milhões em recursos aplicados para R$ 5 milhões, e criou
duas novas subclasses de atendimento para o público endinheirado.
Os clientes com valores entre R$ 15 milhões a R$ 50 milhões com o banco
ficarão debaixo da segmentação "high" (de "high-net
worth wealth management", o equivalente à gestão de altos
patrimônios), e aqueles com mais de R$ 50 milhões estarão alocados na "ultra
high", do clube dos mais afortunados ainda. Quanto maior a renda,
menor vai ser a quantidade de clientes atendida por um mesmo profissional: na
faixa ultra high, a carteira é de 30 clientes por gerente; na high
são 60, enquanto a base do Private Banking reúne de 100 e 120
contas por gestor.
Dos cerca de R$ 100 bilhões debaixo da área de Private Banking como
um todo, aproximadamente 15% vieram do britânico HSBC, que mantinha a tradição
de banco estrangeiro focar apenas na elite branca brasileira. Antes este
segmento de clientes era ligado ao Bradesco BBI, dedicado a operações de
atacado, agora ficará debaixo da vice-presidência responsável pela rede do
banco. Esta passa também a comandar o "prime", que atende o varejo
afluente, com renda acima de R$ 10 mil. Na régua até chegar ao corte do
Private, há também outras duas subclasses de atendimento: as faixas acima de
R$ 100 mil até R$ 1 milhão e deste valor até R$ 5 milhões em volume de
negócios.
Nessa área, o “jogo de rouba-monte” tende a prevalecer em circunstâncias
de ausência de eventos que propiciam geração de riqueza pessoal, como venda de
empresas familiares nacionais para grupos estrangeiros, que beneficia o
patriarca e os herdeiros do clã. Os processos de sucessão familiar geram também
muita fidelização aos bancos, que os trata como gente, isto é, têm atendimento
pessoal primoroso, tipo “prime”. Com este carinho se chega a um grau de
intimidade com a(o) cliente que faz com que ele(a) fique “casado” com o banco
mais do que com a(o) própria(o) esposa(marido)!
Segundo o mapeamento mais recente da ANBIMA, o Private Banking
brasileiro reunia, ao fim de 2016, R$ 831,6 bilhões, de 112 mil clientes ou
54,1 mil famílias. Estas são as dos verdadeiros “Donos do Poder”. Com esta base
de clientes crescendo menos de 2% (ou 2.142 CPFs), a riqueza financeira per
capita se elevou em 14,49%. Não era de se esperar com o juro básico (Selic)
permanecendo em 14,25% ao ano durante dez meses?!
Em outras palavras, esta casta de rentistas praticamente não adicionou
valor novo à sua fortuna. Ela se elevou em média per capita em quase R$ 940 mil
sem nenhum esforço de expandir capacidade produtiva e gerar empregos. Apenas
com a capitalização dos juros, passou de R$ 6,483 milhões para R$ 7,423
milhões!
Enquanto isso, os 6,2 milhões clientes do varejo tradicional (classe
média baixa) tinham a riqueza financeira per capita de R$ 50 mil e os 3,3
milhões clientes do varejo de renda alta (classe média alta) tinham em média
per capita R$ 167 mil aplicados em títulos e valores mobiliários em junho de
2016.
Para estas castas, cujo número de pessoas de 9,6 milhões é similar ao
dos formados em Ensino Superior no início da década, a taxa de juro brasileira
disparatada em relação à do resto do mundo faz seu trabalho anual de
discriminação social, concentrando ainda mais a riqueza financeira. Os 56
milhões de párias têm em depósitos de poupança a média per capita de R$ 10 mil,
recebendo juros mensais abaixo da taxa de inflação.
Portanto, o “jogo de rouba-monte” é socialmente mais dramático do que
aparenta de imediato. Não ocorre entre as fortunas das castas. O jogo
de enriquecimento sem expandir capacidade produtiva rouba empregos e renda dos
párias!
http://jornalggn.com.br/noticia/a-concentracao-da-riqueza-financeira-per-capita-em-2016-por-fernando-nogueira-da-costa
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