A Polícia
Federal PF e a operação Carne Fraca (não sei de onde veio este nome)
declarou à imprensa que as maiores empresas de pecuária e corte e seus
frigoríficos fraudavam o processo de produção de carne no país. Boa
parte para a alimentação escolar, porem a fraude também era exercida
para o mercado privado. Segundo a PF, o Ministério da Agricultura era o
grande articulador e interlocutor da adulteração dos alimentos.
Porem existe
algo que devemos dialogar que não se refere apenas a operação da PF que
na linguagem popular deveria chamar: Carne Podre. Alguns questionamentos
e reflexões são fundamentais para a garantia dos direitos humanos, em
especial o direito humano a alimentação adequada.
A que custo
vale a vida? Alimentos sólidos ou líquidos são a base fundante para que
nosso corpo resista ao cotidiano de atividades físicas e laborais. Nossa
vida não pode valer a ganância e o lucro de ruralistas que trazem o
modelo do agronegócio, baseado na revolução verde dos anos 80, como uma
forma única de abastecimento alimentar do país.
Comer é um
ato político e segundo o organizador do SlowFood, Carlo Petrini, o poder
de articulação entre os campesinos e a população é uma estratégia
objetiva para romper com a quase nenhuma soberania alimentar que
vivenciamos nos tempos atuais.
E se é
política a escolha do alimento, mais do que nunca é hora de fortalecer a
agricultura familiar agroecológica, garantir a Segurança Alimentar e
Nutricional como um direito inalienável, superar a ideia de que alimento
é mercadoria. É também importante garantir a produção nas grandes
cidades através da agricultura urbana, pensando as praças, parques e
lotes vagos que hoje estão dispostos a especulação imobiliária como
espaços de produção.
Lutar é
preciso. O agronegócio é o PIB de um país que lucra com a morte de
milhares de pessoas por doenças como câncer, diabetes e dentre outras
provocadas pela transgenia dos alimentos, veneno na produção agrícola.
Quem perde com isso é o povo brasileiro, a fauna e flora. Não haverá
biodiversidade enquanto o lucro for mais importante do que a Terra.
Lutar é
necessário. Garantir aos agricultores e agricultoras familiares a
condição real de assistência técnica e fomento para a produção de
alimentos saudáveis, superar o estigma de que comer caro. Só quando os
governos estiverem articulados aos movimentos sociais haverá circuitos
curtos de comercialização e uma nova legislação sanitária que coloque
fora de nossas casas as carnes pobres e nos garanta os produtos
beneficiados pelo campesinato.
Comida de
verdade no campo e na cidade só é possível se existir uma nova forma de
lidar com o campo, pensando a ruralidade, as tradições e o conhecimento
popular. Só será possível quando estivermos dispostos a construir uma
nova ordem societária longe da opressão e da desigualdade, em que a
relação ecológica não seja um marketing empresarial, mas sim um
norteador para o equilíbrio do planeta.
Leonardo Koury – Professor, assistente social e militante dos movimentos sociais
https://jornalistaslivres.org/2017/03/e-muito-alem-de-carne-estragada/
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