O “acordão” pós-Temer costurado em Brasília por políticos
Degola de Temer no Tribunal Superior Eleitoral e presidente da Camara Rodrigo Maia eleito por via indireta. Ruas, reformas e prisão do presidente bagunçam o jogo
Agência
Brasil
Acordão
para substituir Temer ganha forma e favorito é o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ)
Michel Temer diz e repete que
não renunciará e até convocou as baionetas (exercito) para enfrentar protestos. As negociações
políticas para tirá-lo do cargo e providenciar um sucessor estão a mil, no
entanto. Até já desponta a solução com mais chance de vingar. Mas “as ruas”
podem bagunçar o “acordão”. A Operação Lava Jato e as reformas impopulares
propostas pelo presidente, também.
Pelo visto nos bastidores do Congresso
nos últimos dias, o provável caminho para trocar Temer é cassá-lo na Justiça Eleitoral na ação movida
contra a chapa vitoriosa na eleição de 2014. E depois substituí-lo por alguém
escolhido apenas pelos parlamentares para governar até dezembro de 2018. O
favorito para a missão é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Essa solução agrada uma fatia razoável
da base governista, majoritária na Câmara, onde o jogo será decidido. PSDB e
DEM topam. O “Centrão” simpatiza. Se o próximo presidente for um nome da
Câmara, e não de fora, tudo certo. Por quê? “Para continuar o serviço do
Michel”, diz um parlamentar. Tradução: tentar acabar com a Lava Jato.
O presidente tornou-se alvo de um inquérito criminal pela suspeita de
tramar contra a Lava Jato, uma forma de obstrução da Justiça, segundo o
procurador-geral Rodrigo Janot. Seu parceiro de inquérito Aécio Neves (PSDB)
foi gravado a dizer que sua vida tinha virado um "inferno" de tanto
trabalhar para salvar a pele de políticos enrascados. Salvar por meio da
aprovação de uma lei de anistia total do crime de caixa 2, uma lei que
precisaria da assinatura de Temer para virar realidade.
Depor Temer via Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), diz um deputado tucano participante de conversas sobre o
futuro, é uma saída “mais confortável” para o presidente. Talvez o livre da
pecha de “corrupto”. Além disso, o julgamento no TSE, marcado para 6 de junho,
por coincidência o “Dia D” da Segunda Guerra Mundial, é um processo mais veloz
do que um impeachment.
Para essa solução ser de fato mais rápido, será preciso convencer Temer
a aceitar o julgamento. Ele não poderia acionar, para que retardem a sentença,
os dois ministros do TSE que acaba de nomear. Nem recorrer ao Supremo Tribunal
Federal (STF). Topará? Por ora, é difícil.
“Não adianta fazer lista de candidato a presidente. Não adianta, porque
vai haver resistência legal e constitucional. Vai haver!”, bradou da tribuna o
líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), logo após Brasília virar um
campo de batalha pelo “Fora Temer” na quarta-feira 24.
Segundo um experiente deputado do PMDB, Jucá e outros dois íntimos
conselheiros do presidente, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira
Franco (Secretaria Geral da Presidência), acreditam haver só um lugar pior para
Temer do que dentro do governo: fora.
Não é difícil imaginar a razão. Fora, o peemedebista corre o sério risco
de ir em cana. Escapar da prisão é, tudo indica, a garantia que Temer exige
neste momento para aceitar deixar o Palácio do Planalto. Uma garantia que não
se sabe se passaria pelo crivo do fator “Lava Jato”.
O inquérito aberto contra Temer no STF por
organização criminosa, obstrução à Justiça e corrupção tem mais dois
personagens, Aécio e o peemedebista Rodrigo Rocha Loures. O
procurador-geral requereu a prisão de Aécio e Loures. Supõe-se que não
agiu igual com Temer apenas porque o artigo 86 da Constituição impede que, em
casos de crime comum, o presidente seja preso antes de condenado. Mas se o
peemedebista deixar o poder…
No despacho em que liberou a
instauração do inquérito contra a patota, o juiz-relator do processo no STF, Edson Fachin, escreveu que a
prisão de Aécio e Loures era “imprescindível”. Evitou decretá-la, contudo, por
ser uma batata quentíssima, com dois parlamentares engolfados, um deles
ex-candidato a presidente. Empurrou o pepino para o plenário da corte,
julgamento ainda sem data.
Do STF, já emana uma solução
mirabolante para salvar Temer do xilindró, conforme a Folha de S. Paulo da
sexta-feira 26. O próximo presidente poderia dar “indulto” ao peemedebista.
Rodrigo Maia certamente daria, se o Supremo respaldá-lo. É “temerista” e genro
de Moreira Franco, o secretário-geral da Presidência.
Eliseu
Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência),
acreditam haver só um lugar pior para Temer do que dentro do governo: fora.
(Agência Brasil)
A solução “Maia presidente” via
“acordão” terá oposição da Lava Jato, a julgar por comentários feitos na
terça-feira 23 de maio pelo chefe da Força-Tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol. “Se
cair Temer, vão assumir outras pessoas que estão sendo investigadas por
corrupção”, disse o procurador. Soou uma ameaça do tipo “não façam isso”.
Maia, o “Botafogo” segundo delatores da Odebrecht, é alvo de um
inquérito para investigar por que ele e o pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia,
receberam 950 mil reais da seção de propina da empreiteira em 2008 e 2010.
Caixa 2? Ou corrupção, uma grana dada em troca de favores políticos?
De qualquer forma, a negociação de sua “candidatura” em uma eleição
indireta está em curso. Na terça-feira 23 de maio, o prefeito de Salvador, Antonio
Carlos Magalhães Neto, uma das estrelas do DEM, esteve em Brasília para
conversar a respeito.
Para atrair a bancada “paulista” do colégio eleitoral, Maia resolveu
botar em votação no plenário uma lei para legalizar de vez todos os incentivos
fiscais dados por estados nos últimos tempos. O texto que acaba com a “guerra
fiscal” está do jeito que São Paulo queria. Nenhum outro estado apoiou-o no
chamado Confaz, reunião de secretários estaduais de Fazenda.
Mas, no quintal do DEM, Maia tem um adversário na ideia de emplacar
“indiretas”. Logo após os protestos em Brasília na quarta-feira 24 de maio, o líder do
partido no Senado, Ronaldo Caiado (GO), subiu à tribuna para defender Diretas.
“Eu não tenho medo das ruas, eu não acredito em colégio eleitoral.”
Na Câmara, o deputado Felipe Maia
(DEM-RN), filho do presidente do DEM, José Agripino (RN), comentou com o
deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), conforme testemunhou Carta Capital na
terça-feira 23 de maio: se o clamor por Diretas crescer, nas ruas “não teremos como
segurar”.
Até agora, a reivindicação pelo “Fora Temer” e por eleições diretas limita-se
a grupos de esquerda, que foram contra o impeachment, observa um
dirigente do PMDB. Grupos direitistas, como MBL e Vem Pra Rua, ensaiaram entrar
no embalo, mas desistiram, por acharem que ajudariam Lula e o PT.
O PT é peça importante do “acordão”.
Parte da legenda aceita conversar sobre eleição indireta, mas outra, de jeito
nenhum. “Esse Congresso desmoralizado não pode eleger o próximo presidente.
Seria a eleição mais corrupta da história. Se venderam o voto para a reeleição
do Fernando Henrique, para votar MPs, para o impeachment, imagina
agora, para elegerem o presidente?”, diz o deputado petista Henrique Fontana
(RS).
O que unifica o PT é a rejeição às reformas trabalhista e da Previdência
propostas por Temer. Para enterrá-las, há petista convencido de que o melhor é
deixar o presidente “sangrar” um tempo, antes de cair. Com ele enfraquecido, as
reformas parariam e seria possível tentar ampliar na sociedade o apoio às
Diretas. Se ele sair logo do cargo, o escolhido pelas forças conservadoras
governistas poderia retomar rapidamente a votação das reformas.
Na esquerda, já há quem fale
abertamente em uma espécie de permuta com os governistas para o pós-Temer.
Aceitar uma eleição indireta agora em troca
do sepultamento das reformas, as quais poderiam ser resgatadas pelo presidente
eleito em 2018, caso seja essa a vontade expressa nas urnas. Foi o que defendeu
o governador do Maranhão, Flavio Dino, do PCdoB, em entrevista à BBC Brasil na
quinta-feira 25.
Uma visão parecida com a do líder do
PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), para quem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, um ardente defensor
das reformas impopulares, deveria ter sido demitido após um desvario
tecnocrata.
Em teleconferência com uma turma do JP
Morgan na segunda-feira 22, Meirelles comentou que as reformas também seguem,
não importa quem esteja no leme do País. Logo após o estouro do escândalo Temer-JBS, Meirelles já tinha
“avisado” intramuros que continuaria no cargo mesmo com outro presidente.
Falta combinar com o próximo, caso vingue o “acordão”.
https://www.cartacapital.com.br/politica/o-201cacordao201d-pos-temer-costurado-em-brasilia
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog