Com o
derretimento do gelo antártico, os cientistas acreditam que o pedaço de gelo deverá se soltar em breve, acarretando
consequências dramáticas
por redação do site Climatempo - Sociedade e Clima Global
Uma grande fissura ameaça romper a plataforma de gelo Larsen C, localizada na Península Antártica. Com o rompimento, se desprenderia da massa de gelo flutuante um iceberg gigante, de cerca de 5 mil quilômetros quadrados, o que equivale a cerca de quatro vezes à área da cidade do Rio de Janeiro.
Uma grande fissura ameaça romper a plataforma de gelo Larsen C, localizada na Península Antártica. Com o rompimento, se desprenderia da massa de gelo flutuante um iceberg gigante, de cerca de 5 mil quilômetros quadrados, o que equivale a cerca de quatro vezes à área da cidade do Rio de Janeiro.
Com o
derretimento do gelo antártico, os cientistas acreditam que o pedaço de gelo deverá se soltar em breve, acarretando
consequências dramáticas. Além disso, a saída dos EUA do Acordo
do Clima de Paris e os cortes nas verbas de pesquisas científicas estipulados
por Trump poderão dificultar estudos futuros sobre as mudanças climáticas.
Em
entrevista à Deutsche Welle, John Abraham, professor de Ciências Térmicas
na Universidade
São Thomas, em St. Paul, no estado de Minnesota, falou da
importância da Larsen C e sobre como a comunidade científica está lidando com
as ações de Trump."Estávamos com muito medo que os
Estados Unidos permanecessem no Acordo de Paris e o sabotassem por
dentro", disse o cientista.
Fonte: NASA
DW:
Quais seriam as consequências do desprendimento dessa grande porção de gelo da
Larsen C no oceano?
John
Abraham: Falando francamente, as
consequências poderiam ser terríveis, mas não sabemos exatamente. Essas
plataformas de gelo estabilizam os mantos de gelo [geleiras continentais] –
mas, quando elas se partem, podem criar uma situação de instabilidade. O que os
cientistas realmente querem saber é o que vai acontecer quando essa placa de
gelo romper.
Quando
se espera que isso aconteça e como vamos saber?
Os
cientistas sabem que irá acontecer porque estamos assistindo em tempo real. Uma
grande rachadura – às vezes chamada de "fenda" – se formou, e podemos
vê-la progredir dia a dia, semana a semana. A fissura já se estendeu por quase
toda a placa de gelo.
Não
se trata da primeira vez que isso acontece. Porções das plataformas de gelo
Larsen A e Larsen B também já se desprenderam. Desde quando esse fenômeno
se observa?
A Larsen
A, uma das menores plataformas de gelo, desintegrou-se em 1995. Ela foi seguida
por Larsen B, que colapsou dramaticamente em 2002, em questão de poucas
semanas. E agora temos Larsen C, que vem se desintegrando ao longo de 2016 e
2017. Em termos de tempo de vida dessas plataformas, trata-se de uma sucessão
muito rápida de colapsos.
Essas
ocorrências são naturais ou resultado da ação humana?
Esse é um
debate subjetivo – mas muitos cientistas acham que é devido ao aquecimento do
planeta provocado pelo homem. O aumento da produção de gases do efeito estufa,
que armazenam o calor, por seres humanos, resulta tanto no aquecimento do ar
quanto dos oceanos. Assim, essas placas de gelo sentem o aquecimento tanto na
parte de baixo quanto na parte de cima – e sabemos que isso afeta a saúde da
plataforma de gelo. A questão é: ela teria desmoronado naturalmente? Ou o
aquecimento provocado pelo homem foi "a gota d'água", por assim
dizer? Muitos cientistas acreditam que isso é um sinal do que está por vir. E é
isso que realmente nos preocupa.
Quais
são as consequências de todo aquele gelo se soltar no oceano?
Os
cientistas sabem que os níveis dos oceanos estão subindo alguns milímetros por
ano. Mas vemos que esse aumento tem acelerado cada vez mais. Se você perguntar
aos oceanógrafos como os mares vão estar por volta de 2100, a opinião geral é
que o nível das águas estará um metro acima do atual.
Isso vai
resultar num deslocamento de pessoas em todo o mundo. Nos EUA, a cidade de
Miami é a nossa garota-propaganda para a ameaça do nível do mar. A cidade será
perdida e não há nada que se pode fazer para salvá-la. É algo impressionante se
você pensar em termos de custos econômicos e consequências sociais de ter de
realocar cidades inteiras e partes de países.
Mesmo
assim, o presidente Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris. Em sua
opinião, quais as chances de o governo americano mudar sua atual trajetória em
termos de mudanças climáticas?
Na noite
da eleição, os cientistas sabiam que o presidente Trump iria retirar o país do
Acordo de Paris. Finalmente, escutamos a notícia oficial [no início de junho] –
e para muitos de nós, isso trouxe estranhamente uma sensação de alívio.
Estávamos
com muito medo que os Estados Unidos permanecessem no Acordo de Paris e o
sabotassem por dentro. Agora, sem Washington, outras nações têm a chance de
liderá-lo. E sabemos que a economia está impulsionando a implantação de
energias renováveis em todo o mundo, e que países como a China estão tomando
grandes passos para se tornar líderes globais.
Também
estou esperançoso de que outros Estados avancem e tomem o lugar de liderança
dos EUA nesta área. Mas isso me entristece, porque significa que nos Estados
Unidos, por exemplo, vamos comprar painéis solares e usinas de energia eólica
de outros países. Nós não vamos exportá-los. Assim, trata-se de uma verdadeira
oportunidade para outras nações, e de uma enorme perda econômica para os EUA.
E
com a saída dos EUA do Acordo de Paris, quais serão as consequências para as
pesquisas sobre o clima?
O governo
Trump quer cortar drasticamente os gastos com a pesquisa climática. Ou seja:
fechar os olhos e os ouvidos dos cientistas de forma que não saibamos o que
está acontecendo em lugares como a plataforma de gelo Larsen C. E isso seria
devastador para a nossa compreensão das mudanças climáticas.
Mas isso
é, novamente, uma oportunidade para outros países se tornarem líderes na
ciência, para avançar e substituir alguns dos fundos que os EUA vão cortar. Se
esses cortes de fundos americanos não forem substituídos por outros países,
será um desastre absoluto para a nossa compreensão do clima na Terra.
https://www.climatempo.com.br/noticia/2017/07/10/a-34-rompimento-de-plataforma-de-gelo-na-antartida-pode-ter-efeitos-terriveisa-34--6148
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