É
realmente incrível! A União está quebrada em todos os sentidos e, em todos, por
irresponsabilidade. A irresponsabilidade na administração pública levou à
quebra do Tesouro Nacional, ou seja, as contas a receber e a pagar do governo.
Em termos empresariais, isso significa que o Estado faliu e deve mais de R$ 4
trilhões, quase 80% do PIB
por Paulo
Cannabrava Filho* para Diálogos do Sul
– Sociedade e Administração Golpista
2016
Subjetivamente, está quebrada também a União do
povo brasileiro, o que se reflete na quebra da unidade em todos os partidos
políticos (se é que um dia existiu); na organização dos trabalhadores (pode
haver unidade com 14 centrais sindicais?); está quebrada a unidade também em
torno dos princípios fundamentais do direito e da Constituição Cidadã no
sistema judicial.
Sem
Segurança Jurídica não é possível assegurar minimamente uma democracia, nem
planejar o desenvolvimento econômico e social. Escrevemos aqui, de forma bem
fundamentada, que a Nação está em surto psicótico. Está mesmo? Para
onde então podemos ir?
Gente…
É impossível deixar de lado essas reflexões quando se olha a situação do Estado
e da Nação. Objetivamente, quero neste texto expor como está a
administração da economia. Os dados são oficiais recolhidos na imprensa diária.
Irresponsabilidade ou
burrice?
De nada
adiantou a crise de 2007/2008. Não aprenderam coisa nenhuma. Só alguns poucos
países não se deixaram acorrentar, como a Finlândia, por exemplo. E um pequeno
grupo de economistas e intelectuais que não se deixaram escravizar, como, entre
nós, Ladislau Dowbor, Theotônio dos Santos, António Belluzzo; Boaventuura de
Souza Santos, em Portugal; Noam Chomsky, nos EUA. Todos indicando que há
outro caminho: o da independência e da soberania.
Financeirizaram
do consumo às commodities e até a natureza, como se pode ler nas
matérias da nossa colaboradora especial, a palestina Amyra El Khalili, e logo o farão com a água,
o bem mais precioso para que exista vida.
Dando a
impressão de estarem desesperados por fazer caixa (juntar dinheiro) estão pondo
à venda tudo: de petróleo a cemitérios… de paletó às cuecas. Deixaremos que nos
deixem nus?
Os
exemplos são infinitos, mas, vejamos alguns mais explícitos que ajudem a
entender o que chamamos de irresponsabilidade.
Grilagem
dos ricos fica impune
O
governo do ilegítimo anunciou que quer vender a parte da União (união de quem?) nos
luxuosos condomínios residenciais e comerciais de Alphaville e Tamboré, que
abarcam áreas dos municípios de Osasco, Carapiquiba, Itapevi e Santana de
Parnaíba, na área metropolitana de São Paulo. Até há bem pouco tempo
eram terras indígenas e com pouco mais de 100 posseiros, que passaram a ser
propriedade da União.
Nunca
foram terras abandonadas, são pura e simplesmente terras griladas, para bom
entendedor, terras ocupadas ilegalmente. Como não foram ocupadas por sem
terras, mas por gente de muita terra, ninguém foi expulso, nunca a União pediu
reintegração de posse. Daqueles poucos posseiros nunca mais se ouviu falar.
De
grileiros, os invasores passaram a usufrutuar da imensa área em regime
de enfiteuse (arrendamento por prazo longo ou perpétuo de terras públicas a
particulares). Podem construir bem-feitorias, porém, a propriedade da terra
continua sendo da União, ou seja, da Nação, ou se preferirem, de todos os
contribuintes ao Tesouro.
A união é
dona de 270 mil imóveis que vão de cemitério a prédio na Avenida Paulista, o
metro quadrado mais caro. Para fazer caixa, está oferendo 800 propriedades, com
as quais pretende arrecadar R$ 9,3 bilhões. Que número é esse? Quem o fez e por
quanto foram avaliadas essas propriedades? Quem é que vai comprar? Só quem
achar que é um bom negócio, ou seja, só se for pra comprar barato para, em
seguida, vender caro.
Trabalha-se para pagar
dívidas
Foto: Pixabay
De acordo
com Marcio Pochmann, professor da Unicamp, ex-diretor do IPEA, em entrevista ao
Estadão, Fernando Henrique Cardoso assumiu o
governo com uma dívida pública líquida equivalente a 30% do PIB e entregou com
59%. Dilma Rousseff assumiu com dívida em 36% do PIB e entregou, ao ilegítimo,
com 39% e este a colocou, em ritmo ascendente, alcançando em março deste ano,
75,3% do PIB, traduzido em reais: R$ 4.98 trilhões. Segundo o FMI, ela deverá
atingir 87,3% do PIB até o fim do ano e chegar até 90%.
Por que isso acontece?
Isso
acontece porque os financistas criaram um Cassino Global, onde campeia a especulação
financeira. Segundo o FMI, a soma da dívida pública com a dívida privada,
chegou, em 2016, à astronômica cifra de R$ 164 trilhões, correspondente a 225%
do PIB mundial, veja bem, de toda a riqueza produzida no mundo.
Impressiona
olhar os dados do FMI. O mundo inteiro está pendurado. Nos países que eles
qualificam de economia avançada, a dívida chegou a 105% do PIB, a mais alta
desde a 2a Guerra Mundial. Nos países chamados emergentes, a dívida
está ainda em 40%
Segundo o
Fundo, no início de 2019, a dívida pública brasileira deverá ultrapassar 82% e,
em 2022, atingirá 96,9% do PIB, próximo a R$ 9 trilhões. Ao mesmo tempo em que
divulga esses dados, o FMI reclama que as reformas estão devagar e que ainda
falta muito. O que é que falta? Acabar com a seguridade social? Acabar com
ensino público? Acabar com a produção industrial? Se deixarmos, vão acabar com
o país. Quebrar já quebraram.
Entre
2013 e 2015 o custo da dívida esteve entre 5% e 9% do PIB, quando teve que
gastar mais de R$ 1 trilhão. Em 2017, por vários fatores que não se repetem
este ano, a dívida custou R$ 418 bilhões, o mais baixo dos últimos anos, se
jacta o governo.
Só que
não explica que paga a dívida com novas dívidas, ou seja, emite títulos a juros
altos para atrair especuladores do mercado financeiro.
Segundo o
informativo do Senado, o Orçamento da União de 2018 prevê que as “despesas com
o pagamento de juros, encargos e rolagem da dívida pública interna vão subir de
R$ 1, 285 trilhão em 2017 para R$ 1, 778 trilhão em 2018. (…) Um aumento dos
gastos com os encargos financeiros de R$ 493 bilhões em um orçamento que vai
crescer apenas R$ 70 bilhões. A projeção para 2019 é de R$ 489.3 bilhões, nada
menos que 6,48% do PIB
Protesto, em São Paulo, contra a PEC do Teto dos Gastos, que na Câmara
tramitou sob o número | Foto: Erick Dau
O
orçamento de 2018 foi o primeiro aprovado depois da Emenda Constitucional 95,
de dezembro de 2016, que instituiu um teto para os gastos públicos por 20 anos,
ou seja, até 2036. Em resumo, os gastos do governo no próximo ano (2019) não
poderá ser superior ao que se gastou no ano anterior (2017), corrigido pelo
IPCA do IBGE.
Com isso
e a baixa arrecadação, os mais prejudicados são os gastos sociais, como o
sal´srio mínimo de R$ 965,00, corrigido abaixo da inflação. O Bolsa família,
que “tirou da miséria 40 milhões de brasileiros”, (agora devem ser umas 20
milhões de pessoas), foi reajustado em R$ 10,00, passou a R$187,00, e custará
R$ 684 milhões. É acima da inflação, se jacta o governo ilegítimo… Seguramente
é o que gastam em cafezinho por mês os magos da economia nacional.
Corta em
todas as áreas da administração federal, exige o mesmo dos estados e
municípios, tudo para favorecer os ricos e o sistema financeiro, já que tem que
manter o famoso déficit primário, ou seja, primeiro tem que pagar os credores,
o resto que vá tomar banho de cachoeira….
O déficit
geral, nos últimos 12 meses, chegou a R$ 487,93 bilhões, absurdos 7,3% do PIB.
Tirando a sangria reservada para pagamento de juros da dívida, ainda fica em
torno de R$ 157 bilhões. O que sobra pra investimento? Quase nada.
Taxa de investimento mais
baixa da história
A taxa de
investimento vem se mantendo em queda desde que se impôs a hegemonia do capital
financeiro na política econômica do Estado. É o que chamamos de ditadura do
capital financeiro imposta pelo pensamento único (da Escola de Chicago).
Os dados
referentes ao último trimestre apontam que a taxa de investimento caiu para
1,17% do PIB. Segundo mostram os jornais, o menor nível nos últimos 50 anos. Em
alguns órgão públicos não têm dinheiro nem pra cafezinho.
Em 2017,
o governo teve para gastar R$ 76.9 bilhões em investimentos. O mais grave é que
o governo quer fazer caixa com venda de ativos e esses ativos estão
desvalorizados por falta de cuidado e falta de novos investimentos.
Em
compensação, para manter-se no poder e garantir reeleição aos apoiadores, o
governo ilegítimo liberou R$ 2 bilhões de emendas parlamentares. Dinheirinho
pros deputados e senadores gastarem em suas bases eleitorais com vistas a
garantir o emprego para o próximo mandato. Além disso, os subsídios oferecidos
pelo governo em 2017 somam R$ 354 bilhões, a maioria por isenções tributárias.
Um absurdo, bem maior que o déficit de 5,4% do PIB. Soma-se a isso os R$ 5
bilhões que a União deixa de receber por sonegação e falsificações.
Parlamente,
o PNAD do IBGE, referente ao trimestre, mostra que o número de empregados com
carteira assinada continua caindo, chegou a 10,7 milhões de pessoas, 402 mil
menos que o trimestre anterior.
A taxa de desemprego continua crescendo e está em
13,1% neste começo de ano, uns 14 milhões de trabalhadores. Essa estatística
não contempla os que já desistiram de procurar emprego, nem os que nunca
conseguiram ingressar no mercado de trabalho. Os desocupados e com renda
inferior a mil reais somam já uns 40 milhões de brasileiros.
O PNAD
mostra que o rendimento médio do brasileiro permanece estável em R$ 2,169,00.
Parece incrível más tem gente que vive com os R$ 40,00 e outros com R$ 100 mil
mensais ou até mais que isso. Que país é esse?
A crise é
fiscal ou é de burrice?
Os magos
da economia insistem em dizer que a crise é fiscal, e a única preocupação é com
o resultado primário (déficit) que tem se mantido em torno de 2% do PIB. Há que
ser muito criativo para fazer caixa. Fazer caixa com a venda de bens que não
lhe pertence, pois propriedade da União não é propriedade da Administração,
muito menos de um governo ilegítimo.
Há uma
pisca de verdade nisso de que a crise é fiscal. De certa forma é, pois, não
havendo produção e consumo, só desemprego e desindustrialização, com o
Agronegócio e o Petróleo isentos de taxas, contribuindo para um pibinho, não
tendo onde nem como arrecadar, as contas, evidentemente, não fecham.
Enquanto
o PIB nacional gira em torno de 1%, o PIB agrícola cresceu 13%. É o modelo
colonial perfeito. O país exporta grãos e minérios e compra o resto das
metrópoles coloniais.
É bom e
bem avançado o agronegócio no Brasil, só que ele não gera emprego e tem pouco
efeito de multiplicação na economia. Além disso, a expansão da fronteira
agrícola continua sendo genocida e ecocida. Como são os produtores que estão no
governo, eles se auto-isentaram, ou seja, não pagam impostos, se pagam, é
minimamente.
Com
efeito multiplicador na economia e geração de empregos estão: a indústria
imobiliária, a indústria em geral e as obras de infraestrutura.
O
petróleo e a Petrobras poderiam impulsionar a economia, financiar o setor
industrial e de infraestrutura. Mas os vende-pátria não só estão vendendo, como
isentaram as empresas estrangeiras de pagar impostos. Segundo o senador Roberto
Requião, ex-governador do Paraná, é simplesmente inaceitável que o Estado deixe
de lado uma possibilidade concreta de R$ 80 trilhões na próxima década. É
incrível…. “mataram a galinha dos ovos de ouro” enfatizou Requião.
Abílio
Diniz, ex-Pão de Açúcar, presidente da Península Participações e da BRF, além
de parte do Carrefour, no alto de seus 90 anos, não escondeu seu espanto ao
afirmar “estão vendendo o País…”. De fato, o país está em liquidação. Nos
últimos 12 meses, os investimentos estrangeiros diretos alcançaram US$ 56
bilhões, grande parte para compra de ativos estatais em liquidação, ou grandes
empresas em dificuldade por ação da justiça contra a corrupção. Pra
completar o espanto, tiraram filosofia e história no ensino e colocaram
educação financeira. Querem formar os novos quadros para manter o Cassino
Global.
Em 2017,
por exemplo, grupos dos Estados Unidos e da União Europeia investiram 24.3
bilhões de dólares na compra de bens de produção no Brasil. O maior negócio foi
a compra da Eldorado Brasil Celulose, um ativo estratégico, pelo grupo europeu
CA Investiment Br., por US$ 4,77 bilhões. Outro ativo estratégico, o Campo de
petróleo de Roncador, no pré-sal, foi comprado pela estatal norueguesa Statoil,
por US$ 2,9 bilhões. São exemplos que alongam esta análise, mas ajudam a
entender o que realmente estão fazendo os que ocuparam o Planalto, em benefício
da recolonização do país.
A quebradeira é geral
Não é só a administração federal que está mal.
A irresponsabilidade fiscal se estende pelos estados. Segundo o IPEA, vários
estados não conseguem arrecadar o suficiente para pagar os gastos com pessoal e
encargos sociais. As despesas cresceram 5,3% em relação com 2017 e as receitas
cresceram 1,9%.
São 14
dos 27 estados que estão deficitários. Rio de Janeiro é um exemplo dramático,
mas também estão quebrados Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio Grande do
Norte, Acre e o Distrito Federal.
Marcio
Pochmann, comentando esses dados, reitera o óbvio: parte das reservas, que no
final de 2017 somavam US$ 374 bilhões, podem alimentar o BNDES para financiar o
desenvolvimento. Com desenvolvimento gera-se emprego, consumo e arrecadação
para fechar as contas.
* Paulo Cannabrava Filho - Jornalista, editor de Diálogos do Sul
Fontes:
Jornais diários, impressos e
virtuais.
https://www12.senado.leg.br/noticias/audios/2017/12/orcamento-de-2018-preve-aumento-de-gastos-com-a-divida-publica/
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/04/18/consultorias-de-orcamento-esclarecem-principais-pontos-da-proposta-de-ldo-para-2019
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/custo-da-divida-publica-e-o-mais-baixo-da-historia-e-desmente-o-discurso-do-terror-fiscal/
http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/a-uniao-esta-quebrada-em-todos-os-sentidos-e-em-todos-por-irresponsabilidade/14052018/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog