O lance de Philippe Coutinho em 2009, no jogo do Vasco contra o ABC de
Natal, em São Januário, pela Série B do Campeonato Brasileiro é a prova cabal
de que querem enterrar o nosso futebol.
por Bruno Padron ''Porpeta''* no Portal Vermelho –
Sociedade e Brincando de Futebol
Figura da internet
Reverenciado por todo o mundo pela sua ginga e beleza, agora qualquer
passada de pé sobre a bola se torna um crime contra o fair-play. Mas o que se
entende como fair-play?
O futebol profissional vive de resultados! As Copas de 1982 e 1994 foram
balizas importantes para definir na cabeça de muitos que o resultado é
fundamental.
Em 82, jogamos maravilhosamente, encantamos o mundo, mostramos craques
como Zico, Falcão, Sócrates, dentre outros. Infelizmente, o futebol de
resultados da Itália nos derrotou. Já em 94, tínhamos um gênio e um time que
jogava para vencer. Vencemos, pela primeira vez na história das Copas, nos
pênaltis, e contra a mesma Itália.
Desde então, o resultado se tornou uma obsessão. Independente da beleza
do futebol, montamos times para vencer. Consideramos empates em 0 a 0 fora de
casa como vitórias. Há sua razão, todos os torcedores gostam de títulos. Nada
melhor para fidelizar seus consumidores do que as vitórias. Às vezes, a paixão
e os negócios caminham juntos. Nada mais óbvio na sociedade em que vivemos.
Vá lá que para nós, dedicados apaixonadamente aos nossos clubes, a
vitória seja importante, mesmo que não tão bela, embora sempre prefiramos
ganhar bonito. Mas se há algum personagem nessa história que deve zelar pelo
futebol jogado, esse é o árbitro.
O homem de preto, agora em versões fluorescentes, é o responsável pela
preservação do bom jogo, pela coibição do uso da força em detrimento da jogada,
seja ela um cruzamento na área pelo alto, seja um drible.
Do drible conhece-se como uma jogada na qual se ludibria o marcador
adversário, usando o corpo ou somente os pés, tocando a bola ou não.
Compreende-se que ele faz parte do jogo, e serve também ao resultado, sendo
feito com o propósito de criar uma jogada de gol ou sair de situação adversa no
campo defensivo.
O Vasco vencia por 3 a 0, e numa clara intenção de deixar o tempo correr
até o fim do jogo, o time cruzmaltino segurava a bola no campo de ataque,
inteligentemente, diga-se de passagem, pois visava à manutenção do resultado.
Quando Philippe Coutinho carregou a bola para próximo da lateral direita do
campo, na tentativa de driblar o adversário passou o pé várias vezes sobre a
bola. O zagueiro conseguiu o corte e jogou a bola para fora.
Percebam que nessa jogada, o jovem atacante vascaíno de 17 anos e um
talento, mas que infelizmente foi vendido para a Inter de Milão (ITA) se
apresentando ao novo clube em julho do próximo ano, gastou alguns segundos de
jogo passando o pé sobre a bola e ainda ficou com a posse de bola. Nada mais
útil naquele momento do jogo.
Mas o árbitro Luiz Alberto Bites entendeu que aquilo era uma tentativa
de “humilhação” do adversário e repreendeu o garoto, ameaçando aplicar-lhe um
cartão se ele prosseguisse fazendo aquilo.
O que ele não pode fazer? Ganhar o jogo?
Essa bronca revela muito sobre o que alguns pensam sobre o futebol.
Leia-se aí, a alta cúpula do futebol.
Qualquer iniciativa
mais artística vinda dos jogadores é uma ofensa à mediocridade imposta pelo
futebol de resultados. Condecora-se uma penca de brucutus que jogam a base do
porte físico e da seriedade e responsabilidade que possui um bico para o alto.
Classificam o
espetáculo dado pelo drible como uma afronta ao fair-play. Mas não explicam a
contradição entre a busca incessante pelo resultado e a capacidade de manter-se
honesto com o adversário e compromissado com o jogo limpo.
Quantas vezes uma equipe faz rodízio de jogadores para cometer faltas
sobre os atacantes adversários, a fim de evitar cartões e paralisar o jogo a
todo o tempo? Nada mais antiético, embora nunca repreendido individualmente
pelo árbitro. Afinal, o que dizer para um marcador que cometeu duas ou três
faltas somente? Ainda mais se forem as chamadas “faltinhas” só para trancar o
jogo, em geral cometidas sem violência excessiva.
Cometer faltas, para impedir o progresso do adversário enquanto se
reorganiza o sistema defensivo, é do jogo. Assim como também é do jogo “cavar”
faltas próximas à grande área, ou até mesmo dentro dela, gerando uma
possibilidade real de gol.
A mesma serventia ao jogo que teve o lance de Philippe Coutinho,
ganhando tempo para consolidar a vitória.
Assim como o drible da foca, que rendeu muitas pancadas em Kerlon, do
Cruzeiro, que, minimamente, abria a possibilidade de uma jogada de bola parada.
Não fosse isso, ele pararia na cara do gol.
A falta cometida às
vezes serve ao resultado, no entanto carrega seu ônus. Mas a violência e a
crítica ao drible só servem para provar que faltam miolos a alguns jogadores e
a muitos dirigentes.
Porém, o árbitro deve ser o guardião do espetáculo, aplicando e
interpretando a lei quando se faz necessário, e para isso precisa de duas
coisas: inteligência e gosto pelo futebol. Se não possuir estas duas qualidades
está sujeito a cometer barbaridades como a de Bites. E assim dar uma
inestimável contribuição ao futebol sem alegria.
* Bruno Padron ''Porpeta'', É bancário e,
diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles.
http://www.vermelhoanterior.provisorio.ws/base.asp?texto=61081
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