A direita finge que Lula não
existe, que é carta fora do baralho, que deve abandonar o jogo e indicar um
substituto. Já quando ele foi preso, obituários encheram páginas e páginas,
decretando o fim de um mito
por Eleonora
de Lucena no Tijolaço – Sociedade e Eleições no Brasil pós-golpe 2016
Espetacular a lucidez do artigo de Eleonora de Lucena, hoje, na Folha de
S. Paulo. Memória, história e realidades, para nos mostrar o que temos pela
frente, o que temos às nossas costas, a nos empurar para a resistência e que
esta resistência tem um nome: Lula.
Agosto
Com cabos
de vassoura, paralelepípedos e barras de ferro, o grupo avançou pela rua e
parou em frente a uma loja de carros importados. Entraram quebrando tudo:
vitrines, para-choques, estofados.
Uma
centena de metros antes, tinham atacado uma cervejaria estrangeira. A raiva
explodira e deixava um rastro de destruição. Inconformados, incrédulos,
desesperados percorriam a cidade. Uns berravam; outros choravam.
Era o que
meu avô contava daquele agosto. Pelo rádio, a “Carta Testamento” trouxe a
denúncia sobre o complô promovido por grupos internacionais e seus aliados
internos. Expôs ataques à Petrobras, à Eletrobras e às leis trabalhistas.
Isso em 1954.
A morte
de Getúlio Vargas adiou o golpe por dez anos, costumam apontar os
historiadores. Pois cá estamos, em 2018, no meio de um golpe que ainda tenta
derrotar a Petrobras, a Eletrobras, as leis trabalhistas. Além delas, outras
conquistas de muitas décadas estão na mira: a Embraer, o SUS, o BNDES, os
programas sociais, a educação universal.
Marielle
e Anderson são assassinados. Violência e preconceito crescem. A mortalidade
infantil aumenta. O desemprego, o desassossego e a desesperança campeiam. O
retrocesso civilizatório é amplo, geral e irrestrito. Cotidianamente, a
democracia e a soberania são enxovalhadas.
De costas
para tudo isso, uma parte do empresariado não tem constrangimento em flertar e
apoiar um candidato que defende o assassinato de pobres. Ignorando princípios
básicos da civilização pós-iluminista, promovem encontros de olho apenas nos
seus rendimentos de curto prazo.
Herdeiros
de grandes nomes da burguesia se alinham a arrivistas para cortejar quem quer
que diga defender os seus ganhos. A direita —que gosta de ser chamada de centro
e que alimenta o fascismo— reza para que o tempo de TV seja a salvação da
lavoura, da sua lavoura, claro.
Há uma
complicação inexorável para a direita: o voto universal. Coisa que os alardeados
mercados não cansam de dizer que causa “tumulto”, “incerteza”,
“imprevisibilidade”. Para eles, seria melhor que não houvesse eleição.
Assim,
seguiria, sem maiores percalços, o ataque aos fundos públicos, ao Estado. E a
entrega de patrimônio construído por décadas. E o alinhamento subserviente ao
Norte.
Ocorre
que o líder nas pesquisas está preso. Um processo questionado por renomados
juristas é instrumento para deixá-lo de fora da disputa —que poderia vencer até
em primeiro turno.
A direita
finge que Lula não existe, que é carta fora do baralho, que deve abandonar o
jogo e indicar um substituto. Já quando ele foi preso, obituários encheram
páginas e páginas, decretando o fim de um mito.
Mas, até
agora, a maior parcela dos eleitores está com ele. Votar em um preso, nessa
conjuntura, significa um protesto, uma revolta silenciosa, uma forma de
derrubar, pela via eleitoral e legal, a malta que saqueia o país e seus
cidadãos. Nada a ver com letargia. É uma ideia de futuro que move os eleitores.
O que
ninguém sabe é o que vai acontecer se Lula não estiver na urna em 7 de outubro.
Ou se os votos dados a ele forem cassados pela Justiça. As eleições serão
consideradas legítimas? É certo que um dos objetivos da direita sempre foi
afastar o povo da urna. A ideia do voto não obrigatório é uma face desse antigo
projeto.
É
possível que a exclusão de Lula da eleição coloque a própria democracia em
risco ainda maior. Os golpistas, que jogam o país no precipício, têm poucas
semanas para sacramentar sua estratégia. Já os defensores da democracia
precisam se unificar em torno da sua: Lula livre! E candidato.
http://www.tijolaco.com.br/blog/lula-contra-o-precipicio/
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