Amorim
explicou o que é ser um “pária”: “Progressivamente, a voz do Brasil não será
ouvida, ele não será chamado a reuniões. Será um país à margem da lei
internacional. O Brasil está propondo o que propunha o Talibã, a lei da Selva”
por Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual – Sociedade e Autoridades Públicas Brasileiras Sem Rumo
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RBA
Pinheiro (esq.), Valeska, Zanin e
Amorim disseram que todos os órgãos do Estado são obrigados a cumprir decisão
“Não há opção. Se o Brasil não cumprir, está
se colocando como um pária internacional. Só lembro do Paquistão, e outro país
que não vou mencionar, governado pelo Talibã, que se recusou (a cumprir
decisão similar)”, disse o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso
Amorim. “O Brasil tem duas opções: cumprir ou ser um pária internacional.”
Amorim,
os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins, e o diplomata e ex-ministro de
Direitos Humanos Paulo Sérgio Pinheiro concederam na tarde de hoje (17)
entrevista coletiva para explicar o significado e os efeitos da decisão do Comitê de Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas sobre os direitos políticos
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Perguntado
por um jornalista o que significa ser um “pária”, Amorim explicou:
“Progressivamente, a voz do Brasil não será ouvida, ele não será chamado a
reuniões. Será um país à margem da lei internacional. O Brasil está propondo o
que propunha o Talibã, a lei da Selva”.
Antecipando-se
a esperadas abordagens midiáticas sobre a decisão do comitê das Nações Unidas,
Paulo Sérgio Pinheiro afirmou esperar que “o debate não desqualifique essa
decisão, porque será um ato de total estupidez e não entendimento”. Segundo
ele, se o Brasil não respeitar a ONU, vai confirmar “que não é um país sério”.
Ele
esclareceu que a decisão não partiu de um “grupinho de amigos”. “São 18 experts
eleitos pela Assembleia Geral.” A decisão requisita ao Estado a adoção de todas
as medidas para que Lula usufrua de todos os seus direitos políticos como
candidato nas eleições enquanto esteja na prisão.
Entre
esses direitos, acesso aos meios de comunicação, contato sem restrições com
correligionários e participação em debates, entre outros. Pinheiro, que
foi ministro de Fernando Henrique Cardoso, lembrou que a decisão é liminar e
não é sobre “o grande processo” contra Lula. A concessão de liminar acontece
quando há possibilidade de um dano irreparável.
O
advogado britânico Geoffrey Robertson, representante de Lula nas Nações Unidas,
participou da coletiva por videoconferência e comemorou a notícia. “É um grande
dia para a democracia por essa importante decisão”, disse, com seu forte
sotaque britânico. Defensor do ativista Julian Assange, mentor do WikiLeaks,
ele também representou o boxeador Myke Tyson. É considerado um dos mais
importantes especialistas em direitos humanos do mundo.
Em nota,
o Itamaraty afirmou que “a Delegação Permanente do Brasil em Genebra tomou
conhecimento, sem qualquer aviso ou pedido de informação prévios, de
deliberação do Comitê de Direitos Humanos relativa a candidatura nas próximas
eleições”. Segundo o comunicado, “as conclusões do Comitê têm caráter de
recomendação e não possuem efeito juridicamente vinculante”.
“Como ex-chanceler, acho lamentável que tenha
saído essa nota, que é uma contradição, porque reconhece os tratados, mas diz
que é uma recomendação. Não é uma questão de opinião, é uma questão técnica.”
Durante a entrevista, o ex-ministro das Relações Exteriores acessou os jornais The
New York Times (Estados Unidos) e Le Monde (França) para ler aos
jornalistas a repercussão internacional de decisão do comitê da ONU, dois dos
mais importantes jornais do mundo.
“Este
comitê (da ONU) – explicou o jornal francês –, que é um órgão de monitoramento
do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos,
é responsável por garantir o cumprimento do Pacto Internacional sobre os
Direitos Civis e Políticos. Como o Brasil ratificou ambos os textos, é
tecnicamente obrigado a respeitar as decisões do comitê.”
A
determinação tem força vinculante para todos os órgãos estatais. “O cumprimento
é obrigatório”, disse Cristiano Zanin. Ele citou, como precedente, manifestação
da Procuradoria-Geral da República (PGR), na Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 320, em que o órgão afirma que “a persecução penal
de graves violações a direitos humanos deve observar pontos da Corte
Interamericana de Direitos Humanos em face do Brasil, em razão de seus efeitos
vinculantes para todos os órgãos administrativos, legislativos e judiciais do
Estado brasileiro”.
O Decreto
Legislativo nº 311, de 2009, aprovou o texto do Protocolo Facultativo ao Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, adotado em Nova York, em 16 de
dezembro de 1966. O Brasil assinou o pacto em 1985 (no governo de José Sarney)
e o ratificou em 1992 (no período de Fernando Collor), lembrou Paulo Sérgio
Pinheiro, consolidando a questão pelo parlamento brasileiro.
Questionado
sobre a qual órgão ou instituição brasileira deve fazer cumprir a decisão do
comitê da ONU, Zanin Martins explicou que ela se dirige ao Estado brasileiro, e
portanto é vinculante a todos os órgãos, sem distinção, como elucida a
manifestação da PGR.
A
advogada Valeska Martins lembrou que a própria Operação Lava Jato, os
procuradores e o juiz Sérgio Moro responderam a comunicado do processo do
comitê das Nações Unidas, reconhecendo-se, portanto, como parte no processo.
Amorim explicou
que não é o governo brasileiro ou representantes de instituições que são
signatários do pacto. “Foi assinado pelo Estado brasileiro, não pelo governo. E
isso foi ratificado."
https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/08/se-brasil-nao-cumprir-decisao-da-onu-e-um-paria-internacional-diz-celso-amorim
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