Dos 13
candidatos à Presidência da República, apenas Boulos (PSOL) e o Partido dos Trabalhadores
falam em acabar com a dominação de rádios, TVs, jornais e revistas nas mãos de poucos
por Camila Moreira no
site Desacato – Sociedade e Comunicação de Massas
O Brasil está entre os países que tem uma das
maiores concentrações no setor de
comunicações. Essa condição coloca para os brasileiros o
desafio de superar esse cenário, colocando às políticas de comunicação um
patamar estratégico e fundamental para se garantir democracia, liberdade de
expressão, pluralidade e diversidade de ideias, vozes e narrativas.
A pesquisa Media Ownership Monitor (MOM),
coordenada pelo Intervozes e Repórteres
Sem Fronteiras, e lançada em 2017, confirma essa concentração. Foram
estudados os 50 maiores meios de comunicação do Brasil e concluiu-se que apenas
cinco grupos ou seus proprietários individuais concentram mais da metade desses
veículos. Ou seja, poucos sujeitos controlam o discurso que é acessado pela
maior parte da população brasileira.
Mudar este cenário de concentração dos meios de
comunicação é primordial, sobretudo, no atual momento eleitoral que vivemos.
Torna-se urgente uma proposta dos atuais candidatos à Presidência da República
que reformule esta concentração. Porém, o que se observa é algo bem diferente.
A comunicação, tema tão central na sociedade atual, ficou em último plano
nos programas de governo de quem almeja sentar na cadeira de gestor do país,
agora, já em 2019.
Entre os 13 presidenciáveis,
apenas sete deles têm em seus programas de governos algum tópico ligado à
comunicação. São eles: José Maria Eymael
(PSDC), Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL), João Goulart Filho (PPL), Lula/Haddad (PT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSol). Dos candidatos (as) citados
anteriormente, a maioria ficou na superficialidade, apontando generalidades,
sem especificar de fato como executar o pouco apresentado. As exceções foram o
Partido dos Trabalhadores e o Partido Socialismo e Liberdade.
Álvaro Dias (Podemos), Henrique
Meirelles (MDB), Cabo Darciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), João Amôedo
(Novo) e Vera Lúcia (PSTU) não dedicaram uma linha sequer para o tema da comunicação dentro dos
seus programas.
Proposta específicas sobre rádio e televisão foram
apresentadas apenas pela candidatura do PT e Guilherme Boulos (PSOL), o que
torna ainda mais preocupante este cenário. João Goulart Filho chegou a citar um
ponto, mas muito discretamente: prometeu às produções culturais locais acesso
aos meios de comunicação, como recomenda expressamente a Convenção pela
Diversidade Cultural (UNESCO, 2005), firmada pelo Brasil. Mas sequer entrou no
mérito de como faria essa democratização.
Marina Silva seguiu
na mesma linha do “quase nada” de proposta. Dentro do tópico cultura e
valorização da diversidade, fala em compromisso com a plena garantia do direito
à liberdade de expressão que será promovido e respeitado em todas as suas
dimensões, incluindo a liberdade de imprensa e o direito à comunicação, direito
de cada cidadão de informar, se informar e ser informado. Não detalhou nada
sobre rádio, TV, jornais e revistas.
Boulos e Partido
dos Trabalhadores: pontos em comum
Já a candidatura do Partido dos Trabalhadores promete
apresentar, nos seis primeiros meses de governo, uma proposta de novo marco
regulatório da comunicação social eletrônica, “a fim de concretizar os
princípios da Constituição Federal para democratizar largamente a comunicação
social e impedir que beneficiários das concessões públicas e controladores das
novas mídias restrinjam o pluralismo e a diversidade”. Boulos seguiu a mesma linha e
acredita que falar de Estado e democratização do poder é tratar da soberania
nacional, da necessária democratização dos meios de comunicação, de direitos
sociais, de participação popular na decisão dos grandes temas nacionais, de uma
política de segurança pública cidadã.
Assim como o Partido dos Trabalhadores, Boulos
promete impedir o controle de outorgas por deputados e senadores e os atuais
monopólios e oligopólios diretos e indiretos. Além disso, quer impor limites à
concentração dentro do mercado. A ideia dele é proibir o controle de diferentes
mídias ou de atividades da mesma cadeia de valor pelos mesmos donos. Os tópicos
cutucam exatamente a ferida da concentração dos meios de comunicação nas mãos
de poucos, que Lula, enquanto presidente, não resolveu.
Ambos defendem a criação de um órgão regulador com
composição plural e supervisão da sociedade, para monitorar e fazer a aplicação
dos princípios constitucionais. E falam sobre restabelecer a autonomia da
Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que vem sofrendo um processo de desmonte atacada desde o primeiro dia
de governo de Michel Temer. Enquanto isso, Bolsonaro, Alckmin
e Amoedo, apesar de não mencionarem a EBC em seus programas, têm dado
declarações públicas de que fecharão a empresa pública de comunicação caso
sejam eleitos.
Comunicação de Massas: direito humano fundamental
Dentro do programa de governo, o PSOL trouxe um
capítulo inteiro dedicado ao assunto. São 23 páginas que tratam somente sobre
democratização das comunicações. Se vencer as eleições, o partido diz que
buscará um sistema midiático plural e democrático. Para o partido, é preciso
compreender a comunicação como direito humano fundamental.
Para esse sistema midiático plural, 15 itens são
apontados. Entre eles, garantir o respeito aos direitos humanos na mídia
(contra a barbárie dos programas policialescos), uma nova Lei de Meios, que
fará com que mais sujeitos possam participar da disputa pelas narrativas. No
Congresso, defende a disputa pela regulamentação dos artigos constitucionais
relacionados à Comunicação, entre eles, estabelecer a complementaridade dos
sistemas públicos, privado e estatal, e determinar que os serviços de radiodifusão
tenham finalidade educativa e cultural.
Direitos humanos na mídia brasileira
A proposta de regulamentação dos programas
policialescos é uma das metas importantes. Ela tem como base um estudo
conduzido pela ANDI em colaboração com o Intervozes, a Artigo 19 e o Ministério
Público Federal, que aponta que pelo menos 12 leis brasileiras e sete tratados
multilaterais são desrespeitados cotidianamente pelos programas ditos
“policialescos”, que se valem de uma concessão pública para ir ao ar. Para
tanto, o partido diz ser necessária uma atuação de fiscalização destes
conteúdos, “uma vez que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa
devem conviver harmonicamente com os demais direitos”, diz o programa de
governo. “O primeiro passo é compreender que tais programas não são
propriamente jornalísticos, mas fazem parte de uma categoria específica, cujo
conteúdo violento e sensacionalista não deve ser veiculado em todos os horários
de uma rede de televisão aberta”, diz o texto.
*Camila
Moreira é jornalista, formada pela Universidade Federal do Pará. Já atuou
em assessorias de comunicação de órgãos públicos e empresas privadas, além de
jornais como repórter e editora.
http://desacato.info/como-os-candidatos-pretendem-acabar-com-o-monopolio-da-midia/
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