Não se espera que os países modifiquem a base do informe sobre o clima,
mas pode haver um forte debate sobre sua formulação. Além disso, resta a
incógnita dos Estados Unidos...
por redação JB – Sociedade e
Sobrevivência da Terra
Desenho da internet
Reunidos
na Coreia do Sul, os delegados dos países filiados à ONU estudam, a partir
desta segunda-feira (1º/out), o último informe dos cientistas do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), um
balanço implacável dos efeitos da mudança climática e do atraso para
enfrentá-la.
O informe
se baseia em 6.000 estudos científicos e adverte sobre o forte impacto do
aumento de 1,5 ºC das temperaturas no planeta. Também coloca as opções, limitadas,
para agir e manter o mundo abaixo desse limite.
Em 2015,
na cúpula COP21 realizada em Paris, a ONU encarregou o IPCC de fazer um informe
sobre a meta de 1,5 ºC.
Os países
tinham acabado de se comprometer com reduzir suas emissões para permanecerem
"muito abaixo dos 2 ºC" em relação à era pré-industrial.
O
compromisso ampliado de "prosseguir com os esforços para limitar o aumento
a 1,5 ºC" foi obtido no último minuto e era uma reivindicação dos Estados
mais vulneráveis, como as ilhas menores.
Desde então,
os pesquisadores revisaram os riscos, em um mundo afetado pelo aumento das
ondas de calor e dos incêndios florestais.
"Há
três anos, não havia muita literatura científica sobre um aquecimento de 1,5
ºC", lembra Jim Skea, professor do Imperial College de Londres e
copresidente do IPCC.
O
informe, de 400 páginas, descreve uma clara diferença de impacto entre 1,5 ºC e
2 ºC, em todos os âmbitos, seja em relação ao nível das ondas de calor, à
extinção de espécies, ou à produtividade agrícola.
"Isso
é importante, pois esclarece a questão: sim, marca uma grande diferença [1,5 ou
2]", afirma Laurence Tubiana, arquiteta do Acordo de Paris.
"Lembro
de conversas com muitos países antes de Paris. Nos diziam: 'por que 2 ºC? Por
que não 2,5 ºC?'", completou.
Há dúvidas,
porém, sobre a viabilidade da meta de +1,5 ºC. A pergunta não é irrelevante,
caso se leve em conta que, em 2017, as emissões mundiais fruto da energia
fóssil voltaram a crescer.
"Não
damos uma resposta simples", avisa a climatologista Valérie Masson-Delmotte,
que copresidirá esta sessão coreana do IPCC.
Mas,
"agora estamos na encruzilhada. Olhar para 1,5 ºC é olhar o que vai
acontecer com a gente, na nossa vida, não à geração seguinte".
Estabilizar
o aumento em 1,5 ºC exige neutralidade nas emissões de CO2 na metade do século,
aponta o projeto submetido ao IPCC.
A
publicação do informe chega dois meses antes das negociações sobre o clima da
COP24, prevista para acontecer na Polônia. Os países devem iniciar um processo
de revisão de seus compromissos de 2015, insuficientes, já que implicaria um
aumento de 3 ºC.
Não se
espera que os paísese modifiquem a base do informe, mas pode haver um forte
debate sobre sua formulação. Além disso, resta a incógnita americana.
"Os
Estados Unidos poderiam apoiar a ciência, como fizeram no passado, ou
obstruí-la", afirmou um autor, que pediu para não ser identificado.
Segundo o
Departamento de Estado americano, Trigg Talley, um veterano da diplomacia sobre
o clima, foi o encarregado de liderar a delegação - algo que os autores
avaliaram como "tranquilizador".
Cerca de
60 governos proferiram 3.600 comentários sobre a versão preliminar, segundo
Valérie masson-Delmotte. "Até o momento, está sendo construtivo",
afirmou.
Em
princípio, a reunião vai até sexta (05/out), mas o informe deve ser tornado
público, oficialmente, na segunda-feira, dia 8/out.
cho/ial/dar/jvb/pc/tt
https://www.jb.com.br/ciencia_e_tecnologia/2018/10/942822-cientistas-apresentam-na-onu-diagnostico-sobre-clima.html
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