Quando se leva em conta, entretanto, o número de alunos – ou seja,
a quantidade de investimento para cada estudante – o cenário brasileiro é um
dos piores, estando abaixo de várias nações. O Brasil, que tem mais de 40
milhões de matriculados na Educação Básica, investe 5,6 mil dólares anuais
para cada aluno
por Rafael Tatemoto no Brasil de Fato e Sul21 – Sociedade e Fake News na Educação do Brasil
Marcos Santos/USP Imagens / Mensagem presidencial distorce desempenho
brasileiro em rankings internacionais
O
presidente Jair Bolsonaro (PSL) dedicou parte de seu tempo na segunda-feira (4/março/2019) de carnaval para postar mensagens sobre a situação
da educação no Brasil, criticando um suposto gasto excessivo do país na área.
Nas mensagens, entretanto, Bolsonaro não menciona importantes dados relativos à
situação da educação no Brasil, principalmente quando se leva em conta a
quantidade de estudantes no país.
“Brasil
gasta mais em educação em relação ao PIB que a média de países desenvolvidos.
Em 2003 o MEC gastava cerca de R$30bi em Educação e em 2016, gastando 4 vezes
mais, chegando a cerca de R$130 bi, ocupa as últimas posições no Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (PISA)”, afirmou.
É verdade
que o país investe mais do que outras nações em desenvolvimento, ainda que se
deva levar em conta que o Brasil tenha passado por períodos de contração do
Produto Interno Bruto no período entre 2015 e 2016. Argentina, Chile,
Colômbia e México investem, respectivamente, 4,9%, 4%, 4,2% e 4,6% de seus
orçamentos anuais em educação. O Brasil emprega cerca de 5%.
Quando se leva em conta,
entretanto, o número de alunos – ou seja, a quantidade de investimento para
cada estudante – o cenário brasileiro é um dos piores, estando abaixo das
nações citadas. O Brasil, que tem mais de 40 milhões de matriculados na
Educação Básica, investe 5,6 mil dólares anuais para cada aluno, levando-se em conta o salário
de docentes, material escolar e infraestrutura, políticas de formação de novos
professores e medidas para se diminuir o número de educandos por sala de aula,
de acordo com estudos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE).
Em
comparação, a média da OCDE é de 9,7 mil dólares. Portugal investe 7,5 mil e os
EUA quase o triplo do Brasil: 15 mil dólares. No estudo da OCDE, apenas
seis países ficam atrás do Brasil nesse indicador. A última posição é da
Indonésia, que aplica 1,6 mil dólares em cada aluno.
Também
não é uma verdade absoluta de que o desempenho do Brasil no Pisa não tenha
melhorado nos últimos anos. O Programa de Avaliação, criado pela OCDE, apontou
o país em último lugar na pesquisa de 2003. Dez anos depois, entre 65 países,
ficamos em 55º em leitura, 58º em matemática e 59º em ciências. A própria OCDE
reconhece os avanços, ainda que ligeiros, dado que as políticas públicas
estavam focadas na expansão e universalização do acesso a escolas e
universidades.
Na
contramão
Desde o
golpe que destituiu Dilma Rousseff da presidência da República, uma série de
medidas que contribuem com a precarização do ensino público estão sendo
tomadas nos últimos anos. A Emenda Constitucional do Teto de Gastos, por
exemplo, aprovada em dezembro de 2016, congela o aumento de investimentos
públicos por duas décadas. Com o aumento da demanda por serviços públicos, como
educação, a medida gerará deficiências na cobertura orçamentária dessas áreas.
A equipe
econômica do presidente, entretanto, rejeita abandonar a política de
limitações. A alternativa que vem elaborando, por outro lado, é justamente a de
retirar da Constituição um patamar mínimo de investimentos na educação em
relação ao PIB.
Em
novembro de 2016, Michel Temer sancionou a Lei 13.365/2016, que revoga a
obrigatoriedade da participação da Petrobras na exploração do petróleo da
camada pré-sal. A medida impacta diretamente os recursos da estatal que
têm que ser destinados para educação e saúde.
Um
ministro da educação trapalhão
O
ministro da educação do governo Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez,já acumula
diversas críticas quando resolve expressar sua forma de pensar. Em apenas
dois meses no cargo, Vélez Rodríguez já tomou medidas, declarações e
recuos de grande repercussão. A última delas foi o pedido para que escolas
filmassem alunos cantando o hino nacional nos primeiros dias do ano
letivo. A orientação causou duras críticas entre entidades de educação
país afora, e o ministro acabou reconhecendo “o equívoco”.
Já numa entrevista ao jornal “Valor Econômico” em 28 de
janeiro de 2019, Vélez Rodríguez afirmou que “a ideia de universidade para
todos não existe”. De acordo com o ministro, instituições de ensino nesse nível
devem ficar restritas para uma “elite intelectual”, que não seria exatamente o
mesmo de uma “elite econômica”.
Outra medida polêmica ocorreu logo no início do
mandato, em 2 de janeiro, quando o MEC alterou o Programa Nacional do Livro Didático. O novo projeto retirava a
restrição à presença de publicidade nas obras didáticas. O combate à violência
contra a mulher e a promoção da cultura quilombola também não estariam mais no
documento.
https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/geral/2019/03/ao-contrario-do-que-bolsonaro-afirma-brasil-e-um-dos-que-menos-investe-em-educacao/
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