Os cientistas, estes mesmos que têm sido tão fortemente aplaudidos e
reverenciados quando descobrem formas de melhorar a vida da humanidade, é quem
dizem, com base em nada menos do que seis mil estudos, que as emissões de gases do efeito
estufa estão por trás do aquecimento e das mudanças climáticas
por redação da revista IHU Unissinos e G1 – Sociedade e Catástrofes
Devido as Mudanças Climáticas*
Guterres secretário geral da ONU,
apelou aos líderes que vão se reunir em setembro na cúpula das Nações
Unidas, em Nova York, faz este apelo não à toa. É que
há muito a fazer para que verdadeiras mudanças nos níveis de produção
e consumo, de fato, comecem a fazer diferença. Por enquanto,
pouco se vê como resultado prático dos encontros que debatem o clima. Para
ilustrar com mais estudos a preocupação do chefe da ONU, na
semana passada a Organização Meteorológica Mundial (OMM)
divulgou um relatório que constata que 62 milhões de pessoas foram afetadas
pelas mudanças do clima somente em 2018. E mais: a temperatura
global, segundo os estudos, já subiu 1º grau acima do período
pré-industrial.
É preciso
cortar as emissões globais de gases do efeito estufa
em 45% até 2030, sob pena de que as inundações, as ondas
de calor e os instantâneos de frio prolongados
devastem ainda mais vidas em todo o mundo. Petteri Taalas,
secretário-geral da OMM, na apresentação do
relatório, lembra que o Ciclone Tropical Idai, que
massacrou Moçambique, Zimbábue e Malaui
com inundações devastadoras, pode ser considerado até agora, um dos mais
mortíferos desastres relacionados ao clima a atingir o Hemisfério Sul.
“Idai
atingiu a cidade de Beira, uma cidade em rápido crescimento e baixa altitude,
num litoral vulnerável a tempestades e já enfrentando as consequências da
subida do nível do mar. As vítimas de Idai personificam por que precisamos da
agenda global sobre desenvolvimento sustentável, adaptação às mudanças
climáticas e redução do risco de desastres”, disse Taalas.
Os céticos do clima começam a se mexer na
cadeira, estou certa disso. Hão de dizer que é impossível atribuir toda a culpa
do que está acontecendo nos países africanos – em Moçambique já se registra um
caso de cólera – às mudanças climáticas. São países pobres,
que não têm estrutura para suportar eventos extremos de qualquer magnitude,
diriam. Isto também é verdade, já que para os países ricos é muito mais fácil
se livrar de tais problemas. Assim mesmo, sabemos bem o que acontece aos
habitantes dos Estados Unidos, a nação mais rica, quando
são atingidos por furacões. Logo...
Fato é que
quando a primeira edição do relatório anual da OMM foi
divulgada, há quinze anos, os níveis de dióxido de carbono estavam em 357 partes
por milhão. Em 2017, eles atingiram 406 partes por milhão, com especialistas
esperando números ainda maiores para 2018 e 2019.
Os cientistas,
estes mesmos que têm sido tão fortemente aplaudidos e reverenciados quando
descobrem formas de melhorar a vida da humanidade, é quem dizem, com base em
nada menos do que seis mil estudos, que as emissões de gases do efeito
estufa estão por trás do aquecimento e das mudanças
climáticas. São eles também, não custa lembrar, que em outubro do ano
passado lançaram o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC,
na sigla em inglês) advertindo que o mundo precisa de mudanças sem precedentes
para alcançar a meta traçada no Acordo de Paris, de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius.
Voltemos ao
relatório recentemente divulgado pela OMM. Segundo ele, as enchentes
atingiram mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo em 2018. A seca também
afetou nove milhões de pessoas, áreas do Quênia,
Afeganistão e América Central, além de ter provocado
migrações em El Salvador, Guatemala,
Honduras e Nicarágua.
“Esses
extremos estão piorando a fome, que está aumentando novamente após
um declínio prolongado. Em 2017, o número de pessoas subnutridas
foi estimado em 821 milhões. Quarenta países continuam a depender de
assistência externa para o fornecimento de alimentos, dos quais 31
estão na África”, diz a reportagem sobre o relatório no site Climate Home News.
O Relatório da OMM deixa
claro que as variações climáticas e os eventos extremos – seca,
tempestades, furacões, ciclones –
estão impulsionando as crises alimentares no mundo.
Segundo o relatório, 2018 foi o quarto ano mais quente já
registrado. E não foram poucas as implicações disto na vida de pessoas comuns.
Somente em setembro de 2018, seca, inundações e tempestades provocaram o
deslocamento de dois milhões no mundo.
O verão na Índia foi menos chuvoso do que
normalmente, mas no Oeste do Himalaia teve mais precipitações
do que sempre. No total, a Índia registrou 9% a menos de
chuva, o que, é claro, impacta diretamente a agricultura. Já na África
choveu mais do que normalmente chove, mas na região que fica entre o Senegal
e a Costa do Marfim, houve menos chuva do que sempre. De novo:
o impacto disso para uma agricultura que já não tem muitos
recursos, é enorme.
Japão foi castigado por uma forte onda de
calor, seguida de tempestades que causaram enchentes. Um recorde de temperatura
alta: 41.1 graus registrados na cidade de Kumagaya no
dia 23 de julho de 2018.
Ondas de calor trouxeram incêndios
florestais. Na Suécia, mais de 25 mil hectares foram
queimados, o que também atingiu Letônia, Noruega, Alemanha,
Reino Unido e Irlanda. Em Atenas, no
dia 23 de julho, o fogo se espalhou rapidamente por causa de uma fortíssima
ventania. Na Europa Central, o transporte fluvial foi
interrompido várias vezes por causa da seca, que também castigou a Austrália,
parte da Indonésia e muito severamente o Afeganistão,
Paquistão, Uruguai, Argentina. Na América
Latina houve neve fora do comum no Chile,
Bolívia, Peru e Uruguai. Uma forte
tempestade atingiu o Mar Mediterrâneo em setembro, com
proporções de ciclone tropical.
As
informações sobre os impactos negativos das mudanças climáticas estão à
disposição e podem, também, ser lidas com ceticismo quanto ao papel da
atividade humana neste processo. É por isso que, já não é de hoje, outro grupo
de cientistas se esforça para alterar a Escala do Tempo Geológico,
propondo que se entenda a era atual como Antropoceno.
Mas esta é uma história mais complexa, que será contada pelo economista José Eli da Veiga em seu novo
livro, “O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra” (Ed. 34),
sobre o qual será publicado notícias na revista on-line IHU Unissinos em breve.
*Publicação:
reportagem publicada por G1 em 04-04-2019
http://www.ihu.unisinos.br/588087-mudancas-climaticas-abalaram-a-vida-de-62-milhoes-so-no-ano-passado-diz-relatorio-da-ommPlanos
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