Coronavirus: comitê alertou
Pazuello que, sem isolamento, país vai levar até 2 anos para controlar a
pandemia
Mesmo com o aviso do comitê
técnico do Ministério da Saúde, ministro interino publicou portaria orientando
a abertura das atividades econômicas. Reunião do comitê ocorreu em maio
por redação
do G1 e Jornal Hoje – Sociedade e Luta por Liberdades Democráticas
Brasileiras
Texto mostra negação do ministro
interino Pazuello
Ministro
interino da Saúde foi alertado para a importância do isolamento social
O
ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, foi alertado por um comitê técnico da pasta
sobre os benefícios do isolamento social para reduzir o impacto da pandemia
na saúde e na economia.
O documento também dizia que, sem isolamento, o país poderia levar até dois anos anos para controlar a pandemia.
Mas, ao
contrário do alerta, Pazuello orientou a abertura das atividades, quando o país
já tinha mais de um milhão de casos.
Os
técnicos do Ministério da Saúde fizeram o aviso em maio. O alerta ao ministro
interino revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e está
registrado numa ata de reunião do Comitê de Operações de Emergência em Saúde
Pública, à qual a TV Globo também teve acesso.
A reunião
do comitê ocorreu no dia 25 de maio. O grupo, responsável pelo planejamento,
organização e controle das medidas oficiais de combate ao coronavírus, é
comandado pela Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde do ministério.
Fazem
parte do comitê integrantes do ministério, gestores locais da área de saúde
além de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O
Ministério da Saúde não forneceu a lista dos participantes desse encontro.
A reunião
ocorreu no mesmo dia em que foi publicada no '"Diário Oficial" a
exoneração do então secretário da pasta Wanderson de Oliveira.
A TV
Globo apurou que o ministro interino Eduardo Pazuello teve acesso à ata do
encontro. Ele estava há dez dias no comando da pasta quando a reunião ocorreu.
No
documento que chegou até o ministro, os técnicos afirmaram que "toda
pesquisa leva a acreditar que o distanciamento social é favorável para a
população e o retorno da economia mais rápido".
Disseram
também que "medidas sociais drásticas dão resultados positivos" e que
"sem intervenção, esgotamos UTIs, os picos vão aumentar
descontroladamente, levando insegurança à população que vai se recolher mesmo
com tudo funcionando, o que geraria um desgaste maior ou igual ao isolamento na
economia".
A reunião
do comitê concluiu que "sem isolamento, será necessário um tempo muito
grande, de um a dois anos para controlarmos a situação".
Apesar
dos alertas da equipe técnica, o Ministério da Saúde adotou orientação
contrária: não reforçou qualquer pedido para que os estados e municípios
endurecessem as regras de isolamento social da população.
Três
semanas depois dessa reunião, o ministério publicou uma portaria sobre o
retorno das atividades, enfatizando seus benefícios, e reforçou que essa
decisão cabe às autoridades locais.
O tema da
portaria são medidas de prevenção, de controle e de mitigação da transmissão da
Covid-19 para o retorno das atividades.
Ao
contrário do que foi alertado pela equipe técnica, o texto, assinado por
Pazuello diz que "retomar as atividades e o convívio social são também
fatores de promoção da saúde mental das pessoas, uma vez que o confinamento, o
medo do adoecimento e da perda de pessoas próximas, a incerteza sobre o futuro,
o desemprego e a diminuição da renda, são efeitos colaterais da pandemia pelo
sars-cov-2 e têm produzido adoecimento mental em todo o mundo".
A
portaria foi publicada em 19 de junho, mesmo dia em que o Brasil ultrapassou um
milhão de casos confirmados. Neste dia, as mortes pela Covid-19 chegaram a 49
mil.
Procurado,
o Ministério da Saúde ainda não havia se manifestado até a última atualização
desta reportagem.
O
epidemiologista Roberto Medronho, especialista em saúde pública da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, avalia que se o ministério seguir a orientação de
especialistas é possível começar a reduzir o número de mortes.
"Nós
estamos lidando com o problema mais grave dos últimos 100 anos na saúde do
país, provocando crise humanitária, no Brasil e no mundo. Nós precisamos de que
a direção central desse processo seja do Ministério da Saúde, e que seja, mais
do que nunca, sejam ouvidas as pessoas que realmente tenham experiência para o
controle e o combate da pandemia de Covid-19", afirmou o médico.
"Ainda
há tempo, podemos reduzir o número de mortes e de sofrimento, mas eu faço aqui
um apelo para que estejamos todos unidos contra este vírus. Foi assim que mundo
inteiro agiu e foi assim que em muitos lugares o êxito foi muito importante
para o enfrentamento desse grave problema", concluiu Medronho.
Publicação G1 e TV Globo: 23/07/2020
Fonte: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/07/23/comite-do-ministerio-alertou-pazuello-que-sem-isolamento-pais-poderia-levar-ate-2-anos-para-controlar-a-pandemia.ghtml
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