A Amazônia é essencial para manter a vida, a qualidade do meio ambiente,
o regime de chuvas e clima para a região Sul. E essa água que chega até aqui é
devido às árvores e à floresta em pé
por Eduardo Luís
Ruppenthal * no Sul 21 – Sociedade e Meio Ambiente: o Homem
sobreviverá a sua
própria destruição?
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
A
intenção do texto é aprofundar e
enumerar a importância da Amazônia para o equilíbrio ambiental da região Sul do Brasil. Se abordará as mudanças
climáticas e demais consequências da devastação da Amazônia, sua relação direta
com a quantidade de chuvas que caem no Sul, provenientes de massas de ar de
vapor de água e de nuvens formadas no Bioma Amazônico.
Isso se
deve a um fenômeno chamado rios voadores, que são “cursos de água atmosféricos”
que viajam centenas e milhares de quilômetros e que regam o Centro-Oeste, o
Sudeste e o Sul do Brasil, além dos países vizinhos. A Amazônia funciona como
uma bomba d`água. Toda a umidade evaporada do Oceano Atlântico segue floresta
adentro pelos ventos alíseos, é descarregada em forma chuva, que cai na
floresta, e é muita chuva, que coloca a região em uma das mais quentes e úmidas
do planeta. Com esse calor tropical, acontece a evapotranspiração nas árvores,
retornando toda essa água para a atmosfera em forma de vapor de água. Os ventos
direcionam essas massas de ar carregadas de umidade para o oeste, mas no
caminho encontram a Cordilheira dos Andes, com mais de 4.000 metros de
altitude. Uma parcela das massas de umidade precipita nas encostas da
Cordilheira, o que forma as nascentes dos rios amazônicos que abastecem vários
países e se transformam na maior bacia hidrográfica do mundo, a do Rio
Amazonas. Nos impressionamos com a imensidão, grandeza e vazão do Amazonas
(200.000 m³/s). A evapotranspiração não fica para trás. Segundo o Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a quantidade de vapor de água
evaporada pelas árvores da floresta pode ser a mesma ou até maior do que a
vazão do Amazonas.
(aumentar a imagem para ver), o caminho dos rios voadores. Fonte:
Projeto rios voadores, reprodução
Outra
parte dessas massas de ar carregadas de vapor de água são direcionadas para o
Sul, os rios voadores percorrem centenas e milhares de quilômetros, levam
umidade que se transforma em chuva para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do
Brasil, além dos países vizinhos. Vale lembrar que essas chuvas abastecem o
próprio Pantanal que, além do desmatamento e dos incêndios, atravessa estiagem
histórica.
Assim,
outras áreas abastecidas pelos rios voadores passam por estiagem em 2020: o
Paraná, onde há neste momento racionamento de água em Curitiba e região
metropolitana, e o Rio Grande do Sul, que passou por uma estiagem de mais de
seis meses no início do ano, com consequências para centenas de municípios
gaúchos.
A Amazônia
é essencial para o regime de chuvas e clima para a região Sul. E essa água que
chega até aqui é devido às árvores e à floresta em pé. As consequências já
sentidas, amplamente estudadas e descritas por vários cientistas e centros de
pesquisa (CPTEC, Inpa, Inpe, LBA e Imazon) [2], e nos cenários colocados
nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
tendem a se intensificar e aprofundar com o modelo predatório do agronegócio
brasileiro, encabeçado pelo projeto ecocida e genocida do Bolsonaro e Salles.
Faz-se necessário derrotar os capatazes, mas também esse modelo capitalista
agroexportador, que alimenta os países do capitalismo central, caso contrário
as chamas continuarão cada vez mais freqüentes e intensas, assim como a falta
de água e os períodos de estiagem no Sul do Brasil. Essas chamas não queimam
somente a floresta lá no Norte, mas a umidade, as chuvas e a água no Sul.
foto Eduardo Luís Ruppenthal * biólogo, professor da rede
pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (Uergs),
mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/Ufrgs), militante do coletivo Alicerce e
da Setorial Ecossocialista do PSOL/RS.
Notas
[1] Filme “Amazônia em chamas” de
1994 Link: https://www.youtube.com/watch?v=DI6mhtMgr_o
[2] Centro de Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos (CPTEC), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Programa
de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) e Instituto do
Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Publicado no Sul 21: 6 setembro 2020
Fonte: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2020/09/5-de-setembro-a-amazonia-e-o-sul-do-brasil-por-eduardo-luis-ruppenthal/
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