Aliás, essas Igrejas têm muito a ensinar aos católicos em matéria de 'comunhão, participação e missão'. A madame vai à missa; a faxineira dela, ao culto. E os preconceitos católicos, outrora focados nos espíritas e ateus, agora se voltam aos evangélicos, como se todos fossem fundamentalistas, fr. Betto
por Faustino Teixeira * no IHU Unissinos – Sociedade e Desvendando o Pentecostalismo
O filme "Santa Cruz", de João Moreira Sales e Marcos Sá Corrêa, abordando o nascimento e desenvolvimento de uma pequena comunidade pentecostal na periferia do Rio de Janeiro. O retrato que ele passa dos pentecostais vem tecido por um enorme respeito, no sentido de uma ressignificação do sujeito empobrecido pela experiência espiritual. Em artigo que publiquei sobre os pentecostais na Revista Concilium em 2014, caminhei nessa direção alternativa e sublinhei a importância desse filme:
“O filme quebra, assim, a
imagem de certas representações correntes sobre o pentecostalismo, apontando
caminhos novos de interpretação, favorecendo um olhar internalista e
compreensivo sobre esse complexo fenômeno. Possibilita, em verdade, um olhar
sobre o potencial da igreja em “formar comunidade moral e rede de ajuda mútua”.
Como se a experiência comunitária “preenchesse aos poucos um espaço vazio”, de
baixo potencial de dignidade. O filme busca retratar os três primeiros meses da
comunidade e as mudanças suscitadas pela nova igreja: “A integração promovida
pela igreja criou amizade entre os vizinhos, formou rede de apoio e ajuda mútua
entre iguais, valorizando e ´preenchendo` de relações positivas o bairro antes
ruim, ´terra de ninguém`, vazio civilizatório” [10].
Os dados têm-nos revelado que os evangélicos
e pentecostais constituem hoje “a religião mais negra do país”, sendo a
preferência principal a Assembleia de Deus . O autor mostra que “para muitos
negros e pardos que são encarcerados ou se tornam dependente de drogas baratas
como o crack, o pentecostalismo constitui hoje um caminho para a reintegração à
sociedade” (18). Adverte também que “para as pessoas dispostas a romper o
vínculo com o álcool, as igrejas servem como rede social alternativa aos bares
e às amizades formadas em virtude do vício” (19). O crescimento desse
cristianismo evangélico, como indica Spyer “tem
menos a ver com pastores oportunistas e carismáticos, e mais com a influência
das igrejas para melhorar as condições de vida dos mais pobres.
Em artigo do Frei Betto fez um elogio ao
livro de Juliano Spyer,
mostrando a sua importância atual. O livro também agradou muito a Lula,
que aparece em fotos na rede mostrando o livro. Falando sobre o tema Betto sublinha:
Aliás, essas Igrejas têm
muito a ensinar aos católicos em matéria de 'comunhão, participação e missão'.
A madame vai à missa; a faxineira dela, ao culto. E os preconceitos católicos,
outrora focados nos espíritas e ateus, agora se voltam aos evangélicos, como se
todos fossem fundamentalistas. Recomendo, como excelente antídoto ao
preconceito, o livro de Juliano Spyer, 'Povo de Deus – quem são os evangélicos
e por que eles importam' (SP, Geração, 2020) [17].
[10] Faustino Teixeira. O Deus da
prosperidade: desconstruindo imagens. Concilium, n. 3, 2014
(Cristianism:o, consumismo e mercado). Ver também: Cláudio Mesquita. Santa Cruz, de João Moreira
Sales e Marcos Sá Corrêa. O mundo preenchido.
Sexta Feira, n. 8, 2006, p. 178.
[17] Frei Betto: Tem futuro a Igreja
Católica?, acesso em 21/11/2021. Também o artigo de Samuel Pessôa, na Folha de
São Paulo, elogiando o mesmo livro: Povo de Deus. Folha de São Paulo, 20 de
novembro de 202, acesso em 21/11/2021.
* Faustino
Teixeira - teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.
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