Ah, me lembrei daquela palavra feia que os adultos falam e eu não gosto: zumbi. Dá impressão que estamos nos tornando pessoas supérfluas na tecnologia digital. Sim, parece que é isso mesmo. Imagino que, até parece que estamos nos afogando num remanso de emoções...
por Carla Coelho no Mangue do Cachoeira – Sociedade e Redes Sociais Também Fazem Adolescentes Sofrerem
Aqui na face da paccha mama (terra), levamos a vidinha sem preciosismos, que ganhamos com alegria da natureza. Hoje, depois de algumas vezes pensar sobre escrever uma cartinha, tive coragem, fui para frente do note, e mandei ver. Mas, nos embalos do dia-a-dia, vamos nos transformando aos pouquinhos em adultos, algumas vezes sendo ainda adolescentes, outras vezes assumindo um jeitinho de adultos, com um pouquinho de vergonha, ora bolas, ninguém vai ficar para sempre adolescente.
A rede social é um atrativo que não consigo resistir. A qualquer momento gosto de navegar, dando uma espiadinha o que as amigas e amigos estão postando lá. É divertido ver as youtubers, curtir um pouquinho de música e ver coisinhas engraçadas. Ah, também trocar um papinho legal, vale a pena e é bom. Mas, pensando um pouquinho, parece que as emoções se escondem atrás das telinhas do celular. Até parece que a gente não gosta de demonstrar qualquer emoção ali, parecer ficar fragilizada ou ser meio chorona, nem pensar...
Mas, se pensar nisso, esses sentimentos e outros que jamais vou mostrar ali, acho que a gente fica meio digitalizada. O que é isso será, vi a minha amiga falando na telinha e ela não consegue falar aquelas coisinhas intimas que tanto gostamos de falar, quando nos encontramos de vez em quando na escola. Será que eu sou assim também...
Ah, outro dia a professora estava explicando sobre como a vida ficou líquida. Ela então pediu para nós falarmos o que cada um estava pensando sobre isso. Foi um pouquinho difícil pensar sobre isso, mas como a professora ia dando alguns toquinhos, algumas dicas, então alguém estava num dia inspirada e falou que só deixamos fluir nos nossos rápidos papinhos, que deixamos fluir só o que conseguimos entender no mais supérfluo de cada uma. Puxa, nunca tinha pensado sobre isso, e não é que, parece ser assim mesmo.
Agora estou inspirada. Nas telinhas da vida, cada um de nós acaba afogando suas lembranças, as alegrias que rondam num momento de felicidade, as ideias mais legais daquele momento. E o pensamento fica meio escondido, sem que consigamos colocar para fora. Será que alguém consegue imaginar que podemos escutar, ouvir ou mesmo sentir? Nossa! Que é possível pensar um pouquinho mais com as emoções, com mais sentimento, qualquer alegria, assim como as tristezas ou mesmo no dia-a-dia que vamos vivendo essas sensações? Parece que não estou acreditando...
Ah, me lembrei daquela palavra feia que os adultos falam e eu não gosto: zumbi. Dá impressão que estamos nos tornando pessoas supérfluas na tecnologia digital. Sim, parece que é isso mesmo. Imagino que, até parece que estamos nos afogando num remanso de emoções. Submergidas e naufragadas! Acho que igualzinho o que a professora falou de relações liquidas, que vão escorrendo. Dá impressão que não temos vontade ou força para furarmos a bolha, não conseguimos colocar os sentimentos, impressões, alegrias ou mágoas para fora, quando estamos com outras pessoas, ainda mais em frente à telinha. É isso mesmo, o zumbisismo está aumentando entre nós.
Deixa eu pensar: quando foi a última vez que, sem querer querendo, consegui olhar para dentro de mim mesmo e perceber como expressei sentimentos mais íntimos, aqueles que saem lá do fundinho da alma. Não consigo lembrar, que chato.
Ah, acho que não consegui botar para fora aquele sentimento. Que coisa esquisita. Agora começo a imaginar, que vivemos de uma forma que não entendemos que isso está acontecendo comigo agora! Por que não consigo falar aquilo que está lá dentro de mim, trancado. Até parece que só estou conseguindo viver o supérfluo, aquilo que é o mínimo para sobreviver. Como estou conseguindo me afogar nesse momento tão importante para mim ?
Vou falar com a minha gatinha, acho que ela vai me entender. Mas acho melhor falar com a minha amiga, ela não vai ligar para esses meus sentimentos esquisitos, e acho que vai me aceitar. Legal, vou fazer isso mesmo... Tchauzinho... Bie, Bie...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog