“...a sentença moral será profundamente condenatória às decisões e às ações dos Estados Unidos e de Israel acerca do que fizeram, estão fazendo e farão em Gaza de modo particular e com os palestinos em geral”, Aldo Fornazieri
por Aldo
Fornazieri* no GGN – Sociedade e EUA e Israel não são e não sabem
o que é um ser humano
Quando a
tempestade de bombas cessar, quando o rugido de morte dos tanques e canhões se
aquietar, quando os prédios deixarem de queimar e de ruir, sobrará uma coisa.
Quando as valas comuns de mulheres e crianças não forem mais visíveis, quando
não existir mais terror nos olhos das meninas e dos meninos, quando o choro e
os lamentos não forem mais ouvidos, quando os gemidos de dor se apagarem,
sobrará uma coisa. Quando os generais tiverem sua sede de sangue saciada,
quando as análises do realismo político e militar se apagarem na palidez dos
tempos, quando a falha justiça dos homens estiver morta, quando Biden,
Netanyahu, seus ministros e estrategistas virarem pó, sobrará uma coisa.
Sobrará o
implacável juízo da História. Claro, a história pode ser escrita e reescrita,
pode ser contada de várias maneiras, mas o seu juízo sempre tem um sentido
universal. E no sentido universal deste juízo sobressai a sentença moral, pois
é a perspectiva da humanidade, de sua construção e de sua opção que estará em
jogo. Esta sentença moral será
profundamente condenatória às decisões e às ações dos Estados Unidos e de
Israel acerca do que fizeram, estão fazendo e farão em Gaza de modo particular
e com os palestinos em geral.
Se
olharmos para as sentenças morais da história de todos os tempos, não resta
duvida de que o tirano, o dominador, o explorador, o exterminador, o genocida
será condenado. Os oprimidos, os explorados, os humilhados, os espezinhados, os
massacrados serão louvados, porque são as vítimas. A compaixão humana sempre
triunfa sobre a impiedade, embora as vítimas quase nunca triunfem sobre a
crueldade dos tiranos criminosos.
A
história condenará Estados Unidos e Israel e seus atuais governantes e renderá
suas homenagens aos palestinos. Não ao Hamas, mas ao povo palestino. É o povo
palestino que está sofrendo as piores aflições. O Deus de Moisés mandou que
este voltasse para o Egito, libertasse os hebreus, pois eles estavam sofrendo
terríveis aflições. Os palestinos de hoje são os hebreus antigos. Esperam um
líder, um enviado de Deus, para que os liberte da tirania dos “faraós” de Tel
Aviv e de Washington.
Ao voltar
de Israel, onde foi dar apoio a Netanyahu para continuar a matança em Gaza,
Biden pretendeu buscar legitimidade nos discursos fundacionais de John
Winthrop. Trata-se de uma farsa: Os Estados Unidos não são mais uma cidade no
alto da colina a espargir a luz da razão e da liberdade no mundo como uma
lamparina. Despois da Segunda Guerra, os Estados Unidos começaram a pairar
sobre o mundo como uma nuvem escura, ameaçadora da liberdade e da
autodeterminação dos povos.
Agrediram
o Vietnã, incendiaram inocentes, semearam fogo, mentiram para destruir o
Iraque, invadiram o Afeganistão, derrubaram governos democráticos e apoiaram
ditaduras. Nessas guerras todas, os Estados Unidos já foram sentenciados e
condenados pela história. Além disso, foram derrotados e voltaram para casa com
os ombros cobertos de vergonha. Não aprenderam essas lições da história e agora
são o escudo da brutalidade praticada por Israel em Gaza.
Desde a
criação do Estado de Israel, são o escudo para que Israel desobedeça as
resoluções da ONU, viole as balizas originais das destinações de territórios.
São o escudo para que os judeus ortodoxos roubem as terras dos palestinos,
cometam massacres e deslocamentos desses deserdados da terra.
O
conceito de “dois Estados” é uma mentira que vem sendo propagada há mais de 50
anos. Os judeus têm seu Estado e isto é correto. Mas por que, até hoje, os
palestinos não têm o seu? Porque Israel e os Estados Unidos não querem.
Biden
comparou o Hamas a Putin. Deveria ter comparado os Estados Unidos com a Rússia
e Putin com Netanyahu. A guerra de Gaza não é uma guerra da barbárie contra a
democracia. É uma guerra por terra e liberdade contra grileiros e opressores.
O secretário
geral da ONU, António Guterres tem razão: o terrorismo do Hamas é
injustificável, mas ele não vem do vácuo. A opressão imposta aos palestinos por
Israel e os Estados Unidos é a causa dessa violência. Os palestinos, há mais de
50 anos, têm suas casas invadidas, suas terras roubadas, suas fontes tomadas.
Não podem cultivar seus campos, colher os frutos de suas oliveiras, videiras e
romãzeiras. Não podem ter paz, não podem sonhar com a paz, não podem criar seus
filhos em paz, não podem sonhar com um futuro esperançoso. É neste terreno de
sofrimentos e humilhações que germina o terrorismo.
É certo
que as queixas do povo palestino não justificam a violência do Hamas. Mas
também é certo que o terror do Hamas não justifica o terrorismo de Estado
praticado por Israel contra a população civil de Gaza. Nem o discurso do
extermino do Hamas pode encobrir o massacre dos palestinos. O holocausto
ensejou a criação do Estado de Israel. Mas o holocausto não legitima a história
de violência que o Estado de Israel desenvolve contra os palestinos. No fundo,
Netanyahu e seus ministros radicais querem exterminar os palestinos. Já
vocalizaram esta intenção várias vezes.
A
destruição de hospitais, mesquitas, escolas, edifícios, bairros e cidades em
Gaza precisa parar. Gaza já é um campo de concentração a céu aberto. Agora, os
bombardeios impiedosos, estão transformando Gaza num grande cemitério a céu
aberto. São milhões de pessoas sem comida, sem água, sem remédios.
Não
podemos ficar indiferentes com o que está acontecendo em Gaza. Precisamos nos
indignar e agir. Milhares de pessoas estão se manifestando pelo mundo em favor
dos palestinos. O senso moral dessas pessoas e sua compaixão diante do
sofrimento, dor e morte, mobilizam essas pessoas nas ruas. Querem o fim da
matança e querem uma solução definitiva para a causa dos palestinos.
Só
existem três medidas justas, neste momento, em relação à guerra em Gaza: a
suspensão da matança, ajuda humanitária aos palestinos e a libertação dos
reféns do Hamas. O resto vem depois. São medidas urgentes, desesperadas,
capazes de impedir milhares de mortes. Mas Israel e os Estados Unidos não
querem estas medidas. Sem escrúpulos morais, desprovidos de valores humanistas,
a história os condenará.
Publicado no GGN: 25 de outubro de 2023
Fonte: https://jornalggn.com.br/oriente-medio/gaza-e-a-falencia-moral-dos-eua-e-de-israel-por-aldo-fornazieri/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog