Ministro da Defesa brasileiro cobra caro para salvar crianças e mães ianomâmis: 'Os ianomâmis morrem por ausência de uma política de defesa, função da pasta do ministro José Múcio. Quem os defenderá no Governo Federal ou na sociedade brasileira ?', questiona Denise Assis
por Denise Assis no Brasil 24/7 – Sociedade e Maioria das/os Brasileiras/os Estão de Costas para as/os Humildes
Escárnio. Vergonha. Faltam substantivos e sobrariam adjetivos pouco airosos, não fosse esse um espaço sério e respeitoso.
Endurecidos pela
avareza (dureza de coração), acostumados que foram com os cifrões que se
esparramaram no governo federal passado para dentro de suas carteiras, os
militares não se comoveram diante das imagens que percorreram o mundo todo, de
mães indígenas mal podendo sustentar nos corpos franzinos seus curumins
dependurados nos seios magros. Único alimento possível para não deixar morrer
as suas crias, elas davam as últimas gotas de si mesmas e muitas vezes morreram.
A salvação? Não
vinha. Foi interrompida porque deixaram de entrar nos cofres do ministério da
Defesa, R$ 993 mil por dia. Isto mesmo. Ou o governo do recém-empossado
presidente Luiz Inácio Lula da Silva pagava essa “mesada” diária para a pasta
do ministro José Múcio, ou o povo da aldeia morria à míngua, sob as lentes
curiosas de uma mídia que chegou lá acompanhando a caravana liderada por Lula e
seus ministros das áreas que poderiam impedir a matança.
A denúncia foi
estampada na Folha de 24/01/2024, em matéria assinada pelo repórter João
Gabriel, que escreveu: “Responsáveis pela logística da operação na Terra
Indígena Yanomami, as Forças Armadas pediram R$ 993 mil por dia para manter o
apoio às ações de desintrusão (expulsão de invasores) ao garimpo ilegal. Mesmo assim, os militares
teriam capacidade de entregar menos da metade das cestas básicas necessárias”.
Por quê? Me digam,
por quê? O que impedia esses senhores de realizar um trabalho pelo qual, como é
dito, “são responsáveis” e é de sua responsabilidade? E se assim não fosse, por
piedade, espírito de solidariedade, amor ao próximo, amor à vida... Não lhes
tocou as imagens das crianças cambaleantes pela fome, não os comoveu a luta
daquelas mães pela sobrevivência dos seus filhos. Um não decisivo, foi o que
emitiram. Ou paga ou não tem, determinaram, numa sentença absoluta, definitiva,
sem negociação.
No texto, o
jornalista prossegue, com a isenção e o distanciamento que o padrão Folha
exige: “O valor foi calculado pelo Ministério da Defesa em nota técnica obtida
pela Folha. A demanda foi enviada para a Casa Civil. Recentemente, o governo
anunciou mais R$ 1,2 bilhão para a missão.”
Não! Não foi o
ministério quem emitiu a nota técnica. Ministério é uma instituição. Não pensa,
não julga, não avalia, não vê, não sente, enfim, é fechado na bolha do seu
gabinete ministerial. Alguém mandou. E não venham me dizer que estavam “apenas
cumprindo ordem”, no melhor estilo Karl Adolf Eichmann (nazista). Não banalizem
o mal! Já chega o que estamos assistindo no Oriente Médio com o povo palestino.
De novo não aqui!
“O documento, de
setembro de 2023, diz que a verba para assistência humanitária e expulsão de
garimpeiros teria acabado e que seria necessário um novo aporte financeiro. O
pedido foi feito cerca de um mês após o governo liberar R$ 275 milhões em
créditos extraordinários destinados a essa finalidade.”
Sabem o que isto
significa? Fazer o governo recém-empossado de refém. Chantagear para obter
vantagem. Tutelar, manter sob jugo. Emparedar... Até quando? Me digam, até quando? E por que
prosseguimos como se nada estivesse acontecendo? Por que aceitamos, num governo
que fala em cuidar e acolher?
"“Com a
extinção dos recursos orçamentários, a manutenção das operações nos níveis
citados implica a necessidade de aporte de valores na dimensão mencionada”, diz
o documento.” É insuportável, é acintoso, ler essa linguagem técnica, quando as
imagens dos corpos esquálidos, pele e osso (estou me repetindo, mas é preciso),
me vêm à mente.
O que é, por
diabos, essa burocracia fria, diante de um povo – sim, o nosso povo -, se
apagando sob o céu de uma terra exuberante, que nos foi dada para preservar e
proteger? Com que cara vamos dizer ao mundo que os nossos povos originários
morreram como moscas, em série, por falta de comida que os militares não querem
trabalhar ?
Gastamos espaços
justos e generosos, horrorizados com as mortes dantescas em Gaza (protrocinado
pelos EUA e executada pela elite israelense), enquanto a nossa tragédia está
ali, ao alcance de aviões da FAB, que como prostitutas (que me desculpem as
prostitutas) só vão lá “se pagarem” ... Envergonhem-se, burocratas! E burocratas
aqui é, sim, um xingamento!
Foi nisto que vocês
transformaram o termo, quando emitiram nota/chantagem, sem avaliar as perdas de
vidas “des-importantes”, porque estão fora do alcance das vistas do resto do
país. São seres exóticos, que não vestem grifes, não comem com talheres, não
frequentam...
Esses burocratas
arquivaram na “nuvem digital” o NÃO ao socorro, à preservação, como arquivaram
a sensibilidade, a consciência, a cidadania... (Como tem a coragem de
considerarem-se seres humanos?)
Do que adianta
frequentar fóruns internacionais, propalando preocupações com o fim da fome,
quando ela está sendo ignorada nos cafundós de um Brasil que já não grita, que
já não protesta, porque não tem forças. Um Brasil cambaleante, corrompido, des-naturado
(arrancado a força de sua natureza), que larga os seus militares à soldo de R$
993 mil/dia?
É esse o preço das
vidas dos nossos indígenas. É pegar ou largar. E é melhor que larguem, porque
se largarem, sob os seus pés o ouro faísca, os diamantes iluminam as trilhas na
selva, e os convida a ignorar invasores vorazes por minerais e corpos, canibais
de sua gente (e ainda se diz que indígenas são canibais).
“Questionado sobre
o custo e a necessidade de verba pouco tempo após a liberação de crédito extraordinário,
o Ministério da Defesa disse que o montante já havia sido gasto, usado para
distribuir 766 toneladas de alimentos, 36,6 mil cestas básicas, 3.029
atendimentos médicos, detenção de 165 suspeitos e horas voo suficientes para
dar 40 voltas na terra”.
Não! Novamente eu
digo: não foi a Defesa! Foi o ministro da Defesa! Ele tem nome, CPF, crachá, só
não tem consciência. Esta, ele deixou trancada em um escaninho qualquer do seu
gabinete, onde faz contas mesquinhas.
"De acordo com
a referida nota técnica, o Ministério da Defesa apontou a necessidade de
complemento de recursos financeiros para a manutenção das operações na TI
(terra indígena) Yanomami ao constatar a insuficiência orçamentária",
afirmou a pasta.
"No momento,
os Ministérios da Defesa e da Justiça estão com a operação em campo, seguindo
as orientações do presidente [Lula], para o combate ao garimpo ilegal",
disse por sua vez a Casa Civil. “A reportagem também questionou o Ministério do
Planejamento e a SRI (Secretaria de Relações Institucionais), mas não obteve
resposta”.
Exigimos resposta a
esse drama. Exigimos o mínimo de humanidade. Exigimos decência.
E, como num epílogo
de uma ficção pesada, o texto alerta: “Por fim, Como mostrou a Folha, a omissão
e até suspeita de boicote das Forças Armadas na atuação no território Yanomami
é vista como um fator determinante para a explosão do garimpo ilegal na região
durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). (...) Relatórios da
Funai do governo Bolsonaro registraram que integrantes recebiam propina de
garimpeiros e vazavam informações sobre operações de repressão ao crime.”
O governo mudou.
Alguém precisa avisar ao ministro José Múcio e alta cúpula das forças armadas,
que enquanto eles se banqueteiam pelos quartéis, os ianomâmis morrem sub-nutridos,
por terem as suas terras invadidas e as suas águas envenenadas. Falta a eles, o
que sobra à mesa dos oficiais, que degustam camarões VG e uísque 12 anos com
dinheiro público (da população brasileira). Os ianomâmis morrem por ausência
completa de uma política de defesa, função da pasta do ministro José Múcio.
Quem os defenderá?
Publicado no Brasil 24/7: 24 de janeiro de 2024
Fonte: https://www.brasil247.com/blog/ministro-da-defesa-cobra-caro-para-salvar-vidas-ianomamis
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