Só assim os brados de soberania farão sentido. E só então poderemos comemorar de forma plena nossa independência
por Jamil Chade no Uol – Sociedade e A Verdadeira Soberania Popular
Imagem na internet
Confrontado por um ataque deliberado por parte do governo dos EUA, ou seja, pela extrema direita internacional, pelas big techs (Google, WhatsApp, Meta, Apple, Instagran, Microsoft, Amazon, Tweet) e por traidores criados em nossas entranhas (Jair Bolsonaro, Hugo Motta, Eduardo Bolsonaro, Sergio Moro, Tarcísio Freitas entre outros) o Brasil está diante de um desafio histórico. A encruzilhada no conceito de soberania está dada.
Na busca por restabelecer sua hegemonia, o presidente dos EUA atropela o direito internacional, as regras comerciais e pilares da ordem mundial que construíram os últimos 200 anos. Não atuará pelas regras da diplomacia.
De outro lado, a China anuncia, com pompas e um desfile militar sem precedentes, que não está disposta a ceder. Pequim quer que este seja o seu século (e surja com um novo imperialismo).
Neste contexto, a pergunta que deve percorrer todos os ministérios, entidades empresariais, ativistas e acadêmicos é uma só: quem seremos neste novo mundo?
Diante do espelho, a pergunta é tão simples quanto desconcertante: temos um projeto de país?
Quando os ataques ocorreram, descobrimos sem surpresa que os problemas que enfrentaríamos nas exportações estavam relacionados, em grande parte, ao setor primário ou de baixo valor agregado (commodities). Fundamentais? Sem dúvida. Mas incapazes de garantir a inserção internacional do Brasil numa condição de força. Insuficiente para designar o país como uma peça crítica na revolução tecnológica.
Diante dos ataques de Trump, os americanos terão de pagar mais pelo café ou suco de laranja? Provável. Mas não será por conta de uma crise diplomática com o Brasil que faltarão os últimos modelos de celulares, laptops ou máquinas de tecnologia. Um sintoma de quem somos no mundo.
É esse o papel internacional que queremos ter?
Soberania, bradada a partir de palanques, é necessária. Mas insuficiente.
Não falo aqui dos "patriotas" que se submetem à subserviência de uma potência estrangeira. Daqueles que clamam de forma tão obscena por uma intervenção americana, em cenas que mais se parecem com chanchadas das piores qualidades.
Minhas preocupações são estruturais. Que soberania é essa que, em cada aldeia indígena, conta com uma antena da empresa de Elon Musk?
Onde estão armazenados os dados de servidores do Estado brasileiro?
Onde estamos no desenvolvimento da inteligência artificial, a nova energia nuclear no mundo?
Que soberania é essa que, no setor farmacêutico, pena para garantir autonomia do abastecimento de remédios e convive com um déficit bilionário?
Que soberania é essa que depende da moeda nacional de um outro país?
Se o nacionalismo não é a resposta, se o isolacionismo apenas aprofunda a ineficiência de um sistema, se o protecionismo apenas transfere ao consumidor a conta, o abalo sísmico causado por Trump exige que o Brasil elabore um plano estratégico.
Ela terá de passar por dois eixos:
O primeiro é uma inserção internacional independente, inteligente, capaz de catapultar a economia nacional, de fazer a transição energética e posicionar o país na disputa pelas novas tecnologias.
A segunda é a radicalização da democracia como instrumento para, finalmente, superar a desigualdade (será que a geração Z ajudara o Brasil nesta direção).
Radicalização pode soar como algo assustador
Mas ela é simplesmente a promoção de um aumento sem precedentes do orçamento para saúde, educação, saneamento, segurança, direitos fundamentais. Essa é a radicalização: garantir que os mais pobres estejam no orçamento e que os ricos estejam em seu financiamento.
O historiador Luiz Antonio Simas é contundente quando insiste que o Brasil é um "projeto bem-sucedido de país". Mas pondera: "Um projeto colonial, fundado na ideia de exploração da terra, na exploração dos corpos, no genocídio do indígena, na escravização do negro".
Ele tem razão. O projeto de país sempre existiu. O que precisamos agora é desfazê-lo, garantir que ele dê errado.
Só assim os brados de soberania farão sentido. E só então poderemos comemorar de forma plena nossa independência.
Publicado no Uol: 07/09/2025
Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/09/07/trump-coloca-soberania-brasileira-em-encruzilhada-temos-projeto-de-pais.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog