- O projeto Vamos Juntas?, criado por Bárbara Souza Santos, incentiva mulheres a se unirem para escapar de atos de violência
do site Brasiliana, por Rodrigo Casarin para revista Carta Capital - Sociedade e Defesa Contra Violência à Mulher (fonte no final)
Thaís Pedrozzi, Priscila Neiwert, Babi Souza, Patrícia Nunes e Dominique Bittencourt atravessam juntas a Praça D. Feliciano
Um dia notou que outras mulheres faziam o mesmo trajeto e transpareciam o mesmo medo. Não era o temor da violência urbana
por si só, mas o que resulta de uma sociedade incapaz de entender que o
corpo da mulher pertence somente a ela. A observação não lhe saiu do
pensamento e prestes a chegar em casa veio o lampejo, por que aquelas
mulheres não se uniam para atravessar a praça juntas?
Bárbara, a Babi, andava desapontada com o rumo de sua
carreira jornalística. Tinha cansado de trabalhar em veículos
tradicionais e a vida em agência de comunicação não lhe rendia o tempo
livre almejado. Além disso, começou a ficar incomodada por ter de
produzir textos para uma grande marca de produtos de beleza em cujo
conteúdo não acreditava. “A mensagem era de que para poder se sentir
lindas as mulheres tinham de comprar aqueles produtos.”
Entrou em crise. Pensou
em como a Babi de 13 anos enxergaria a jovem hoje com 25 e concluiu que
a adolescente ficaria indignada. Ao se perguntar onde gostaria de
trabalhar não achou resposta. Começou então a pesquisar sobre atividades
relacionadas a empreendedorismo social.
A desilusão e a pesquisa juntaram-se ao
sentimento de medo de outrora e à ideia que tivera. Nascia ali o Vamos
Juntas?, projeto que incentiva mulheres a oferecer companhia e apoio a
colegas em situações semelhantes àquela que Babi vivera.
“Minha reação foi de incredulidade”, comenta Babi sobre a
adesão instantânea de milhares de pessoas à iniciativa. “Minha vida
mudou. A imprensa me procurava e eu dava mais entrevistas do que
trabalhava. Fiquei uns três meses sem acreditar no que estava
acontecendo.” Foi então que pediu demissão para focar de vez no projeto,
algo que considerava muito significativo.
Passou a dar palestras sobre empoderamento e sororidade e, em março deste ano, transformou o projeto no livro Vamos Juntas? O Guia da Sororidade para Todas
e hoje desenvolve um aplicativo no qual mulheres podem combinar formas
de se ajudar. Babi conta que recebe mais de cem mensagens diárias, boa
parte relatos de abusos ou situações de risco. Ela também criou a Bertha
Comunicação, agência focada em empresas capitaneadas por mulheres
empreendedoras. “As clientes me procuram porque confiam em mim.”
Voltando ao Vamos Juntas?, uma pesquisa
recente feita por uma estudante do MBA de Mídias Digitais da Faculdade
Estácio, no Recife, ouviu 8.141 seguidoras da página e constatou que
76,1% das entrevistadas afirmaram sentir-se mais seguras ao transitar
pelas ruas graças à iniciativa de Babi. Ela vê o movimento como uma
manifestação do feminismo aplicada ao dia a dia.
“Por causa do Vamos Juntas? muitas
mulheres hoje sabem que não são culpadas pelo assédio. Recebo diversas
mensagens de gente dizendo que antes não tinha contato com o debate
sobre esse tipo de assunto. Então, ele trouxe uma vertente do feminismo
muito simples, fácil de entender, tanto que há seguidoras que não sabem
que se trata de um movimento feminista.”
Claro que em um mundo ideal as mulheres não sofreriam
assédio e movimentos como o Vamos Juntas? não precisariam existir. Mas,
enquanto a sociedade não atinge tal patamar, a iniciativa se justifica,
avalia a jornalista, principalmente porque divulga informações que
ajudam as mulheres a se empoderar e a reagir a possíveis investidas,
além de mostrar o quão execráveis os homens podem ser em muitas
situações.
“Já recebi mensagens de jovens dizendo ignorar até então
ser tão complicado ser mulher e só perceber isso depois de conhecer o
Vamos Juntas? São relatos do tipo ‘juro que não sabia que era tão
horrível chamar uma mulher de gostosa na rua’ ou que o tema deveria até
se tornar disciplina escolar, porque ele queria saber desse ‘outro lado’
antes de se tornar machista. Por isso acho que as histórias acabam por
ter esse papel de educação e conscientização.”
*Reportagem publicada originalmente na edição 914 de CartaCapital, com o título "Um pacto feminino".
http://www.cartacapital.com.br/revista/914/vamos-juntas-um-pacto-feminino
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