O marqueteiro de Temer afirmou ter sido contratado
pela JBS para derrubar Dilma
O dono da JBS garante que a propina foi paga em espécie para
Elsinho(marqueteiro) a pedido de Temer
por João Filho para The Intercept_Brasil - Sociedade e Jogo PolÃtico Sujo no Brasil
O julgamento da
chapa Dilma/Temer no TSE talvez represente o auge da esquizofrenia da qual
padece a polÃtica brasileira. A ação foi movida por Aécio Neves para, segundo o
próprio, apenas “encher o saco do PT”. As acusações que
fundamentaram o processo do tucano são exatamente as mesmas pelas quais sua
chapa é acusada: abuso de poder polÃtico e econômico, recebimento de propina e
beneficiamento do esquema de corrupção na Petrobras. Hoje no governo, Aécio e
sua turma torcem para perder a ação que moveram. Portanto, o mais importante
processo da história da Justiça Eleitoral nada mais é do que uma retumbante
farsa.
Enquanto os olhos
do paÃs estão voltadas para a patacoada, uma notÃcia fundamental para
compreender um pouco os fatos que nos trouxeram até aqui ficou ao relento na
grande imprensa brasileira: o marqueteiro de Temer afirmou ter sido contratado
pela JBS para derrubar Dilma.
Antes, vamos
contextualizar os acontecimentos. Joesley da JBS havia revelado em sua delação
que Temer pediu uma propina de R$300 mil. À
época, o processo de impeachment ainda estava em curso e, estranhamente, Temer
precisava do dinheiro para despesas de marketing polÃtico pela internet.
Segundo Joesley, o então vice-presidente queria se defender dos duros ataques
que vinha recebendo nas redes.
Temer teria
orientado que o dinheiro fosse pago para o publicitário Elsinho Mouco – seu marqueteiro
oficial há 15 anos e que hoje exerce papel importante no governo. É ele quem
escreve os discursos de Temer e ajudou a redigir o famigerado programa Ponte
para o Futuro.
Bom, no último
domingo (4 de junho), Elsinho contou ao jornal Estadão a sua versão, que é um pouco diferente do
que ele havia dado em uma nota à imprensa divulgada após a
publicação da delação de Joesley. Segundo o publicitário, o dono da JBS o
convidou para um jantar nababesco em seu palacete no Jardim Europa em São
Paulo. Regados a “whisky 18 anos” e “camarões gigantes”, Joesley revelou que
queria financiar um serviço de monitoramento de redes sociais que ajudaria a
derrubar Dilma:
“O empresário
perguntou então quanto custaria o serviço, que a princÃpio seria pago pelo PMDB
nacional. “R$ 300 mil”, respondeu Elsinho de pronto. “Eu pago isso. Vamos
derrubar essa mulher”, teria dito Joesley.”
O dinheiro dado ao
marqueteiro de Temer teria sido usado para “monitorar digitalmente movimentos
pró-impeachment, o PMDB e a Fundação Ulysses Guimarães”.
Portanto, temos
duas versões. O dono da JBS garante que a propina foi paga em espécie para
Elsinho a pedido de Temer. Já o publicitário afirma que foi Joesley quem o
procurou espontaneamente para contratar seus serviços, sem propina e sem
envolvimento de Temer.
Um dos dois está
mentindo. A versão de Elsinho é estranha,parece querer poupar seu chefe. É
difÃcil imaginar que o publicitário tenha feito o orçamento do serviço ali na
hora, no meio do jantar. Segundo o publicitário, o dono da JBS chamou um
mordomo e ordenou: “Pega lá R$ 300 mil e entrega para o Elsinho”. Nessa versão
capenga, o publicitário teria ido apenas visitar um cliente em potencial, fez o
orçamento e imediatamente recebeu o valor integral em dinheiro vivo antes mesmo
de prestar o serviço. Elsinho, cujo irmão acaba de ganhar uma concorrência de R$ 208 milhões
para a publicidade do Palácio do Planalto, teria muito a perder se confirmasse
a história do dono da JBS.
A versão de
Joesley me parece mais verossÃmil: Temer pediu para entregar a propina para seu
marqueteiro, que foi até a casa do empresário e saiu com o valor que havia sido
previamente combinado entre os patrões. A dúvida fica por conta da finalidade
da propina. R$300 mil para defender Temer de ataques da internet às vésperas da
votação do impeachment? Ou seria mesmo para derrubar Dilma?
Apesar da
relevância da informação dada pelo marqueteiro de Temer, o Estadão não deu
chamada de capa, a Folha não repercutiu, e nem preciso falar sobre o Grupo
Globo. Não parece ser do interesse do braço midiático revelar os detalhes do
funcionamento do braço financiador do golpe parlamentar.
O fator Kátia
Abreu
Maior doadora da
campanha de Dilma, a JBS havia entrado em conflito com a presidenta antes mesmo
do inÃcio do seu segundo mandato. A indicação de Kátia Abreu para o ministério
da Agricultura não incomodou apenas petistas, ambientalistas e movimentos
sociais, mas também a JBS e até o PMDB – partido
que recém abrigava a senadora à época. O grupo empresarial de Joesley sempre
foi alvo de durÃssimas crÃticas de Kátia Abreu. Este trecho de reportagem da Folha de 2014 revela o
tamanho da briga:
“Em discurso na
tribuna do Senado, em 2013, Kátia Abreu criticou uma suposta prática
monopolista e marketing enganoso’ por parte do grupo JBS, que cresceu no
mercado adquirindo outros empreendimentos menores.
No centro do ataque estava um polêmico financiamento de R$ 7 bilhões do BNDES à JBS-Friboi que, segundo Kátia Abreu, poderia ter sido usado para ajudar pequenas e médias empresas em dificuldade.”
No centro do ataque estava um polêmico financiamento de R$ 7 bilhões do BNDES à JBS-Friboi que, segundo Kátia Abreu, poderia ter sido usado para ajudar pequenas e médias empresas em dificuldade.”
Irritado com a
notÃcia de que Kátia provavelmente seria a nova ministra, o falastrão Joesley
foi procurar quem para reclamar? O seu amigo Michel Temer, claro. Não
satisfeito, foi se lamentar também com Aloizio Mercadante (PT), então chefe da
Casa Civil, que o recebeu em uma conversa reservada, fora da agenda oficial.
Ainda segundo a Folha, Dilma foi aconselhada a conversar com Joesley e tentar contornar
sua insatisfação, o que teria ocorrido em um encontro sigiloso.
Todo esse lobby
contra Kátia Abreu não deu certo e a ex-presidente bancou sua nomeação,
contrariando seu próprio partido, seu principal aliado polÃtico (PMDB) e a JBS.
Naquele momento se iniciava um conflito entre Dilma, o PMDB e o principal
financiador de campanhas polÃticas no Brasil.
Joesley revelou em delação
que deu R$30 milhões para Cunha, que teriam sido usados para bancar sua
campanha à presidência da Câmara, em 2015. “Cunha saiu comprando
deputado, saiu comprando um monte de deputados Brasil a fora. Para isso que
serviam os R$ 30 milhões”, afirmou Joesley à PGR. Ou seja, a JBS também
patrocinou a eleição de Cunha, o inimigo número um de Dilma, o homem que
lideraria um golpe parlamentar para derrubá-la.
Vamos ligando os
pontos. Não podemos esquecer também dos R$ 4 milhões em propinas da Odebrecht que
Lucio Funaro (doleiro, lobista e operador das propinas de Cunha) enviou
para Eliseu Padilha através de José Yunes (ex-assessor especial do governo
Temer e amigo do presidente há mais de 50 anos). Na ocasião, o amigo de Temer
ouviu do doleiro qual era a finalidade do dinheiro: “A gente está fazendo
uma bancada de 140 deputados, para o Cunha ser presidente da Câmara”. Segundo
Yunes, Temer não pode dizer que não sabia de nada: “Contei tudo ao presidente
em 2014. O meu amigo (Temer) sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o
Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre (risos).”
Portanto, como se
não bastassem as confissões públicas de que as pedaladas fiscais não foram o motivo que
levaram à queda de Dilma, agora ainda temos fortes indÃcios de que a
eleição de Cunha e o processo de impeachment foram financiados com dinheiro de
propina de grandes empresas e teve envolvimento direto de Michel Temer.
Contatos com João Filho:
joao.filho@theintercept.com@jornalismowando
https://theintercept.com/2017/06/11/a-jbs-patrocinou-impeachment-de-dilma/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será analisado para eventual publicação no blog